Às vésperas de 2022, o temor dos mercados internacionais é o mesmo dos últimos quase dois anos. A variante ômicron, da Covid-19, volta a realçar a incerteza dos investidores quanto à retomada global, sobretudo nos setores de turismo e aéreo.
Alguns países europeus estão recolocando restrições à mobilidade para conter a disseminação da nova cepa. A ômicron infecta até 70 vezes mais rápido, mas é menos grave do que o novo coronavírus, como é conhecido, segundo um estudo da Universidade de Hong Kong.
Na Holanda, o lockdown já é (quase) realidade. Todas as lojas, bares e restaurantes não essenciais foram fechados até meados de janeiro. Amanhã, o presidente Joe Biden deve apresentar atualizações sobre o plano dos Estados Unidos no combate à pandemia.
O aperto das contaminações mundo afora gerou novas preocupações de que mais uma onda da Covid-19 possa prolongar as interrupções na cadeia de suprimentos, acelerar a inflação e pressionar setores que demandam mobilidade.
Aqui no Brasil, como de praxe, a CVC (CVCB3) lidera as perdas do Ibovespa, com baixa de mais de 6%. O índice cai 2%, acompanhando as Bolsas mundiais.
Desde que o mercado tomou conhecimento sobre a variante ômicron – enquanto ainda B.1.1.529 – no final de novembro, as ações da agência de turismo caíram mais de 17%.
Desempenho das ações CVCB3 e do Ibovespa nos últimos 30 dias

Os papéis da Azul (AZUL4) também sofrem e recuam 3,90%, por volta das 12h40. As ações da Gol (GOLL4), por sua vez, têm queda de 2,48%.
As ações do setor caem em todo o mundo mesmo com a queda do preço do petróleo. O barril do tipo Brent recua 5,15% no mercado futuro na Bolsa de Londres, a US$ 69,72. Desde o dia 26 de novembro, a queda é de 15%.
A procura global pela commodity continua em aproximadamente dois milhões de barris diários, abaixo do patamar antes de março de 2020, de quase 101 milhões de barris por dia, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
A nova leva de casos do coronavírus deve pressionar ainda mais a retomada da demanda, cortando as viagens aéreas na alta temporada e atingindo diretamente o consumo de combustível de aviação.
Apenas quatro ações do Ibovespa sobem na sessão

Não é só ômicron: Itapemirim traz tensão à CVC
Como se não bastasse as dúvidas em relação ao turismo no Brasil e no mundo, a CVC foi atormentada no final de semana pela suspensão das atividades da companhia aérea Itapemirim Transportes Aéreos (ITA).
A empresa, que vendeu suas primeiras passagens em maio deste ano, comunicou na última sexta-feira (17) que passará por uma “reestruturação interna”. Estima-se que, até o dia 31 de dezembro, mais de 40 mil passageiros passariam pelos serviços da empresa.
O Grupo Itapemirim está em recuperação judicial há cinco anos. A dívida tributária é avaliada em R$ 2,2 bilhões – e pode ficar maior. O Procon-SP notificou a empresa e a multa pode chegar a R$ 11 milhões.
Do lado da CVC, a companhia disse que está priorizando solucionar os problemas dos tíquetes das próximas 72 horas e pediu para que os clientes não se encaminhem para embarque no aeroporto neste momento. A empresa disse que foi pega “sem qualquer aviso prévio”.
Essa não é a primeira vez que a CVC tem de lidar com uma situação delicada de um parceiro. Em 2019, a operação brasileira da Avianca quebrou e deixou a Gol a ver navios.
Na década passada, a companhia — que possuía o mesmo controlador da colombiana Avianca Holdings, que continua funcionando — era uma das mais famosas companhias aéreas brasileiras. Os negócios foram de mal a pior quando as contas saíram do controle, sobretudo em função dos contratos em leasing de aeronaves.
Naquele ano, as ações da CVC caíram 27%. A empresa mantém no radar o pedido de recuperação judicial da Latam. A companhia, entretanto, já está em negociação com credores após apresentar um plano de reestruturação.
Entre a máxima histórica, atingida em fevereiro de 2019, até hoje, os papéis da CVC recuam 76%. Com a definitiva chegada da ômicron, a luz no fim do túnel parece um pouco mais distante.