Após vários dias de quedas, diante de temores de uma possível recessão global seguindo elevações nas taxas de juros ao redor do mundo, falas do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americado), Jerome Powell, trouxeram certo alívio aos mercados nesta quarta-feira (28).
Assim, o Ibovespa seguiu seus pares estrangeiros e fechou o pregão em alta de 0,07%, aos 108.451 pontos, com R$ 21,44 bilhões em volume negociado. Com isso, o saldo do índice para o mês de setembro passou para baixa de 0,98%, enquanto a valorização acumulada desde o início do ano agora soma 3,46%.
O desempenho das Bolsas estrangeiras foi ainda mais positivo. Em Nova York, o S&P 500 teve alta de 1,97%, o Dow Jones subiu 1,88% e o Nasdaq avançou 2,05%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com ganhos de 0,2%.
“Não-notícia”
As bolsas americanas, que operavam mistas durante a manhã, passaram a subir com mais força com uma “não-notícia”: Powell decidiu evitar abordar temas como juros ou inflação na sua participação em uma conferência.
Em um breve discurso gravado, o presidente do Fed limitou-se a falar sobre bancos comunitários, que é o tema do evento que acontece entre hoje e amanhã.
Na semana passada, o Fed voltou a elevar os juros da maior economia do mundo em 0,75 p.p (ponto percentual), ao mesmo tempo em que indicou que o ciclo de aperto monetário durará ainda mais do que o imaginado. A percepção de que a economia americana pode entrar em recessão impulsionou o dólar e provocou a queda das bolsas.
Na ocasião, Powell defendeu que é preciso levar a taxa de juros para um patamar restritivo e mantê-la por lá até a inflação voltar à meta de 2% – o BC dos EUA acredita que este nível será alcançado somente em 2025.
Na Europa, o Banco da Inglaterra anunciou que vai agir para limitar as apostas do mercado no aumento dos juros do país. A medida, segundo a instituição, visa impedir que o nervosismo do mercado financeiro piore a situação da economia.
O que deflagrou a alta acelerada das taxas no mercado de juros da Inglaterra foi uma combinação de fatores. O primeiro foi a decisão, anunciada pelo banco central do país na quinta-feira passada (22), de que começaria a vender títulos de dívida pública comprados nos últimos anos.
Este movimento foi exacerbado pelo fato de que o mercado já esperava uma desvalorização dos títulos de dívida porque o próprio governo britânico sinalizou, dias antes, que precisaria de mais financiamento neste ano para pagar programas de auxílio financeiro à população. Esse financiamento extra também aconteceria via aumento na oferta de títulos de dívida.
Também no Velho Continente, as tensões geopolíticas vêm ganhando força, conforme Alemanha, Suécia e Dinamarca levantam suspeitas de que uma sabotagem russa estaria por trás dos vazamentos no gasoduto Nord Stream.
Eleições no radar
Por aqui, os mercados repercutem a possibilidade de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais. A cinco dias da votação, que será no próximo domingo (2), uma pesquisa da Genial/Quaest mostrou que Lula ampliou para 13 p.p a vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O ex-presidente aparece com 46% das intenções de voto, oscilação de dois pontos em relação ao levantamento anterior, enquanto Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, e aparece com 33% dos votos.
Ainda no âmbito político, Lula defendeu, em entrevista ao SBT, mudanças na política de preços da Petrobras – derrubando as ações da estatal em dia de alta do petróleo. As ações preferenciais (PETR4) tiveram baixa de 1,35% e as ordinárias (PETR3) caíram 0,7%.
O petróleo Brent fechou em alta de 3,75%, a US$ 88,05 por barril. De acordo com analistas da Ativa Investimentos, em comentários ao mercado, a alta do petróleo ocorre diante de temores de interrupção na produção por furacão no Golfo do México.
Para o analista da INV, Nicolas Merola, a queda da Petrobras é uma antecipação de parte do mercado para as eleições presidenciais, que acontecem no domingo (2).
“Enquanto todas as outras petrolíferas, aqui e lá fora, operam no positivo, a Petrobras vai no sentido contrário. Essa queda é uma leitura de alguns players se posicionando antes de domingo. Nesse caso, fugindo de um risco eleitoral”, avalia Merola.
Altas e baixas do pregão
A Petrobras, porém, não ficou entre as maiores baixas do dia. No fechamento, as ações que mais caíam eram as de BB Seguridade (BBSE3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3), com recuos de 4,3%, 3,63% e 3,03%, respectivamente.
Na sequência, a quarta maior baixa foi de EDP Brasil (ENBR3), de 2,99%. Além dela, parte das empresas de energia que possui distribuidoras fechou em baixa, após o governo publicar uma portaria ampliando o acesso ao mercado livre de energia para os consumidores do chamado “grupo A”, ou seja, aqueles conectados em alta tensão, acima de 2,3 kV (quilo-volts).
A iniciativa afeta diretamente as distribuidoras de energia, embora de formas diferentes, já que a concessão de cada uma varia de acordo com a região e a condição social da população atendida. Mas, no geral, essa ampliação vai diminuir o chamado mercado cativo, onde obrigatoriamente os consumidores são atendidos pelas concessionárias.
Na outra ponta, os papéis que mais subiram foram os de Yduqs (YDUQ3), Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3), com avanços de 11,38%, 8,15% e 7,52%, nesta ordem.
A Cyrela entrou na lista das recomendações de compra do Itaú BBA nesta quarta-feira (28) em substituição a Multiplan (MULT3). Em relatório divulgado ao mercado, o banco passou a recomendar a compra das ações da incorporadora com um preço-alvo de R$ 22 ao fim de 2023.
O BBA adicionou a construtora por acreditar em uma tese de investimento positiva para a empresa. Segundo a instituição, a curva de juros brasileira incorpora um “prêmio de risco” atrativo. Além disso, consideram a ação desprezada pelos investidores.
Outra alta importante foi de Gol (GOLL4), de 3,06%. De acordo com informações divulgadas pela Petrobras, o valor do querosene de aviação vendido às distribuidoras de combustível vai cair 0,84% a partir de 1 de outubro. Esta é a terceira redução seguida nos preços, que antes tinham caído 10,4% em setembro e 2,6% em agosto.
Criptomoedas
Em mais uma prova de correlação com as Bolsas internacionais, o mercado de criptoativos passou para o campo positivo no meio da tarde após fortes baixas no início da manhã. O Bitcoin (BTC) chegou a despencar quase 8%, mas amortizou a queda e inverteu o cenário.
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Por volta das 16h55, a maior cripto do mercado tinha alta de 4%, negociada a US$ 19.445, segundo dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap. O Ethereum, por sua vez, subia 3,7%, vendido a US$ 1.329, conforme informações da Binance.
Os indicadores frearam as perdas após Powell não comentar sobre os próximos passos dos juros, o que trouxe um fluxo de alívio aos investidores.