EUA fecham cerco para frigoríficos e pode atingir JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3)

Ontem, as ações dos frigoríficos – que fizeram a festa dos investidores em 2021 – começaram o ano com o pé esquerdo, reagindo a medidas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos que podem impactar diretamente JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3). 

O governo americano quer criar mecanismos para aumentar a competitividade do setor, que considera concentrado demais. Segundo a Casa Branca, 85% do mercado de carne bovina do país está nas mãos de quatro grandes frigoríficos. Neste grupo, estão a JBS – segunda maior processadora do país – e a Marfrig – por meio da National Beef, quarta maior processadora de bovinos no mercado americano. 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou ontem que estas empresas têm controle demasiado sobre os preços dos alimentos. Segundo um relatório do governo, há cinquenta anos os fazendeiros recebiam 60 centavos de cada dólar que um consumidor gastava com carne bovina. Hoje, essa marca está em 39 centavos.

De quebra, a ampliação das margens dos frigoríficos pressiona a inflação do país, já que o preço das proteínas é um dos grandes responsáveis pelo custo da cesta alimentar dos americanos. 

Quanto mais os eleitores gastam nos supermercados, menor a popularidade do governo. 

Expectativa de inflação nos EUA em 5 anos, em bases bimestrais. A meta é 2% ao ano

Principais medidas de Biden

O governo americano destinará US$ 1 bilhão dos fundos do American Rescue Plan, projeto de recuperação da economia no pós-pandemia, para o estímulo à capacidade de processamento independente no país. 

Desses, US$ 375 milhões serão utilizados nos próximos meses. É possível que US$ 150 milhões sejam aplicados em subsídios de financiamento já no começo deste ano para projetos com maior impacto no curto prazo.

Na metade do ano, o governo implementará US$ 225 milhões em projetos adicionais. Os recursos serão destinados a projetos independentes, assegura o governo. 

Além desses investimentos, o governo já realizou US$ 32 milhões em concessões para 167 instalações de processamento de carnes e aves existentes, com o intuito de angariar mais clientes.

Biden também propôs a criação de novas rotulagens. Os produtos com origem nos Estados Unidos serão melhor identificados, “para que os consumidores possam entender melhor de onde vem sua carne”.

Não obstante, o Departamento de Justiça e o governo americano lançaram um portal de relatos sobre possíveis violações das leis de concorrência. De forma confidencial, players do setor poderão “dedurar” possíveis quebras das leis Leis Sherman e Clayton ou Packers e Stockyards. 

“A administração Biden-Harris trabalhará para aumentar a transparência nos mercados de gado para que os pecuaristas possam obter um preço justo por seu trabalho”, diz o relatório.

As ações da JBS e Marfrig não responderam bem ao movimento governamental. Ontem, as ações das empresas caíram 4,22% e 3,62%, respectivamente. Hoje, o movimento de correção de preços faz com que ambos os papéis recuperem parte das perdas. 

Desempenho das ações JBSS3 (verde) e MRFG3 (amarelo) nos últimos 12 meses

BofA ignora medidas e enxerga oceano azul para JBS e Marfrig

Ignorando os riscos iminentes das novas medidas do governo americano, o Bank of America (BofA) reiterou a recomendação de compra para ambas as empresas.

“Esperamos que as exportações de proteína continuem crescendo em 2022 e a demanda continue forte devido à reabertura e às mudanças nos hábitos de consumo na China”, mencionam os analistas.

O consistente aumento do PIB per capita na China, a despeito da desaceleração econômica da potência asiática, beneficia os consumidores do país, que passam a demandar proteínas de maior qualidade. Ponto positivo para os frigoríficos. 

Além disso, o BofA também menciona que as empresas do setor estão se recuperando do embargo chinês à carne brasileira em função da doença da vaca louca, registrada no Brasil no ano passado. Foram 100 dias de medidas restritivas, que trouxeram volumes menores. 

Saiba mais:
China derruba embargo a frigoríficos: o que esperar de JBS, Marfrig, BRF e Minerva

Embora o oceano pareça ser azul para os frigoríficos, o BofA também lista riscos. Para a JBS, um deles é a normalização dos preços da carne bovina nos Estados Unidos. Com as novas medidas de Biden, a maior oferta no médio prazo pode forçar esse evento. O target é de R$ 70 por ação. Hoje, por volta das 15h30, o papel (JBSS3) subia 0,41%, a R$ 36,50.

No caso da Marfrig, os riscos ficam em torno do potencial de valorização do real ante o dólar, margens fracas no Brasil e ainda possíveis problemas com as exportações por conta da Covid-19. O preço-alvo é de R$ 34. Hoje, a ação subia 1,46%, aos R$ 21,59. 

Diferentemente de JBS e Marfrig, a instituição americana tem rating neutro para BRF e Minerva. Na primeira, um dos riscos é uma aquisição total pela Marfrig, enquanto para a segunda, medidas restritivas na Argentina.