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FGTS está perdendo para a inflação e sacar saldo para investir é boa ideia; veja as opções

Saque emergencial de até R$ 1 mil foi liberado entre 20 de abril e 15 junho

Foto: Shutterstock

O governo vai liberar, de 20 de abril a 15 junho, o saque emergencial de até R$ 1 mil para 42 milhões de trabalhadores com saldo em conta ativas ou inativas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Analistas consultados pela Agência Trademap afirmaram que, para quem não vai usar os recursos para pagar dívidas ou despesas, vale a pena sacar esse dinheiro para investir, uma vez que a rentabilidade do fundo referente a 2021 e 2022 deve ficar abaixo da inflação.

Desde 2017, a rentabilidade do FGTS é calculada com base na variação da TR (Taxa Referencial) acrescida de 3% ao ano, além da parcela do resultado do Fundo distribuída aos trabalhadores detentores de saldo em 31 de dezembro de cada ano. A TR é calculada pelo Banco Central diariamente e em 2021 ficou negativa a maior parte do tempo, encerrando o ano passado em 0,0488%. Para o ano que vem, a TR estimada é de 1,10%.

O resultado do FGTS consiste na diferença entre as receitas (com créditos concedidos nos setores de habitação, saneamento e infraestrutura urbana, títulos públicos federais, debêntures e cotas de fundos de investimento, entre eles o FI-FGTS) e as despesas.

Nos primeiros dois anos, foi distribuído 50% do resultado auferido; em 2019, base 2018, foi distribuído 100% do resultado; em 2020 e 2021, o Conselho Curador do FGTS deliberou pela distribuição de R$ 7,5 bilhões e R$ 8,1 bilhões, respectivamente.

Com isso, a rentabilidade do FGTS superou a da poupança e a inflação em 2018, 2019 e 2020.

Contudo, com a alta de 10,06% do IPCA em 2021 e o aumento esperado de 6,86% para este ano, segundo estimativa dos analistas no último Boletim Focus, o retorno do fundo dos trabalhadores deve ficar abaixo da inflação. Isso significa que quem mantiver os recursos no fundo vai perder o poder de compra, reforça a estrategista-chefe da Órama, Sandra Blanco.

Fonte: FGTS
Ano Retorno do FGTS Poupança IPCA
2018 6,18% 4,62% 3,75%
2019 4,90% 4,26% 4,31%
2020 4,92% 2,11% 4,52%

Disciplina para poupar

O FGTS foi criado com o objetivo de servir como uma poupança mandatória para os trabalhadores com carteira assinada, com possibilidade de saque somente em três situações: quando o funcionário é demitido, para compra de imóvel próprio ou na aposentadoria.

Sendo assim, é como se fosse uma reserva que o trabalhador acumula para usar nesses momentos em que precisar, afirma Michael Viriato, estrategista da assessoria de investimentos Casa do Investidor. “Se o investidor tem disciplina para realmente poupar, é melhor tirar e aplicar [o saldo]. Se não tem, melhor deixar rendendo menos do que gastar”, diz.

Como o investimento desses recursos deve estar disponível para casos de necessidade, o ideal é escolher opções de investimentos mais conservadoras, como de renda fixa, afirma Blanco.

Hoje existem no mercado diversas opções de investimento em renda fixa que oferecem um retorno maior que o do FGTS.

“Em um momento em que a taxa básica de juros deve alcançar pelo menos 12,75% neste ano e em que a inflação continua em patamar elevado, as aplicações em renda fixa atreladas à Selic ou ao IPCA já rendem mais que o FGTS”, aponta Blanco.

A Órama espera uma taxa Selic de 12,75% no fim do ciclo de aperto monetário, que deve terminar no primeiro semestre, e projeta um IPCA de 6,90% para 2022.

Segundo Viriato, o investidor pode deixar uma parte dos recursos em aplicações com liquidez e investir o restante em títulos de renda fixa com prazos de resgate maiores, de um ou dois anos, que pagam uma taxa mais elevada.

Veja a seguir a simulação de retorno feita por Viriato para a Agência TradeMap.

Fonte: Michel Viriato. *IR de renda fixa varia de 15% a 22,5%. **Valor é referente ao pago em 2020 líquido de IR.*** Considera taxa de administração de 0,50% e CDI de 12,65%. **** Considera taxa da CBLC mais corretora de 0,20% e meta Selic de 12,75%. *****Considera taxa anual de 11,37%.****** Considera taxa de 5% mais IPCA (6%)
Retorno das aplicações líquido de IR*
Prazo FGTS** Poupança CDB Banco Grande (90% do CDI) CDB banco Médio (110% do CDI) Fundos DI*** Tesouro Selic**** Tesouro préfixado (2025)***** Tesouro IPCA (2026)******
6 meses 4,92% 7,27% 8,82% 10,78% 9,42% 9,65% 8,66% 8,60%
12 meses 4,92% 7,27% 9,11% 11,13% 9,72% 9,96% 8,94% 8,88%
18 meses 4,92% 7,27% 9,39% 11,48% 10,02% 10,27% 9,22% 9,16%
24 meses 4,92% 7,27% 9,68% 11,83% 10,33% 10,58% 9,49% 9,44%

Para o analista de research da Ágora, Ricardo França, quem ainda não tem uma reserva de liquidez pode aproveitar os saques emergenciais para formar uma. Ele indica ter pelo menos seis meses de salário guardados em aplicações mais líquidas, pós-fixadas, atreladas ao CDI ou à taxa Selic.

Já para quem já tem uma reserva de liquidez, é possível investir em título de renda fixa atrelado à inflação com prazos mais longos, que pagam a variação do IPCA mais uma taxa prefixada. “Hoje o patamar do juro real [descontada a inflação] está muito atrativo”, diz França.

Vale lembrar que é possível investir em títulos públicos pelo Tesouro Direto com valores a partir de R$ 30,00.

Títulos indexados à inflação são opção interessante para médio e longo prazos

Com o ciclo de alta de juros se aproximando do fim, os títulos indexados ao IPCA passam a ser uma alternativa interessante, ao oferecerem uma proteção contra a inflação. “As taxas desses títulos parecem já ter chegado a um limite e, de agora em diante, esses papéis oferecem boa perspectiva de ganho com o fechamento [queda] dessas taxas”, diz Blanco, sinalizando oportunidade de ganho em caso de venda antecipada dos papéis.

Entre os ativos atrelados ao IPCA, a estrategista da Órama sugere os papéis do Tesouro IPCA+ com prazos mais curtos, CDBs indexados à inflação ou fundos de debêntures incentivadas, compostos por papéis de dívidas atreladas a projetos de infraestrutura e que oferecem isenção de Imposto de Renda, assim como o rendimento do FGTS. Na plataforma da Órama e da Ágora, por exemplo, há fundos de debêntures com aplicação mínima abaixo de R$ 1 mil.

Enquanto o Tesouro IPCA+ com menor vencimento, para 2026, está pagando IPCA mais cerca de 4,9%, é possível achar CDBs com rentabilidade melhor e com prazos mais curtos, que contam com a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

Confira os CDBs atrelados ao IPCA disponíveis na plataforma do TradeMap.

Fonte: TradeMap, em 28/03/2022.
CDBs indexados ao IPCA
Instituição Prazo Aplicação mínima – R$ Retorno
Banco BMG 2 anos 100 IPCA +6,09%
Paraná Banco 1 ano e 11 meses 1 mil IPCA + 5,70%
Banco Sofisa 2 anos 100 IPCA + 5,70%
Banco Sofisa 1 ano 100 IPCA + 6,20%
Banco Pine 1 ano e 11 meses 1 mil IPCA+5,34%
Banco Votorantim 2 anos 1 mil IPCA + 4,73%
BTG Pactual 2 anos 1 mil IPCA + 4,69%
BTG Pactual 1 ano 1 mil IPCA + 5,01%
Banco BMG 1 ano 100 IPCA+ 4,71%
Banco Votorantim 1 ano 1 mil IPCA + 4,52%
Banco Pine 1 ano 1 mil IPCA + 4,15%

As aplicações atreladas à inflação com prazos mais longos podem ser interessantes para quem quer guardar dinheiro para comprar um imóvel, diz França. “Há uma tendência de os preços dos imóveis acompanharem a alta da inflação”, diz.

Os saques emergenciais do FGTS podem injetar até R$ 30 bilhões na economia. Historicamente, um terço desses recursos vai para consumo, um terço para pagamento de dívidas e um terço pode ir para investimentos, ressalta França.

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