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1º trimestre: em vez do lucro, mercado olhará impacto da inflação nos custos; entenda

Veja quais setores devem se dar bem e quais devem ter resultados fracos, segundo analistas

Foto: Shutterstock

A temporada de balanços das empresas do Ibovespa para o primeiro trimestre de 2022, que teve início com a divulgação dos números da Usiminas (USIM5) em 20 de abril, começa a ganhar tração nesta semana, com divulgações de pesos-pesados como Suzano (SUZB3), Bradesco (BBDC4), Ambev (ABEV3) e Petrobras (PETR4).

Diferentemente do usual, porém, o grande foco do mercado durante as divulgações do trimestre não devem ser os lucros, mas os custos, de acordo com Gabriela Joubert, diretora de equity research do Banco Inter.

“O que estamos olhando para essa temporada de resultados não é tanto o crescimento, o avanço da top line ou a receita, mas o impacto da inflação nos custos”, diz.

Em um cenário de escalada da inflação ao redor do mundo, que cria pressões sobre os custos das empresas dos mais diversos segmentos, a analista defende que o principal ponto a ser observado é como as empresas estão lidando com a situação. “Se estão conseguindo repassar via aumento de preços, se estão absorvendo, qual impacto isso está tendo e como está pressionando as margens”, explica.

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Perspectivas não animam

De uma maneira geral, a expectativa de Joubert é que os resultados mostrem um primeiro trimestre difícil, com ainda mais pressões de inflação sobre os custos do que no quarto trimestre do ano passado – quando os números já deram sinais do que estava por vir, na visão da analista.

Na visão da analista, a maioria das companhias devem registrar estabilidade na linha de receita, com o crescimento barrado por diferentes fatores, a depender da área de atuação.

Para as empresas voltadas para o consumo interno, a queda no poder de compra da população deve ser o principal fator negativo, segundo a analista. “Chega uma hora em que não dá mais para repassar custos, e a população, também com poder de compra limitado, acaba pensando duas vezes antes de gastar”, explica, citando os setores de varejo, saúde e bancos como exemplos.

Já para as exportadoras, duas forças opostas devem manter a receita estável: de um lado, o aumento nos preços das commodities é positivo para as companhias; de outro, uma série de fatores deve pesar sobre os volumes de venda.

Maioria deve se dar mal…

Primeira mineradora a reportar seus resultados, a Vale (VALE3) divulgou, na última quarta-feira (27), queda de 19,6% no lucro líquido, impactada por um período de chuvas mais forte do que o esperado. Na análise de Joubert, esse deve ser o caso para a maioria das mineradoras e siderúrgicas.

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas devem sofrer com aumento de custos. Em seus resultados do primeiro trimestre, a Usiminas, única do setor a apresentar seus números até o momento, reportou alta de 39,8% nas despesas com vendas nos negócios de produção de aço, além alta de 5,1% no custo de produção. De acordo com a companhia, o aumento foi causado por custos maiores com carvão, coque, energia e combustíveis.

Fora das commodities, os bancos, na visão da analista do Inter, devem registrar avanço na receita financeira, reflexo de spreads maiores, e melhoria em linhas como cartões e seguros, devido à reabertura econômica.

Isso, no entanto, pode ser ofuscado por uma desaceleração no volume de crédito e por diminuição nas receitas com tarifas, reflexo do PIX. O principal ponto de atenção, porém, deve ser o nível de inadimplência. “No quarto trimestre já estava dando sinais, e agora deve bater um pouco mais forte nos resultados das empresas”, diz a analista do Inter.

A análise de Joubert vai de encontro com os resultados reportados pelo Santander (SANB11) na terça-feira (26). Ainda que o banco tenha anotado alta de 3,8% em sua margem financeira bruta, o mercado reagiu negativamente ao balanço, devido ao crescimento da inadimplência e das despesas com perdas relacionadas a empréstimos que não foram pagos.

As varejistas, por sua vez, devem ter performances distintas a depender da área de atuação. As companhias voltadas ao consumo discricionário, de acordo com a analista, são mais afetadas pelo cenário macroeconômico e devem sofrer um pouco mais neste trimestre. “Quem comprou uma TV ou uma geladeira em 2020 não vai comprar todo ano”, afirma Joubert.

Para Crespi, o impacto deve ser ainda mais forte sobre as empresas de e-commerce, como Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), que também sofrem pressão do aumento nas taxas de juros.

…mas algumas podem se dar bem

Por outro lado, as varejistas de itens essenciais, como as de alimentos, devem seguir apresentando fortes resultados, segundo os analistas. Para Crespi, as empresas do segmento de atacarejo devem ter números especialmente fortes.

Ainda nas varejistas, o analista da Guide menciona as empresas de vestuário voltadas ao público de alta renda, mais resiliente aos efeitos da inflação.

De acordo com Joubert, os frigoríficos também devem ter mais um trimestre de resultados fortes, impulsionados por preços elevados e uma forte demanda por carne bovina. “Os frigoríficos devem ser a surpresa positiva do trimestre, principalmente porque a demanda nos EUA está muito aquecida e os preços continuam atrativos”.

Também em commodities, as empresas de petróleo e gás devem se destacar, na visão de Crespi, apresentando forte geração de caixa e crescimento de lucro e, potencialmente, anúncio de dividendos robustos. A expectativa do mercado é que os resultados das companhias do setor reflitam a alta no preço do petróleo, com o Brent tendo se valorizado quase 39% no trimestre.

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Outro setor que deve registrar bons resultados, segundo Joubert, é o de shoppings, refletindo a retomada da mobilidade, que leva as pessoas de volta aos estabelecimentos, seja para fazer compras ou para lazer. A analista ressalta que a inflação também apresenta riscos para o setor, mas que isso ainda não deve ter efeito neste trimestre. “Vamos enxergar as receitas avançando em uma velocidade maior do que os custos”, afirma.

A análise vai em linha com os resultados da Multiplan (MULT3), divulgados na noite de quinta-feira (28). A administradora de shopping centers terminou o trimestre com lucro de R$ 171,6 milhões, alta de 270,5% na comparação com o mesmo período de 2021. A receita líquida, por sua vez, subiu 57,9%.

Crespi também tem boas perspectivas para as empresas do setor de transportes, na esteira da reabertura econômica. “Temos cada vez menos restrições. Com o Brasil retomando voos para o exterior e com a retomada de eventos, as empresas voltadas para transporte e turismo devem entrar em rota de melhora”, diz o analista, que levanta a possibilidade de resultados superiores aos níveis pré-pandemia.

Em sua divulgação de resultados na última quinta-feira (28), a Gol informou que seu lucro líquido somou R$ 2,6 bilhões no primeiro trimestre, contra prejuízo de R$ 2,5 bilhões no mesmo período do ano passado. Os bons resultados, porém, deveram-se principalmente a ganhos com operações financeiras, uma vez que a empresa sofre com aumento nos custos, principalmente com combustíveis.

Finalmente, Joubert cita as empresas de utilidade pública como outro setor que deve apresentar resultados superiores aos do quarto trimestre de 2021, consequência do aumento nos volumes de chuvas. “Elas tiveram um impacto muito forte nos custos com o uso das usinas térmicas, que agora tende a arrefecer”, explica.

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