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Inflação e medo de recessão: o dilema do BC e do Fed na Superquarta

De um lado, a inflação que não dá trégua e parece cada vez mais espalhada. Do outro, o medo de errar na dose da política monetária e causar uma recessão na economia. Esse é o dilema que os bancos centrais do Brasil e dos EUA enfrentam e o principal medo atual dos mercados financeiros.

Por essa razão, os olhos dos investidores estão voltados nesta semana para as decisões de política monetária dos dois países na próxima quarta-feira (15), quando o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) e o Fomc (colegiado de política monetária do Federal Reserve) se reúnem.

Por lá, as tensões estão particularmente elevadas. Se até ontem a maior parte do mercado acreditava em uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica americana, o jogo virou e agora as apostas se concentram em 0,75 ponto (essa agora é o palpite de 94,8% dos agentes de mercado, segundo o CME Group).

Em relatório, pesos pesados como o JP Morgan e o Goldman Sachs revisaram suas projeções para cima, apontando as expectativas elevadas de inflação e uma reportagem do Wall Street Journal relatando uma possível mudança de postura do BC dos Estados Unidos.

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A ata da última reunião do Fomc havia confirmado a inclinação dos membros do comitê em manter o ritmo de alta de 0,50 ponto nos juros nas próximas dias reuniões. Parte do mercado até vinha acreditando que a autoridade monetária dos EUA poderia interromper o ciclo em setembro.

Mas os cenários mudaram bastante após a divulgação, na última sexta-feira (10), de que o CPI (índice de preços ao consumidor dos EUA) teve alta mensal de 1% em maio, acima do esperado pelo mercado.

Nesta segunda-feira (13), os mercados globais tombaram com o receio de que o Fed tenha que acelerar o passo na alta de juros para combater a inflação, o que pode provocar uma recessão na economia americana.

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Copom para ou não para?

Por aqui, as apostas são de um aumento de 0,50 ponto percentual nos juros, hoje em 12,75% ao ano. Mais do que a decisão em si, entretanto, o mercado está interessado na indicação do que vai acontecer daqui para a frente.

Levantamento do jornal Valor com 91 instituições mostrou que o consenso do mercado é de uma alta de 0,50 ponto amanhã e outros 0,25 ponto na reunião de agosto, o que levaria a taxa Selic a 13,50%.

Os juros brasileiros começaram a subir em março do ano passado e a taxa já subiu 10,75 pontos, no maior choque de juros desde 1999 – na ocasião, em meio à crise cambial, o Banco Central elevou a taxa básica de juros em 20 pontos percentuais em uma só reunião.

Para a equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco, o Copom sobe a taxa em 0,50 ponto mas sinaliza que o ciclo não se encerra aí.

“Apesar do estágio já avançado do ciclo de aperto monetário, acreditamos que o contexto de inflação elevada, persistente e disseminada, com uma nova rodada de piora das expectativas, levará o Copom a sinalizar ajuste moderado para a reunião seguinte, em agosto, mas mantendo a postura de cautela em sua atuação”, apontou o banco em relatório.

Na avaliação de Luis Menon, economista da Garde Asset Management, o pacote do governo para reduzir o preço dos combustíveis através do ressarcimento aos Estados pela zeragem do ICMS do diesel e gás adiciona um risco fiscal que não pode ser ignorado pelo comitê.

“[O pacote] eleva o risco fiscal e revisa para cima a projeção de inflação para 2023, e isso já teve reflexo nas taxas de juros futuros. Todo esse cenário de incerteza deixa a porta aberta para mais uma alta de 50 pontos em agosto”, avalia.

No último boletim Focus, divulgado na segunda-feira da semana passada de forma parcial por causa da greve dos servidores do BC, os analistas esperavam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) alcançasse 8,89% no final de 2022 e 4,39% para 2023.

Mesmo para o ano que vem, as expectativas já estão próximas do teto da meta para o ano, que é de 3,25% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

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Para muitos economistas, a alternativa do Copom será subir os juros uma última vez e deixá-lo nesse patamar por muito tempo. “Nossa projeção é que a Selic seja elevada para 13,25% ao ano na próxima reunião. Na nossa visão, a taxa deve ficar nesse patamar até pelo menos o fim de 2023”, avaliou o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles.

Somente mais uma alta de 0,50 ponto também é o cenário de André Perfeito, economista-chefe da Necton. “O resultado do IPCA [em maio, o índice avançou 0,47%, abaixo do esperado pelo mercado] sugere fortemente que o Banco Central deve fazer apenas mais uma alta de 50 pontos-base na sua taxa básica, levando-a para 13,25% ao ano e parando neste patamar.”

Para a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória, o BC deve subir a Selic uma última vez nesta semana e indicar que deixará a taxa básica de juros em um patamar elevado por um bom tempo, até que as expectativas para a inflação de 2023 voltem a ficar ancoradas.

“Mas se o cenário se reverter, e o petróleo continuar subindo com mais altas de combustíveis, o BC pode voltar e retomar o ciclo no segundo semestre se necessário”, pondera.

Incertezas na pauta

Para Marcela Rocha, economista-chefe da gestora Claritas Investimentos, o BC irá elevar os juros em 0,5 ponto percentual e na hora de comunicar a decisão deverá levar em conta o cenário inflacionário interno e externo, a atividade mais aquecida e as incertezas em relação ao crescimento global.

“O BC deve reduzir os juros, mas não vemos espaço para ele decretar o fim do ciclo de alta. Acreditamos que o BC não vai se comprometer nem com o encerramento e nem com uma nova alta”, avalia.

Rocha também acredita que a autoridade monetária deve adicionar a seu balanço de riscos a questão fiscal, que se agravou nas últimas semanas, com as medidas para a redução temporária de tributos sobre combustíveis, que teria efeito positivo na inflação de curto prazo mas pressionaria os preços em 2023.

“O balanço de riscos já estava ruim e veio uma incógnita fiscal.”

Luiz Cezário, economista-chefe da Asset 1, também espera uma alta de 0,5 ponto na quarta-feira e uma sinalização de uma nota alta para a reunião de agosto. O motivo é que o BC pode até ter o desejo de parar de subir os juros para avaliar os efeitos desse aperto monetário sobre a atividade econômica. No entanto, as condições não são favoráveis para o fim da alta dos juros.

“A difusão da inflação está elevada e os nossos modelos indicam uma piora para as projeções de 2023”, conta.

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