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Dólar e renda fixa lideram ganhos em fevereiro; Bolsa tem pior mês desde junho de 2022

Cenário externo mais desfavorável e preocupação com fiscal no Brasil contribuíram para queda da Bolsa doméstica

Foto: Shutterstock/Immersion Imagery

Com a taxa de juros alta no Brasil e o cenário externo mais negativo, o dólar e os ativos de renda fixa lideraram os ganhos em fevereiro, enquanto a Bolsa brasileira fechou o mês em queda, marcando o pior desempenho desde junho de 2022. 

O cenário externo mais desfavorável, com o mercado vendo maior chance de uma taxa básica de juros mais alta do que o esperado nos Estados Unidos, e a preocupação com o cenário fiscal no Brasil, além de notícias corporativas, contribuíram para a fraca performance dos ativos de risco domésticos.

O Ibovespa encerrou fevereiro em queda de 7,49%, aos 104.932 pontos, o pior desempenho desde junho de 2022, período marcado pela volatilidade anterior às eleições no país. Com o desempenho, o Ibovespa zerou os ganhos no ano e acumulou baixa de 4,37% no primeiro bimestre.

“A Bolsa brasileira foi pior que a maior parte dos mercados lá fora”, aponta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Já o dólar Ptax subiu 2,13% e fechou o mês a R$ 5,21, acompanhando o movimento de alta da moeda americana no exterior.

Títulos do Tesouro IPCA+ lideram ganhos entre ativos locais em fevereiro

Os títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) lideraram os ganhos em fevereiro. Os papéis com vencimentos mais curtos tiveram a maior alta. O índice IMA-B5, que acompanha o desempenho dos títulos com vencimento inferior a cinco anos, subiu 1,41% no mês.

O desempenho reflete a expectativa em relação ao novo arcabouço fiscal, que vai substituir a regra do teto de gastos (que limita o crescimento dos gastos do governo à variação da inflação), que o governo prometeu apresentar em março.

“Se vier uma regra fiscal melhor que a esperada, o mercado vai celebrar bastante, mas há dúvida se ela será cumprida”, diz Cruz.

A incerteza com o cenário fiscal e a discussão sobre a revisão para cima da meta de inflação (atualmente de 3,25% para este ano e de 3% para 2024), refletindo maior pressão do governo para o Banco Central antecipar o corte da taxa básica de juros neste ano, ainda preocupam o mercado e contribuíram para a alta das taxas de juros mais longas.

Investidores ainda estão de olho na troca de dois diretores do BC – Bruno Serra, de Política Monetária, e Paulo Souza, que está na diretoria de Fiscalização -, cujos mandatos venceram no fim de fevereiro. 

“Se forem escolhidos os nomes que estão sendo ventilados no mercado, como os dos ex-diretores do BC Luiz Awazu Pereira da Silva e Tony Volpon, seria uma notícia positiva”, avalia Cruz.

Bolsa pode se recuperar?

O sócio e gestor de portfólio da área de gestão de multi-family office da G5 Partners, Fernando Donnay, vê chance de a Bolsa se recuperar se o novo arcabouço fiscal se mostrar crível e apontar uma trajetória da dívida do Brasil equilibrada no longo prazo.

Apesar de a Bolsa brasileira estar com valuation muito atrativo, abaixo da média histórica, a G5 ainda vê mais oportunidade em renda fixa e recomenda uma exposição de 60% a esse mercado para os clientes. 

O gestor da G5 vê oportunidade principalmente em títulos de crédito privado que oferecem isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos, como CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio) e debêntures incentivadas de empresas high grade ( de baixo risco). “Esses títulos isentos estão oferecendo um retorno entre 15% e 16%”, diz Donnay.

Já em títulos públicos, a G5 tem recomendado a alocação em papéis pós-fixados e atrelados à inflação.

Na parte de ativos de maior risco, a gestora sugere a alocação em fundos de ações e de private equity e special situation para o longo prazo.

Notícias corporativas intensificam queda do Ibovespa

Além dos cenários macroeconômicos mais negativos no exterior e no mercado local, notícias corporativas ajudaram a intensificar a queda do Ibovespa.

O aumento do número de empresas que anunciaram a reestruturação de dívidas, como Marisa (AMAR3), Light (LIGT3) e CVC (CVCB3), trouxe um alerta para os investidores, especialmente após o pedido de recuperação judicial da Americanas (AMER3).

Além disso, o embargo às exportações de carne bovina brasileira para a China, após a notificação de um caso da doença vaca louca no Pará, pesou sobre as ações dos frigoríficos.

Por fim, a notícia de que o governo pretende usar a Petrobras para amenizar o impacto da reoneração dos tributos sobre os preços dos combustíveis levou a uma queda das ações ordinárias da Petrobras (PETR3) nesta terça-feira.

A Petrobras anunciou uma redução do preço médio de venda de gasolina e do diesel para as distribuidoras a partir desta quarta-feira (1).

O governo pretende adotar uma reoneração escalonada dos preços dos combustíveis com maior tributação para os combustíveis fósseis, que são mais poluentes.

Para frente, o estrategista da RB Investimentos vê oportunidade em ações de empresas exportadoras, que devem se beneficiar da reabertura da economia chinesa após as medidas de restrição por conta da Covid-19, e da expectativa de uma desaceleração menor que a esperada das economias na Europa e EUA.

“Os preços de commodities metálicas devem se estabilizar em patamar elevado, o que é favorável para o Brasil”, afirma Cruz.

Papéis de empresas de shopping com foco no público de alta renda, como JHSF e Iguatemi, também têm boa perspectiva, na visão de Cruz, por conseguirem repassar o aumento da inflação.

Já o cenário para as varejistas voltadas para as classes mais baixas ainda continua desafiador, já que o aumento do custo do crédito tem contribuído para a alta das taxas de inadimplência.

Fed mais “hawkish” derruba bolsas americanas 

O aumento das apostas de que o banco central americano (Fed, sigla para Federal Reserve) pode ter que estender o ciclo de alta de juro, após dados mais fortes que o esperado da inflação e de emprego nos EUA, contribuiu para a queda das Bolsa americanas em fevereiro. 

O índice S&P 500 encerrou o mês com queda de 2,61%, enquanto o Nasdaq caiu 1,11%.

Em 1º de fevereiro, o Fomc, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed, aumentou os juros americanos em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4,50% e 4,75%. O banco central americano disse, contudo, que mais juros ainda seriam necessários para garantir a convergência da inflação para a meta de 2%.

No início de fevereiro, o mercado precificava uma alta de 5% da taxa básica de juros no fim do ciclo de aperto monetário e agora já espera uma elevação para 5,5%, diz Cruz.

A expectativa do mercado é de o Fomc indique os novos passos da política monetária americana na reunião de 21 e 22 de março.

Com juros elevados, a G5 vê mais oportunidade na renda fixa que em ações no mercado externo. A instituição recomenda uma exposição de 20% em ativos internacionais.

“A renda fixa lá fora está atrativa, com os títulos do Tesouro americano pagando taxas de 5% a 6%, enquanto nos corporativos é possível ter um retorno de até 8% ao ano nos próximos dois a três anos”, diz Donnay.

No caso das Bolsa americanas, apesar da correção verificada desde 2022, Donnay ainda vê os valuations menos atrativos que o da Bolsa doméstica, negociando ainda acima da média histórica no exterior. 

“Se o banco central americano continuar com taxa de juros altas por muito tempo, podemos ver uma revisão de lucros das empresas, o que pode trazer uma pressão adicional para as ações nos EUA”, diz.

Bitcoin mostra recuperação em fevereiro

Por fim, o Bitcoin, principal criptomoeda em valor de mercado, teve mais um mês positivo neste ano, acumulando leve alta de 0,25% em dólar em fevereiro.

A expectativa de uma alta maior de juros nos EUA, se confirmada, pode frear esse movimento de recuperação, segundo os analistas, sendo negativo para todos os ativos de risco. 

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