Ibovespa segue exterior e cai 1,1% após falas de Powell; saldo da semana é de alta de 0,7%

Seguindo o movimento dos mercados no exterior, que passaram a cair forte depois do discurso do presidente do banco central americano, Jerome Powell, o Ibovespa fechou o pregão desta sexta-feira (26) em baixa de 1,09%, aos 112.298 pontos, com R$ 21,7 bilhões em volume negociado.

A desvalorização de hoje, porém, não foi suficiente para anular as altas dos últimos dias, e o índice terminou a semana com avanço de 0,72%. Desde o início do ano, o Ibovespa acumula ganhos de 7,13%, enquanto o saldo do mês de agosto é de alta de 8,85%.

Em Nova York, o S&P 500 caiu 3,37%, o Dow Jones recuou 3.03% e o Nasdaq perdeu 3,94%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou em baixa de 1,93%.

Powell derruba mercados

A queda generalizada dos mercados veio depois da fala do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, durante a conferência anual de banqueiros centrais em Jackson Hole. Powell endureceu o discurso contra a inflação, indicando que o banco aguarda dados mais consistentes de desaceleração da alta de preços para definir seu ritmo de aumento de juros daqui para frente.

“O foco do Fomc [colegiado de política monetária do Fed] no momento é trazer a inflação de volta à meta de 2%”, afirmou. “A estabilidade de preços é responsabilidade do Federal Reserve e serve como a pedra fundamental da nossa economia. Sem estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém”, acrescentou.

De acordo com dados divulgados pouco antes do discurso, o principal índice de inflação acompanhado pelo Fed, o PCE (Índice de Despesas de Consumo Pessoal) desacelerou em julho na comparação com junho. O indicador subiu 6,3% em 12 meses, abaixo dos 6,8% registrados no mês anterior. Na comparação mensal, registrou recuo de -0,1%, bastante abaixo do avanço de 1% observado em junho.

O presidente do banco central dos EUA ainda afirmou que reduzir a inflação requererá um período sustentado de crescimento baixo e que a política monetária deve permanecer restritiva por algum tempo.

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Mineradoras e siderúrgicas despencam

Apesar de o minério de ferro ter registrado alta de 3,01% na Bolsa de Dalian, a US$ 107,11 por tonelada, diante da expectativa de que os estímulos econômicos na China sustentem a demanda, as mineradoras e siderúrgicas brasileiras caíram em bloco.

No fechamento, as maiores baixas do Ibovespa eram de Natura (NTCO3), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3), com recuos de 6,73%, 6,67% e 5,95%, nesta ordem.

A Usiminas comunicou ao mercado que seu conselho de administração aprovou a alocação de R$ 1,1 bilhão em reparos emergenciais na coqueria 2 da usina de Ipatinga entre este ano e 2026. Além disso, a empresa informou que realizará um aporte extra de R$ 633 milhões para as reformas no Alto Forno 3, na mesma usina. Dessa forma, o investimento total neste reparo chegará a R$ 2,72 bilhões até 2025.

Esse acréscimo foi feito, segundo a Usiminas, pelos efeitos inflacionários em todos os custos envolvidos no projeto aprovado originalmente em 2019.

Outra baixa importante foi de IRB (IRBR3), de 4,37%. A resseguradora voltou, nesta semana, a estar no centro do noticiário financeiro. A empresa anunciou uma oferta de ações de até 597 milhões de ações e poderá ter que colocar pelo menos metade do lote extra para poder levantar o montante de R$ 1,2 bilhão necessário para sua capitalização, estimam duas fontes do mercado.

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Alpargatas segue na liderança

Na outra ponta, as ações que mais subiram nesta sexta foram as de Alpargatas (ALPA4), Pão de Açúcar (PCAR3) e Cielo (CIEL3), com avanços de 7,18%, 3,02% e 2,25%, respectivamente.

A nova alta nas ações da Alpargatas vem um dia depois de o papel registrar avanço de 10,06% no pregão de ontem. De acordo com analistas ouvidos pela Agência TradeMap, o mercado repercute falas do CEO da companhia, Roberto Funari, durante uma conferência organizada pelo J.P Morgan. O executivo falou sobre a estratégia de internacionalização e os investimentos em produção e logística da companhia.

Outros fatores, como a recuperação da demanda na China, considerada uma das principais vias de crescimento da Alpargatas, a perspectiva é de que a companhia siga repassando a inflação nos preços finais e o melhor momento do varejo também ajudaram, dizem os analistas.

A Cielo, por sua vez, recebeu uma recomendação de compra de analistas do Credit Suisse, em relatório publicado nesta sexta. Os analistas também aumentaram o preço-alvo de R$ 2,50 para R$ 7,50, o que configura um potencial de valorização de 30% em relação ao valor atual.

Vale lembrar que no início da semana a empresa anunciou que Estanislau Bassols, atual presidente da Mastercard Brasil, será o novo CEO da companhia. Na visão de Jader Lazarini, analista CNPI da Agência TradeMap, a escolha de Bassols mostra que a Cielo está disposta a pensar “fora da caixa”.

Também entre as principais altas, as petroleiras subiram em bloco, depois de o petróleo tipo Brent fechar em alta de 0,56%, a US$ 99,01 por barril. A 3R Petroleum (RRRP3) avançou 0,35%, a Petrobras PN (PETR4) subiu 1,08%, a Petrobras ON (PETR3) avançou 1% e a Prio (PRIO3) ganhou 0,64%.

A Petrobras anunciou que fará uma redução de 10,4% nos preços de querosene de aviação (QAV) para as distribuidoras a partir de 1º de setembro. Essa é a segunda redução recente feita pela estatal, que havia diminuído em 2,6% o preço do combustível no início de agosto.

Criptoativos

O Bitcoin (BTC) perdeu a faixa dos US$ 21 mil nesta sexta-feira, em linha com o clima de baixa que tomou conta dos mercados globais após o tom duro do discurso do presidente do Fed no combate à inflação.

Por volta das 16h50, a criptomoeda registrava queda de 4,3%, negociada a US$ 20,6 mil, conforme dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

O clima de cautela deve prevalecer durante o fim de semana, período marcado pela baixa liquidez no mercado, o que pode levar a quedas mais acentuadas.

A queda é ainda mais intensa no Ethereum (ETH), indicando que nem o otimismo do mercado com a atualização da rede é suficiente para segurar a pressão negativa do cenário macroeconômico.

Na mesma hora, a segunda maior cripto do mercado tinha forte retração de 9%, na faixa de US$ 1,5 mil, segundo dados da Binance.