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Por que a Minerva (BEEF3) quer se mudar para os Estados Unidos

Entre julho e setembro de 2021, a operação na América do Sul contribuiu com 56% da receita consolidada da Minerva

Foto: Divulgação

Após dois pregões em alta sem justificativa clara, a Minerva (BEEF3) revelou que está próxima de fazer as malas para os Estados Unidos. O conselho da companhia autorizou o início dos estudos pela direção, em reunião realizada na última quinta-feira (13).

De acordo com a empresa, o processo pode fazer com que a base acionária da Minerva passe a ser constituída no exterior, com a listagem das ações mercado americano.

O Pipeline, do jornal Valor Econômico, revelou que a ideia da companhia é passar a ser negociada na Nasdaq, Bolsa comumente procurada pelas empresas de tecnologia do Brasil e do mundo.

A líder da América do Sul em exportação de carne bovina agora quer ser entendida como uma empresa global de fato, acompanhando sua operação que está mais dolarizada do que nunca. 

De quebra, listando as ações nos Estados Unidos, os investidores da Minerva procuram uma melhor precificação dos papéis, que estão no marasmo nos últimos anos em termos de retorno – embora com certa volatilidade.

Desempenho das ações BEEF3 (verde) e do Ibovespa (amarelo) nos últimos cinco anos

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Minerva para além das fronteiras

Atualmente, mais da metade do resultado da Minerva vem de fora do Brasil. Entre julho e setembro de 2021, a operação na América do Sul contribuiu com 56% da receita consolidada. 

O faturamento em dólar, com o câmbio jogando a favor da empresa, seguido da forte demanda externa, levou a receita líquida da companhia para R$ 7,4 bilhões no terceiro trimestre do ano passado. Esse foi o maior montante em um trimestre na história da Minerva.

Saiba mais: EUA fecham cerco para frigoríficos e pode atingir JBS e Marfrig

O destaque recorrente da empresa tem sido a Athena Foods, que consiste, principalmente, nas operações das unidades no Paraguai, Argentina, Uruguai e Colômbia. Mais de três quartos da receita bruta da Athena vêm de fora das fronteiras brasileiras.

Dos embarques, a Ásia é responsável por comprar 38% da produção da Athena, o que é um bom sinal. 

O constante aumento do PIB per capita na China, segunda maior potência econômica do mundo, beneficia o consumo no país, a despeito da desaceleração dos últimos meses. 

Os gastos com alimentos de maior qualidade crescem com o avanço da renda. Nesse sentido, a carne bovina, cujos preços dispararam em todo o mundo, é altamente procurada no mercado chinês.

Com isso, a Minerva é um dos players mais bem posicionados para surfar uma onda compradora que já é histórica. 

A carne bovina é o quarto produto brasileiro mais importado pela China, ficando atrás apenas da soja, minério de ferro e óleos brutos de petróleo. No acumulado de 2021, o alimento movimentou US$ 9,14 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

O montante, equivalente a R$ 50 bilhões, subiu 8% em relação ao ano anterior, mesmo com o embargo colocado pela China de setembro a dezembro.

Recentemente, a empresa também adquiriu dois frigoríficos australianos especializados em carne bovina, por um total de US$ 35 milhões (cerca de R$ 195 milhões). 

As operações devem ser iniciadas neste ano e representam a entrada em um mercado estrategicamente importante, dada a proximidade com a Ásia. E essa não deve ser a última expansão geográfica da Minerva. 

Quem disse que precisa ser tech?

O mercado agora avalia que a Minerva chegará aos Estados Unidos por meio da Nasdaq, Bolsa que tem as maiores empresas de tecnologia do mundo sob seu guarda-chuva.

As brasileiras XP, Nubank, Stone, entre outras, preferiram abrir capital em Wall Street por razões claras. Em suma, maior valuation. 

Atualmente, a Minerva negocia ao múltiplo EV/Ebitda de 5,31 vezes e cerca de 10 vezes o lucro dos últimos 12 meses. 

A Tyson Foods, negociada na Nyse, que já está subprecificada, negocia aos múltiplos 7,16 vezes e 11,18 vezes, respectivamente. A média da indústria para ambos os múltiplos é de 11,21 vezes e 18,21 vezes.

Caso a busca por uma melhor avaliação do valor da empresa esteja na pauta da Minerva, porém, a alavancagem financeira não pode sair do radar. Em um setor cíclico como este, é prudente que a potencial geração de caixa não fique muito descolado do endividamento. 

A relação entre a dívida líquida e o Ebitda da Minerva saiu de quase dois dígitos em 2018 para os atuais 2,4 vezes, mostrando que o trabalho tem sido bem feito. A Tyson Foods, porém, tem esse múltiplo na casa dos 1,65 vez, e a média da indústria fica na casa dos pouco mais de 2 vezes. 

Histórico da alavancagem financeira da Minerva

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Planos ainda estão no papel

Os estudos serão iniciados e, pelo que parece, a intenção para a mudança ao mercado americano ainda é embrionária. Os planos ainda estão no papel e há certo risco de que fiquem assim.

O trâmite é complexo e pode trazer uma série de discussões ao longo do tempo. A JBS (JBSS3), maior frigorífico do Brasil, por exemplo, ainda tem no radar a mudança de endereço, que tantas vezes já foi adiada, em função de entraves como pandemia, estrutura do negócio, questões fiscais e de ESG. 

Recentemente, o CFO da companhia disse que o IPO nos Estados Unidos pode ser concretizado até o fim do ano, embora ainda haja dúvidas quanto à estrutura da mudança, que pode incluir ou não as operações de carne bovina no Brasil.

Em outro setor, o Banco Inter (BIDI11) também tentou a listagem das ações na Nasdaq, mas o Conselho vetou a mudança após o exercimento dos direitos de retirada dos investidores superar os R$ 2 bilhões, tidos como limite pelo banco. 

O que o mercado enxerga na Minerva

Segundo dados compilados pelo Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, são 12 analistas que cobrem a empresa. Desses, sete recomendam a compra dos papéis, sendo que o preço-alvo mediano é de R$ 14,70, um potencial de alta de 41%.

Nos últimos 12 meses, os papéis da empresa subiram 19%. No setor, ficam atrás de JBS (+70%) e Marfrig (+90%). 

Por volta das 12h40 desta sexta, as ações subiam 3,56%, para R$ 10,46. A Minerva vale R$ 6,3 bilhões na B3.

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