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Chova ou faça sol, bancos não decepcionam; veja análise de resultados do setor

Soma do lucro dos quatro grandes bancos listados, mais a Caixa, no segundo trimestre atingiu R$ 32,89 bilhões

Foto: Shutterstock

Com a divulgação do resultado do BB na noite da última quarta-feira (10), a temporada de balanços do segundo trimestre dos bancos findou-se, reforçando a tese de solidez dos grandes players.

Chova ou faça sol, com Selic a 2% ou 13,75%, os grandes nomes do setor sabem emprestar dinheiro, que é de onde, de fato, vem a geração de valor dos bancos. 

Em 2021, o lucro líquido dessas instituições financeiras no Brasil somou R$ 132 bilhões, avanço de 49% em relação ao reportado em 2020. O resultado, divulgado em relatório atrasado do Banco Central nesta semana, mostra, por exemplo, que o Pix já não incomoda tanto os bancos como se esperava.

No segundo trimestre deste ano, os quatro grandes bancos listados na Bolsa brasileira, a B3, (desconsiderando BTG Pactual e XP Inc.), somados à Caixa Econômica Federal, atingiram um lucro de R$ 32,89 bilhões. No consolidado do primeiro semestre, o número chega a R$ 62,18 bilhões. 

Anualizando os resultados, 2021 – que já havia superado em 10% o ano de 2019 (quando somaram R$ 120 bilhões), ainda sem pandemia – também ficaria para trás. 

Com suas particularidades, qual foi o desempenho de cada um dos grandes bancos listados na B3 na primeira metade do ano e o que esperar para o restante de 2022?

Itaú e o maior lucro em um trimestre

Pela ordem de valor de mercado, o Itaú (ITUB4), maior instituição financeira da América Latina, também foi um dos destaques dentre os grandes bancos no segundo trimestre deste ano. 

A instituição elevou o lucro líquido em 17,4% na comparação anualizada, para R$ 7,6 bilhões, o maior de sua história em um único trimestre. O resultado líquido foi impulsionado pelo crescimento da carteira de crédito e, por outro lado, a redução do índice de cobertura (um colchão de liquidez para o dinheiro total que está emprestado). 

O forte crescimento do lucro, por sua vez, fomentou o aumento do ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido). O Itaú registra aumento de rentabilidade ininterruptamente desde o ponto mais baixo durante a pandemia, no segundo trimestre de 2020. No mesmo trimestre deste ano, teve a maior rentabilidade, junto ao Santander.

A provisão para devedores duvidosos (PDD) no segundo trimestre foi de R$ 7,81 bilhões, número 11,73% maior em relação ao destinado no período entre janeiro e março. A despesa cresceu em menor velocidade que a carteira de crédito, que avançou 21,9% em 12 meses.

Isso significa que o banco teve menos PDD no segundo trimestre comparativamente aos anteriores, com base nos lucros auferidos. Assim, o índice de cobertura para operações vencidas há mais de 90 dias recuou 14 pontos percentuais, para 218%.

Esse indicador, que permanece acima do exigido pelo Banco Central, está em patamar confortável, com o banco deliberadamente escolhendo reportar mais lucro do que manter provisionado. 

Isso tudo ocorreu sem que o índice de inadimplência saísse do controle. A taxa para calotes acima de 90 dias fechou o segundo trimestre em 2,7%, apenas 0,04 ponto porcentual superior à fim de junho de 2021 e 0,1% maior que a do fim do trimestre imediatamente anterior.

O Itaú foi o melhor dos grandes bancos no segundo trimestre, e a perspectiva para o restante do ano segue positiva, a ponto do banco elevar a previsão para o crescimento da carteira em meio à alta da taxa de juros no país. 

Aliado à manutenção dos custos e despesas, a eficiência do banco deve melhorar ainda mais, visto que o IE (índice de eficiência) está no menor patamar da história, em 40,8%.

Bradesco reitera solidez

O Bradesco (BBDC4), por sua vez, apresentou um resultado visto como dúbio. Por um lado, o cenário parece estar em linha com o que a direção da instituição financeira esperava; por outro, a inadimplência é a maior dentre os quatro bancos.

Por um lado, o segundo maior banco privado do Brasil reiterou sua solidez financeira com avanço de 11,4% no lucro líquido do período, para R$ 7,04 bilhões. 

O patrimônio líquido do Bradesco, porém, teve fraco crescimento de R$ 1,6 bilhão, pressionado pela marcação a mercado (que atualiza o valor justo dos ativos de renda fixa diariamente conforme a expectativa para os juros muda) dos títulos públicos da carteira do banco. 

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A expectativa é que, no segundo semestre deste ano, esses títulos tenham melhor desempenho, com o fim do ciclo de alta da Selic. E, como esse item não aparece na demonstração de resultados, a alta do lucro acabou por elevar o ROE, que atingiu 18,1% no segundo trimestre.

O banco vem elevando as provisões trimestrais desde meados do ano passado, preparando o terreno para o período de alta dos juros e menor renda disponível, com a inflação em dois dígitos.

A movimentação da instituição financeira mostrou-se acertada, uma vez que o Bradesco acelerou as provisões após o período de maior intensidade da pandemia, quando a maré já havia, de certa forma, baixado.

O índice de cobertura está em 218%, assim como o Itaú, e o saldo de PDD chegou a R$ 48,8 bilhões, representando 7,7% da carteira de crédito. A diferença, entretanto, é a exposição do Bradesco às pessoas físicas, que é maior do que o Itaú, gerando maior risco.

Nesse cenário, a taxa de inadimplência acima de 90 dias do Bradesco é a mais alta dentre as quatro instituições – a única acima dos 3% e em patamar superior ao do segundo trimestre de 2019. 

O Bradesco também tem o menor ROE das quatro instituições, de 18,1%, registrado no intervalo de abril a junho. Em três meses pouco mudou, com crescimento de 0,1 ponto percentual. A rentabilidade está abaixo dos 20% atingidos no fim de 2020, quando a visibilidade sobre o cenário econômico futuro naquele momento era muito menor.

De toda forma, o banco teve um desempenho considerado neutro, que tende a melhorar conforme a eficiência avança.

O índice de eficiência, que mede a relação das despesas sobre as margens, receitas com serviços, resultado de seguros e despesas tributárias, fechou o segundo trimestre em 44,7%. Em 2019, quase 50% de todas as receitas do Bradesco eram destinadas ao pagamento de custos e despesas. 

Banco do Brasil: o melhor dos bancos?

Ao lado do Itaú, o Banco do Brasil (BBAS3) liderou os resultados dos bancos no segundo trimestre. Deixando para trás a ineficiência estatal, a instituição financeira foi a que mais lucrou no período, com o menor índice de eficiência (quanto menor, melhor), de 33,2%, e o ROE em linha com Itaú e Santander, de 20,6% contra 20,8% de ambos os bancos. 

Isso ocorreu mesmo com o BB tendo encerrado o trimestre com mais agências do que tinha no fim de março, colocando um pouco de lado a ideia do mercado de que os bancões deveriam enxugar demasiadamente suas operações para fazer frente aos digitais. 

Saiba mais:
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O nível do ROE do banco surpreendeu por conta do avanço mais sólido do patrimônio líquido do que a maior parte dos concorrentes. Entre junho de 2021 e o mesmo mês de 2022, o PL cresceu 7%, o segundo maior crescimento no período, logo atrás do Itaú (+9,5%). 

Enquanto isso, as provisões avançaram apenas 2,3% em 12 meses, para R$ 2,93 bilhões, visto que o índice de cobertura do BB já é o maior dos quatro bancos e o de inadimplência acima de 90 dias está em 2%.

O Banco do Brasil é a instituição menos exposta às pessoas físicas, e a fatia que tem está bastante atrelada a crédito consignado. Enquanto isso, tem um forte componente do agronegócio, que equivale a mais de 27% da carteira de crédito da instituição. 

A expectativa generalizada do aumento da inadimplência não parece incomodar o BB, que revisou suas projeções para o restante de 2022. No que se refere ao crédito, agora a estimativa é que a carteira suba neste ano, no mínimo, o teto previsto anteriormente, de 12% (antes, a previsão era de crescimento de 8% a 12%). O máximo é de 16%, que parece ser altamente provável de ser atingido. 

Santander com o resultado mais fraco dentre os bancões

O Santander (SANB11), como o mercado já esperava, apresentou os resultados mais fracos do segundo trimestre em relação ao mesmo período anterior. A alta exposição a pessoas físicas – a maior porcentagem dentre os bancões – pressionou a inadimplência na visão anual. Na comparação com o intervalo de janeiro a março, houve estabilidade. 

Visando esse cenário mais arriscado na concessão de empréstimos, o banco teve de acelerar a PDD, encorpando a proteção contra os calotes.

O crescimento das provisões do Santander, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, foi de 24,6%, para R$ 5,7 bilhões. O montante não foi o maior, mas nenhum outro banco elevou as despesas com as provisões nesta magnitude. 

Com isso, o índice de cobertura do banco acabou subindo em relação ao intervalo de janeiro a março, chegando a 224% sobre a carteira de crédito. A gestão do Santander parece estar correndo para ajustar a rota e se preparar para um período mais alongado de taxa de juros mais alta do que o período pré-pandemia. 

No segundo trimestre deste ano, a taxa de inadimplência do Santander saltou para 2,9%, um aumento de 0,7 ponto percentual em relação a igual período de 2021. Na comparação trimestral, porém, se manteve estável. 

O lucro líquido da operação brasileira do banco espanhol até superou a expectativa do mercado, ultrapassando a marca dos R$ 4 bilhões. O resultado líquido gerencial da instituição, porém, teve desempenho negativo em 2% em relação ao registrado no segundo trimestre do ano passado. 

Por outro lado, a margem financeira talvez tenha sido o ponto mais positivo. O Santander conseguiu capturar o aumento da Selic nos negócios junto aos clientes, e a margem somou R$ 14,8 bilhões, crescimento de 28,3% em relação a igual período de 2021 e de 3,2% ante o primeiro trimestre.

O argumento da centralidade no cliente, com foco na experiência dos usuários nas relações com a instituição, é um dos lemas da instituição, mas a alta exposição ao crédito de pessoas físicas deve pressionar o lucro nos próximos trimestres, com a contínua necessidade de aumento do saldo de provisões — ao menos até a inadimplência arrefecer.

O que esperar dos bancos no terceiro trimestre?

O terceiro trimestre deve reservar o fim do ciclo de alta da taxa de juros, que permeia o setor bancário desde o ano passado.

Por um lado, isso deve trazer algum alívio nas projeções de crescimento da inadimplência, o que diminui a necessidade de mais despesas com provisões – e menor lucro. Por outro lado, a margem com clientes pode desacelerar, mas não deve chegar a cair, já que a expectativa agora é de manutenção dos juros em dois dígitos por um período mais alongado. 

O fato é que, como disse a maior parte dos executivos dos bancos, o segundo semestre será desafiador. As incertezas econômicas giram em torno do apetite por crédito da população e, ao mesmo tempo, da capacidade de pagamento do crédito já consumido.

Com medidas governamentais, a inflação tem à frente meses de desaceleração. Com o desemprego diminuindo, o que tende a elevar os salários médios, a maior renda disponível deve ser utilizada para pagar dívidas, muitas delas com bancos.

Sob o âmbito das grandes empresas e do agronegócio, a expectativa por inadimplência segue baixa. No Itaú, por exemplo, as grandes contas tiveram inadimplência acima de 90 dias de irrisórios 0,1% no segundo trimestre. 

Para o período de julho a setembro, especificamente, os resultados entre os bancos deve permanecer similar ao segundo trimestre, em função do mix de linhas de receitas e exposição à inadimplência da primeira metade do ano.

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