Declarações de Powell dão alívio aos mercados globais e Ibovespa sobe 0,07%

Presidente do Fed evitou temas como juros ou inflação na sua participação em uma conferência

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock

Após vários dias de quedas, diante de temores de uma possível recessão global seguindo elevações nas taxas de juros ao redor do mundo, falas do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americado), Jerome Powell, trouxeram certo alívio aos mercados nesta quarta-feira (28).

Assim, o Ibovespa seguiu seus pares estrangeiros e fechou o pregão em alta de 0,07%, aos 108.451 pontos, com R$ 21,44 bilhões em volume negociado. Com isso, o saldo do índice para o mês de setembro passou para baixa de 0,98%, enquanto a valorização acumulada desde o início do ano agora soma 3,46%.

O desempenho das Bolsas estrangeiras foi ainda mais positivo. Em Nova York, o S&P 500 teve alta de 1,97%, o Dow Jones subiu 1,88% e o Nasdaq avançou 2,05%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com ganhos de 0,2%.

“Não-notícia”

As bolsas americanas, que operavam mistas durante a manhã, passaram a subir com mais força com uma “não-notícia”: Powell decidiu evitar abordar temas como juros ou inflação na sua participação em uma conferência.

Em um breve discurso gravado, o presidente do Fed limitou-se a falar sobre bancos comunitários, que é o tema do evento que acontece entre hoje e amanhã.

Na semana passada, o Fed voltou a elevar os juros da maior economia do mundo em 0,75 p.p (ponto percentual), ao mesmo tempo em que indicou que o ciclo de aperto monetário durará ainda mais do que o imaginado. A percepção de que a economia americana pode entrar em recessão impulsionou o dólar e provocou a queda das bolsas.

Na ocasião, Powell defendeu que é preciso levar a taxa de juros para um patamar restritivo e mantê-la por lá até a inflação voltar à meta de 2% – o BC dos EUA acredita que este nível será alcançado somente em 2025.

Na Europa, o Banco da Inglaterra anunciou que vai agir para limitar as apostas do mercado no aumento dos juros do país. A medida, segundo a instituição, visa impedir que o nervosismo do mercado financeiro piore a situação da economia.

O que deflagrou a alta acelerada das taxas no mercado de juros da Inglaterra foi uma combinação de fatores. O primeiro foi a decisão, anunciada pelo banco central do país na quinta-feira passada (22), de que começaria a vender títulos de dívida pública comprados nos últimos anos.

Este movimento foi exacerbado pelo fato de que o mercado já esperava uma desvalorização dos títulos de dívida porque o próprio governo britânico sinalizou, dias antes, que precisaria de mais financiamento neste ano para pagar programas de auxílio financeiro à população. Esse financiamento extra também aconteceria via aumento na oferta de títulos de dívida.

Também no Velho Continente, as tensões geopolíticas vêm ganhando força, conforme Alemanha, Suécia e Dinamarca levantam suspeitas de que uma sabotagem russa estaria por trás dos vazamentos no gasoduto Nord Stream.

Eleições no radar

Por aqui, os mercados repercutem a possibilidade de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais. A cinco dias da votação, que será no próximo domingo (2), uma pesquisa da Genial/Quaest mostrou que Lula ampliou para 13 p.p a vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente aparece com 46% das intenções de voto, oscilação de dois pontos em relação ao levantamento anterior, enquanto Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, e aparece com 33% dos votos.

Leia mais:
Taxação de dividendos: Confira as propostas em jogo nas eleições 2022 e como isso afeta os investimentos

Ainda no âmbito político, Lula defendeu, em entrevista ao SBT, mudanças na política de preços da Petrobras – derrubando as ações da estatal em dia de alta do petróleo. As ações preferenciais (PETR4) tiveram baixa de 1,35% e as ordinárias (PETR3) caíram 0,7%.

O petróleo Brent fechou em alta de 3,75%, a US$ 88,05 por barril. De acordo com analistas da Ativa Investimentos, em comentários ao mercado, a alta do petróleo ocorre diante de temores de interrupção na produção por furacão no Golfo do México.

Para o analista da INV, Nicolas Merola, a queda da Petrobras é uma antecipação de parte do mercado para as eleições presidenciais, que acontecem no domingo (2).

“Enquanto todas as outras petrolíferas, aqui e lá fora, operam no positivo, a Petrobras vai no sentido contrário. Essa queda é uma leitura de alguns players se posicionando antes de domingo. Nesse caso, fugindo de um risco eleitoral”, avalia Merola.

Altas e baixas do pregão

A Petrobras, porém, não ficou entre as maiores baixas do dia. No fechamento, as ações que mais caíam eram as de BB Seguridade (BBSE3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3), com recuos de 4,3%, 3,63% e 3,03%, respectivamente.

Na sequência, a quarta maior baixa foi de EDP Brasil (ENBR3), de 2,99%. Além dela, parte das empresas de energia que possui distribuidoras fechou em baixa, após o governo publicar uma portaria ampliando o acesso ao mercado livre de energia para os consumidores do chamado “grupo A”, ou seja, aqueles conectados em alta tensão, acima de 2,3 kV (quilo-volts).

A iniciativa afeta diretamente as distribuidoras de energia, embora de formas diferentes, já que a concessão de cada uma varia de acordo com a região e a condição social da população atendida. Mas, no geral, essa ampliação vai diminuir o chamado mercado cativo, onde obrigatoriamente os consumidores são atendidos pelas concessionárias.

Na outra ponta, os papéis que mais subiram foram os de Yduqs (YDUQ3), Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3), com avanços de 11,38%, 8,15% e 7,52%, nesta ordem.

Leia:
Construção: Preocupações com vendas e distratos são exageradas, diz Santander – confira recomendações

A Cyrela entrou na lista das recomendações de compra do Itaú BBA nesta quarta-feira (28) em substituição a Multiplan (MULT3). Em relatório divulgado ao mercado, o banco passou a recomendar a compra das ações da incorporadora com um preço-alvo de R$ 22 ao fim de 2023.

O BBA adicionou a construtora por acreditar em uma tese de investimento positiva para a empresa. Segundo a instituição, a curva de juros brasileira incorpora um “prêmio de risco” atrativo. Além disso, consideram a ação desprezada pelos investidores.

Outra alta importante foi de Gol (GOLL4), de 3,06%. De acordo com informações divulgadas pela Petrobras, o valor do querosene de aviação vendido às distribuidoras de combustível vai cair 0,84% a partir de 1 de outubro. Esta é a terceira redução seguida nos preços, que antes tinham caído 10,4% em setembro e 2,6% em agosto.

Criptomoedas

Em mais uma prova de correlação com as Bolsas internacionais, o mercado de criptoativos passou para o campo positivo no meio da tarde após fortes baixas no início da manhã. O Bitcoin (BTC) chegou a despencar quase 8%, mas amortizou a queda e inverteu o cenário.

Veja também:
É questão de tempo para Bitcoin voltar a ser resiliente contra inflação, diz CEO da Coinext

Por volta das 16h55, a maior cripto do mercado tinha alta de 4%, negociada a US$ 19.445, segundo dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap. O Ethereum, por sua vez, subia 3,7%, vendido a US$ 1.329, conforme informações da Binance.

Os indicadores frearam as perdas após Powell não comentar sobre os próximos passos dos juros, o que trouxe um fluxo de alívio aos investidores.

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Destaques Econômicos – 21 de maio

Nesta quarta-feira (21) o calendário econômico traz atualizações relevantes que podem impactar os mercados. Veja os principais eventos do dia e suas possíveis consequências: Quarta-feira

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.