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Hapvida (HAPV3) e NotreDame (GNDI3) sobem com possível postura mais dura do Cade; entenda

As duas empresas estão entre as maiores altas do Ibovespa no pregão desta segunda, dia 17

Foto: Pixabay

Quem comprou, comprou; quem não comprou, pode não comprar mais. Essa é a percepção do mercado para o crescimento inorgânico das empresas no setor de saúde no pregão desta segunda-feira, dia 17.

Pela manhã, o jornal Valor Econômico publicou reportagem no qual mostra que o número de operadoras de saúde recuou 47% na última década, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) — em um sinal claro de concentração, o que não é bom para os consumidores e potenciais concorrentes no setor de saúde.

Mesmo com mais de 700 empresas registradas, espera-se que, daqui para frente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) seja mais rigoroso na hora de aprovar novas fusões e aquisições no setor, para evitar uma concentração ainda maior.

Se assim será, quem já conseguiu se fundir ou fazer aquisições tende a se beneficiar. O caso mais simbólico é de  Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica (GNDI3), que tiveram a fusão aprovada no mês passado pelo Cade, criando um gigante de R$ 79 bilhões em valor de mercado, na cotação atual.

De um lado, a Hapvida é a maior operadora de saúde verticalizada do Brasil, com 7,5 milhões de clientes, 32 hospitais e 214 clínicas ou centros de diagnóstico, sendo líder no Norte e Nordeste. Do outro, a Intermédica tem 34 hospitais, 87 centros clínicos e 25 pronto-socorros autônomos, com participação relevante no Sudeste.

A receita de “soma das partes” também é seguida pela Rede D’Or (RDOR3). Desde o IPO, realizado em dezembro de 2020, a empresa já concluiu 11 aquisições e uma nova oferta de ações. A ideia é dobrar de tamanho até 2025. 

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Com a fusão já garantida, as ações de Hapvida e NotreDame Intermédica operam em alta e encabeçam o Ibovespa nesta tarde. Por volta das 17h30, a primeira avançava 3,10%, enquanto a segunda, 2,83%. A Qualicorp (QUAL3) subia 3,31% com a possibilidade de interrupção dos processos verticalizantes de outras companhias de saúde. Já a Rede D’Or, que pode ter seus planos atrapalhados, cai mais de 3%. 

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Desempenho das ações HAPV3 (verde), GNDI (amarelo) e QUAL3 (azul) nos últimos 12 meses

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Verticalização: a moda que pegou e é alvo de críticas

Além de toda a complementaridade geográfica e sinergias declaradas, o negócio entre Hapvida e NotreDame Intermédica possui um facilitador que é comum a ambas as empresas: elas são verticalizadas.

Elas vendem a apólice de seguro de saúde aos clientes, e elas mesmas oferecem os serviços de saúde por meio dos próprios hospitais. Do ponto de vista operacional, o processo é benéfico em função do alinhamento de interesses entre as partes.

No mercado considerado tradicional, há as operadoras de saúde, como SulAmérica (SULA11), e as prestadoras de serviço, como Fleury (FLRY3). 

É do interesse da prestadora vender o serviços mais caro possível ao usuário, já que o plano de saúde arcará com os custos. Em contraponto, as operadoras querem pagar o menor valor possível por serviço prestado. Não é incomum que essas divergências cheguem à Justiça.

As verticalizadas, por sua vez, não veem a rentabilidade sangrar com essa disputa e tratam de cobrar um prêmio adequado por seus planos de saúde, tendo menos custos.

O Valor Econômico levanta a possibilidade de que a integração vertical possa restringir a competição no mercado, barrando a entrada de novos players no Brasil. De 285 denúncias de concentração de mercado registradas nos últimos 20 anos, 51% refere-se à verticalização. 

Há quem defenda, porém, que esse processo reduz os preços ao público. Com planos a partir de pouco mais de R$ 100, Hapvida e NotreDame Intermédica atuam sobre os consumidores de baixa renda que ascendem do serviço público ao privado.

O ponto levantado, inclusive durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, é a que preço isso é alcançado. A verticalização pressupõe cortes de custos – e consequentemente de qualidade. 

Trata-se de um setor defensivo em um momento de desemprego em alta e economia duvidosa para 2022, uma vez que além de ser mais acessível o plano de saúde é pouco flexível no orçamento familiar. Isto é, a pandemia mostrou a importância de manter a saúde no radar. 

Juntas, as verticalizadas terão pouco mais de 12% dos beneficiários de planos de saúde do Brasil. Segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) em setembro de 2021, a lista é a seguinte:

  • Bradesco Saúde (6,72%)
  • NotreDame Intermédica (6,57%)
  • Amil (6,08%)
  • Hapvida (5,76%)
  • SulAmérica (3,99%)

Setor de saúde mostra que pandemia ainda não acabou

Com a intenção das empresas de saúde de se parecerem cada vez mais com seguradoras e operadoras do segmento, há um ônus: a sinistralidade.

Índice de sinistralidade

É a principal referência das atividades de planos de saúde, sendo resultante da relação entre as despesas com a utilização dos serviços médicos e a receita auferida pelo contrato (prêmio).

O índice é formado pela relação: sinistro (custos com o serviço) / prêmio pago. Com isso, o foco das seguradoras consiste em reduzir essa métrica de forma eficiente, fazendo uma boa gestão dos contratos. 

No terceiro trimestre do ano passado, a sinistralidade caixa consolidada da Hapvida atingiu 67,9%, impactada pela segunda onda de contaminações da Covid-19 no Brasil. O índice de sinistralidade total, por sua vez, disparou 11,9 pontos percentuais na comparação anualizada, para 72,3%.

Este também foi o destaque negativo da NotreDame Intermédica no período entre julho e setembro do ano passado, que surpreendeu negativamente com um prejuízo.

A companhia reportou um resultado negativo de R$ 90,7 milhões no terceiro trimestre, derrubado pela guinada da sinistralidade, de 68,6% para 80,1% em 12 meses.

No caso da SulAmérica, o índice saltou 8,9 pontos percentuais no mesmo período, para 84% em Saúde e Odonto, e 102,1% no segmento de Vida e Acidentes Pessoais. 

Contudo, para Hapvida e NotreDame Intermédica, as recomendações do mercado ainda são amplamente favoráveis. 

Segundo dados do Refinitiv, 12 analistas acompanham ambas as empresas. No caso da primeira, são 10 indicações de compra e duas de manutenção da posição. Para a segunda, todas as recomendações são de compra. 

Recomendações para Hapvida

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Recomendações para NotreDame Intermédica

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Os drivers de crescimento ainda aparecem na tese de investimento nas empresas de saúde. Porém, os últimos balanços trimestrais mostraram um aperto inesperado nas margens e maior despesa financeira, principalmente ligada ao aumento da Selic.

Os altos múltiplos que precificavam um crescimento contratado para os próximos anos pode ser desacelerado, seja pela dinâmica econômica ou pelas forças regulamentares. 

Antes queridinho dos investidores, o setor de saúde passa por dúvidas que adentram o ano de 2022. 

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