Caso Americanas (AMER3): os 5 tombos históricos da Bolsa brasileira

Varejista não foi a única a perder tanto valor de mercado em apenas um dia

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

Fim do mistério. Após uma semana de agonia, a Americanas (AMER3) entrou em recuperação judicial (RJ) após reportar uma dívida total de R$ 43 bilhões, mais do que o dobro do que tinha oficialmente há pouco mais de três meses.

O “Americanas Day” ficou marcado pela queda de 77% das ações da varejista, que perdeu mais de R$ 9 bilhões em valor de mercado no dia 12 de janeiro de 2023. Desde então, as quedas já superam os 90%.

A abrupta queda daquela fatídica quinta-feira não tem precedentes na história da Bolsa brasileira, mas tombos relevantes já chamaram a atenção anteriormente. 

A relação de movimentações negativas levantadas pelo TradeMap desconsidera todos os recuos ocorridos em março de 2020, já que naquele mês o mercado de capitais brasileiro sofria com um risco sistêmico relacionado à pandemia. O Ibovespa caiu 30% naquele mês.

Além disso, o levantamento também não considerou a desvalorização do Pão de Açúcar (PCAR3) em 1º de março de 2021, quando a companhia realizou sua cisão do Assaí. A movimentação, que era esperada, foi um ajuste técnico relacionado aos ativos que a atacadista levou quando fez seu IPO (oferta pública inicial de ações).

Abaixo, os cinco grandes tombos diários na Bolsa brasileira, dentre os atuais integrantes do Ibovespa.

Eneva (-35,7%)
13/02/2015

A Eneva (ENEV3), atuante no segmento de energia, é ligada a um caso de recuperação judicial bem sucedido. A ex-MPX, do grupo X de Eike Batista, que teve seu processo de RJ iniciado em dezembro de 2014 e finalizado em junho de 2016, quando reestruturou suas dívidas.

O grupo alemão E.ON. assumiu o controle da então MPX em maio de 2013, quando houve a derrocada do grupo de Eike, na esteira da OGX. 

A petroleira também entrou em recuperação judicial e teve de vender ativos. A OGX Maranhão, um braço da empresa que explorava gás na Bacia de Paranaíba, foi vendida à Eneva por cerca de R$ 200 milhões ainda em 2013, para dar tração à operação.

Antes do fim da RJ da empresa, porém, em fevereiro de 2015, a Eneva teve de apresentar ao mercado a intenção de levantar capital para diminuir o endividamento, o que acabou desagradando os investidores.

O grupo previa captar R$ 3 bilhões, ao preço de R$ 0,15 por ação na emissão. Hoje, as ações da Eneva negociam acima dos R$ 12. 

A empresa ainda tem investido em sua operação e há a previsão de que comece a pagar dividendos neste ano.

JBS (-31,3%)
22/05/2017

Outra grande perda de valor de mercado foi a da JBS (JBSS3), no caso que ficou marcado pelo ‘Joesley Day’. Os papéis da companhia de alimentos tombaram 31,34% no dia 22 de maio de 2017, perdendo R$ 7,4 bilhões em capitalização de mercado.

Os investidores refletiram a crise política que se instaurava durante o governo Temer, gerada por um dos executivos da empresa.

Joesley Batista havia delatado o então presidente à Procuradoria-Geral da República em caso de corrupção que o envolvia, com uma gravação que foi revelada à época.

No áudio, Temer supostamente dava sinal positivo para que o empresário continuasse repassando recursos para que Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, permanecesse em silêncio.

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O dia 22 de maio foi o estopim para as quedas da JBS, mas o caso vinha se arrastando dias antes. Em 18 de maio, o Ibovespa chegou a ter acionado o circuit breaker – um mecanismo de proteção ao mercado quando o principal indicador da Bolsa cai mais de 10%.  

Além do envolvimento do executivo em caso de corrupção, o mercado avaliava o impacto disso para os negócios da empresa. A JBS estava perto de realizar seu IPO nos Estados Unidos – algo que nunca veio a acontecer. 

Contudo, a empresa se recuperou e, nos últimos cinco anos, suas ações acumulam alta de cerca de 110%. Hoje, a JBS é a maior empresa de alimentos do mundo

Qualicorp (-29,3%)
01/10/2018

O caso da Qualicorp (QUAL3) diz respeito a má governança corporativa da empresa — assim como na Americanas. No dia 1º de outubro de 2018, a companhia registrou um tombo de 29,3%, perdendo R$ 1,37 bilhão em valor de mercado.

Os investidores reagiram ao acordo que a Qualicorp fez com seu fundador e então detentor de 15% da companhia,  José Seripieri Filho.

O executivo estava de saída da empresa e, para evitar que Seripieri concorresse com a Qualicorp em um outro negócio, a empresa concordou em pagar R$ 150 milhões, em um non-compete

O acordo exigia que ele não vendesse as ações por até seis anos. O mercado viu como como conflito de interesses e questionou o valor.

Em 2021, a CVM (Comissão de Valores Monetários) julgou o caso e o absolveu da acusação de irregularidades entre partes relacionadas.

O executivo deixou o comando da Qualicorp em novembro de 2019, após vender sua participação de 10% para a Rede D’Or (RDOR3). 

Seripieri chegou a ser preso em 2020 numa operação da Polícia Federal que investigava Caixa 2 na campanha do ex-governador José Serra de 2014, quando foi eleito senador por São Paulo.  

E, desde aquele fatídico dia, as ações da Qualicorp amargam perdas de mais de 60%. A empresa chegou a atingir R$ 44,75 pouco antes da pandemia, mas agora é negociada na casa dos R$ 5,50.  

Marfrig (-24,8%)
08/08/2011

Agosto de 2011 foi caótico para a Marfrig (MRFG3). Uma alavanche de acontecimentos pressionou as ações da empresa, que já faziam parte do Ibovespa à época.

No início daquele mês, a empresa anunciou que fundos ligados à GWI Asset Management tinham diminuído de forma drástica a participação na empresa, o que demonstrava desconfiança com o futuro da companhia. 

Os ativos da empresa também foram mal vistos pelo resultado obtidos no segundo trimestre de 2011. No ano, a Marfrig amargou um prejuízo líquido de R$ 91 milhões, revertendo o lucro de R$ 103,8 milhões registrado no mesmo período de 2010. 

Assim como nos dias atuais, a companhia sofria com o aumento do preço dos insumos. O cenário econômico global era negativo, o que impactou ainda mais os papéis na Bolsa, que caíram 49,41% apenas em agosto daquele ano.

O mês também marcou a conclusão da compra da Seara pela Marfrig, com a autorização do Cade. O negócio havia sido fechado em 2009, por US$ 900 milhões. A marca seria vendida pela empresa à JBS em junho de 2013, por R$ 5,8 bilhões.

Vale (-24,5%)
28/01/2019

A quinta e não menos importante maior queda de acordo com levantamento do TradeMap é a da Vale (VALE3). No pregão do dia 28 de janeiro de 2019, os investidores reagiram aos possíveis impactos que a barragem de Brumadinho (MG) traria à empresa.

Foi a maior tragédia ambiental do país e matou quase 300 pessoas. Mais de 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos invadiram a pequena cidade mineira. Três corpos das vítimas ainda não foram encontrados.

Desde aquele momento, a empresa já pagou mais de R$ 3 bilhões em indenizações a atingidos pela lama, tanto em acordos cíveis como em processos trabalhistas.

A Vale está sujeita a leis que preveem o descomissionamento de ativos e minas após o término da operação. Com o caso de Brumadinho, a empresa decidiu acelerar a descaracterização de todas as barragens de rejeitos.

No terceiro trimestre do ano passado, a empresa registrou pagamento de R$ 502 milhões na descaracterização de barragens e ainda realizou a provisão de R$ 183 milhões para a atividade.

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O impacto do desastre no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) no terceiro trimestre de 2022 foi de US$ 141 milhões. Em setembro, o saldo de provisões sobre Brumadinho era de US$ 3,23 bilhões. 

A empresa ainda lida com os problemas relacionados ao desastre, mas tem gerado valor aos acionistas com a extração de minério de ferro de alto teor de qualidade.

‘Menção honrosa’

Também há uma menção honrosa à queda da Petrobras (PETR4) no dia 22 de fevereiro de 2021. O recuo foi de 21,5%, e perda, de R$ 74,24 bilhões em valor de mercado em apenas um dia. Nunca uma empresa havia perdido tanto em apenas um pregão.

Naquele dia, o mercado precificava a interferência política do presidente Jair Bolsonaro ao demitir o CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, na sexta-feira anterior. 

Nenhuma das baixas, porém, chega perto da queda assustadora da Americanas no dia 12 de janeiro deste ano. Em maior ou menor grau, as outras empresas se recuperaram. Já no caso da Americanas, o mercado parece não apostar muito as fichas. 

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