Ibovespa ignora EUA e sobe 0,42% com construtoras em disparada, mas perde 1,28% na semana

Principal índice da B3 conseguiu se manter no positivo, ajudado pelas ações de construtoras e de bancos

Foto: Shutterstock

Na contramão das Bolsas americanas, que terminaram o último pregão da semana no negativo, o Ibovespa engatou a segunda alta consecutiva nesta sexta-feira (2), fechando com avanço de 0,42%, aos 110.864 pontos. Foram R$ 26,46 bilhões em volume negociado.

A valorização de hoje, porém, não foi suficiente para inverter o saldo da semana, que terminou em baixa de 1,28%. Desde o começo de setembro, porém, o índice soma ganhos de 1,22%, enquanto a alta acumulada em 2022 é de 5,76%.

Nos EUA, os mercados passaram parte do dia em alta, mas perderam força ao longo da tarde. O S&P 500 fechou em baixa de 1,07%, o Dow Jones caiu 1,07% e o Nasdaq recuou 1,31%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 somou genhos de 2,54%.

Voo de galinha

A alta das Bolsas estrangeiras durante a manhã foi causada pela divulgação do relatório de empregos nos EUA. De um lado, os dados mostram que a economia criou 315 mil empregos em agosto, um pouco acima do esperado. Do outro, o relatório mostrou que a taxa de desemprego subiu de 3,5% em julho para 3,7% no mês passado.

Todo esse cenário, que aponta para forças inflacionárias um pouco menores, retira um pouco da pressão sobre o Fed (banco central americano) para aumentar os juros com força no próximo encontro, no final deste mês. Apesar disso, as apostas em um aumento agressivo nos juros dos EUA em setembro, de 0,75 p.p (ponto porcentual), continuam majoritárias no mercado.

“Na nossa visão, esses números mostram um mercado de trabalho muito aquecido, fruto dos fortes estímulos econômicos que foram dados durante e após a pandemia. Como o objetivo do Fed é desaquecer a economia para trazer a inflação para a meta, os dados do payroll indicam mais aperto pela frente”, disse a economista Claudia Rodrigues, do C6 Bank.

A manutenção das apostas de alta de 0,75 p.p na taxa de juros, somada à notícia de que a petrolífera russa Gazprom fechou o gasoduto Nord Stream, que exporta petróleo para a Europa, sem informar data de reabertura, azedou o sentimento dos investidores ao longo da tarde.

O mercado também manteve postura defensiva diante do feriado do Dia do Trabalho, que fecha as Bolsas americanas na próxima segunda-feira (5), o que deve trazer pouca liquidez para o mercado brasileiro.

Na zona do euro, a inflação ao produtor (PPI) subiu 4% em julho, na comparação com o mês anterior, superando a projeção do mercado, de 3,7%, de acordo com a Bloomberg – aumentando a pressão sobre o BCE (Banco Central Europeu).

Construção e bancos impulsionam o Ibovespa

Apesar da queda lá fora, o Ibovespa conseguiu se sustentar no positivo, ajudado pelas ações de construtoras e dos bancos, que têm forte peso no índice. No fechamento, as maiores altas do pregão eram de Eztec (EZTC3), JHSF (JHSF3) e MRV (MRVE3), com avanços de 8,42%, 8,28% e 8,15%, nesta ordem.

Os bancos também subiram em bloco: Itaú Unibanco (ITUB4) teve alta de 1,3%, Santander (SANB11) avançou 0,27%, Bradesco (BBDC4) subiu 1,1% e Banco do Brasil (BBAS3) somou ganhos de 0,47%.

De acordo com a XP, em relatório a clientes, as ações de construção repercutem uma medida tomada pela Caixa Econômica Federal, que aprovou uma extensão no prazo máximo do financiamento imobiliário do programa Casa Verde Amarela (CVA) de 30 para 35 anos.

“Em nossa visão a mudança é positiva e beneficia o poder dentro do programa e fortalece a rentabilidade da MRV e de outras construtoras de baixa renda”, avalia Ygor Altero, analista da corretora.

O avanço de 1,2% no PIB brasileiro no trimestre, divulgado nesta quinta-feira (1), também trouxe boas perspectivas para o setor. Em nota, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) ressaltou que o setor registrou alta de 2,7% no período.

Em outra frente, foi divulgada a produção industrial, que cresceu 0,6% em julho na comparação com junho, quando havia retraído 0,3%. Na comparação com julho de 2021, a produção industrial registrou queda de 0,5%. Ao longo de 2022, a indústria acumula queda de 2%, e em 12 meses o tombo é de 3%.

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Os resultados vieram abaixo da expectativa do mercado. O consenso Refinitiv apontava para alta de 0,7% no mês e retração de 0,3% na comparação anual.

IRB e commodities na outra ponta

Além de ignorar o exterior, a alta do Ibovespa também ocorre apesar da queda das ações da Petrobras (PETR4; PETR3) e da Vale (VALE3), as de maior peso no índice.

O petróleo Brent fechou em alta de 0,71%, a US$ 93,02 por barril, à espera da reunião na Opep+ (Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados) na semana que vem. Há expectativas de que a Arábia Saudita pressione o grupo por cortes de produção.

Ainda assim, a ação preferencial da Petrobras teve baixa de 1,27% e a ordinária recuou 1,45%.

O minério de ferro, por sua vez, teve baixa de 2,84% na Bolsa de Dalian, para US$ 96,6 por tonelada, refletindo os novos lockdowns para combate à Covid-19 na China, que podem prejudicar a demanda. Diante disso, a Vale fechou em baixa de 1,52%.

A maior queda do dia, porém, foi do IRB (IRBR3), que derreteu 12,86%. A resseguradora confirmou, na noite de ontem, que levantou R$ 1,2 bilhão na sua oferta de ações, e que os novos papéis foram vendidos a R$ 1 cada.

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Com isso, cada ação saiu com um desconto de 28,5% em relação ao fechamento da quinta-feira (1), que foi de R$ 1,40. Vale ressaltar que, quando a oferta foi anunciada na semana passada, o papel do IRB Brasil era avaliado a R$ 2.

Na prática, o resultado desse follow-on foi menos pior do que o esperado. Isso porque o IRB queria levantar esses R$ 1,2 bilhão, mas estava disposta a emitir até 1,8 bilhão de ações para chegar a este montante. Ou seja: na prática, o menor preço que poderia ser atingido era de R$ 0,67.

Na avaliação do analista CNPI da Agência TradeMap, Jader Lazarini, mesmo se reenquadrando nos critérios da Susep, as condições do mercado ainda não favorecem a empresa no curto e médio prazo. “Isso não impede uma nova oferta daqui alguns trimestres caso o lucro não apareça”, comenta em análise.

Depois do IRB, as ações que mais caíram foram as de Americanas (AMER3) e Petz (PETZ3), com recuos de 4,14% e 3,88%, nesta ordem.

Criptoativos

O Bitcoin (BTC) passou a semana em ritmo de gangorra, subindo e descendo, rondando a da faixa dos US$ 20 mil, em meio ao temor dos investidores com o aumento mais agressivo dos juros americanos.

Apesar da instabilidade, a maior cripto do mercado suportou a pressão e não cedeu para mínimas ainda mais fortes, conforme apontavam as previsões mais pessimistas.

Por volta das 16h50, o BTC registrava alta de 0,9%, negociado a US$ 19.962, segundo números do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

Dados do mercado de trabalho americano trouxeram um sinal de alívio ao mostrarem o crescimento da taxa de desemprego em agosto na comparação com julho.

Normalmente, o aumento de pessoas sem trabalho não é um bom indicativo, mas nesse contexto o dado sinaliza que a economia americana está em desaceleração, o que pode levar o Fed a considerar colocar o pé no freio na escalada das taxas básicas de juros.

Mas outros fatores de risco ainda podem jogar contra o mercado cripto nos próximos dias. Na Europa, as atenções se voltam para a crise energética e o risco de desabastecimento de gás, o que deve impactar diretamente na inflação.

Já o Ethreum (ETH) perdia 1,5%, negociado a US$ 1.561, segundo dados da Binance.

Desde julho, a criptomoeda passa por uma fase de euforia com a expectativa dos investidores pela atualização da blockchain, programada para o dia 15 de setembro.

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