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Antes do Nubank (NUBR33): como estão as brasileiras que se aventuraram em Wall Street

O Nubank (NUBR33) ampliou a lista de empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores dos EUA. Como elas estão até aqui?

Foto: Pixabay

Logo após a estreia do Nubank (NUBR33) na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), a fintech rapidamente se tornou a quarta maior empresa brasileira. O valor de mercado da companhia chega a US$ 44,88 bilhões (cerca de R$ 255,34 bilhões) e só fica abaixo de Vale (VALE3), com R$ 396,89 bilhões, Petrobras (PETR3; PETR4), com R$ 395,84 bilhões, e Ambev (ABEV3), com R$ 255,49 bilhões,

A abertura de capital do Nubank lá fora acompanha uma série de empresas locais, que preferiram seguir o sonho americano e fazer o IPO em Wall Street, mesmo tendo suas raízes fincadas no Brasil. A Bolsa de Valores americana chama atenção, principalmente, do setor de tecnologia e de empresas ligadas a serviços financeiros. 

Recentemente, inclusive, o Banco Inter (BIDI11), que tem ações negociadas na B3, tentou fazer uma migração para a Nasdaq, mas seu Conselho de Administração brecou a ideia após perceber que ficaria muito caro.

Quem já está lá pensa diferente. Do ponto de vista de oportunidades, nada melhor do que estar onde o mercado de capitais é mais aquecido – embora isso não necessariamente signifique desempenho operacional satisfatório, como já é notado pelos investidores. 

Por que a Bolsa de Valores gringa

Por que os Estados Unidos? A resposta é bem clara. Enquanto a Bolsa brasileira é composta por cerca de 400 empresas, o universo americano contempla mais de cinco mil companhias, entre Nyse e Nasdaq. 

O alto volume de empresas listadas é reflexo de uma economia pujante há décadas e, claro, da cultura americana no mercado de ações. A Bolsa de Nova York, vale dizer, já tem 225 anos de história. Hoje, cerca de 56% da população americana, ou 188 milhões de pessoas, investem no mercado acionário, segundo a consultoria Gallup. 

Naturalmente, há uma série de vantagens em listar-se por lá. Entre elas:

Mercado maduro

Com mais da metade da população investindo em Bolsa, direta ou indiretamente, os Estados Unidos possuem um mercado mais maduro e, quem sabe, até mais eficiente do que o brasileiro. 

O mercado de capitais é mais transparente, a U.S. Securities and Exchange (SEC), CVM americana, é mais atuante e os investidores são munidos de mais informações. Isso gera segurança e confiabilidade às empresas que aceitam as condições.

Além disso, a regulamentação é mais favorável. Existe a possibilidade da criação de classes de ações, gerando proporções diferentes na estrutura acionária. Os controladores podem ter uma fatia menor, mas continuar com as rédeas da companhia. 

Ademais, enquanto o Brasil exige que a abertura de capital seja acompanhada de um free float (porcentual de ações da companhia em circulação no mercado) de, no mínimo, 25%, nos Estados Unidos é possível listar apenas 10% dos papéis, por exemplo. 

Visibilidade e negociação

Justamente por ter um mercado mais maduro, a liquidez da Bolsa americana é muito maior que a brasileira. 

A fins comparativos, na última sexta-feira (10) a Nasdaq movimentou US$ 264,55 bilhões, com a negociação de 4,41 bilhões ativos, considerando os ativos de todos os seus mercados, segundo seu site oficial. 

No terceiro trimestre deste ano, a B3 teve um volume financeiro médio diário de R$ 36,85 bilhões considerando o mercado de ações à vista, opções sobre ações, termos de ações e futuros de índices. 

Com maior visibilidade, as empresas costumam se financiar de forma mais barata para sustentar suas atividades. 

Valuation atrativo

Pode-se dizer que nos Estados Unidos o processo de investimento é um pouco diferente do brasileiro. A taxa de juros no país está zerada e, historicamente, tem um patamar consideravelmente abaixo da Selic.

Além disso, o mercado acionário americano (ainda) está inundado pela liquidez do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Até novembro, o BC americano estava comprando US$ 120 bilhões mensais em títulos, estimulando o investimento em ativos de risco.

Com isso, o custo de oportunidade em investir na renda fixa americana é bem alto. Essas são algumas das razões pelas quais os valuations são mais atrativos nos Estados Unidos, sobretudo para empresas ligadas à tecnologia, independentemente do setor em que atuam.

Hoje, as empresas da Nasdaq negociam a um múltiplo preço/lucro ponderado de 30 vezes, acima da média dos últimos anos. O S&P 500 é cotado na casa de 38 vezes. O Ibovespa, por sua vez, é negociado na casa das 6 vezes, um dos menores patamares da história. 

Colocando-se no radar do investidor americano, as empresas têm alcance global.

A onda brasileira em Wall Street

Com a abertura de capital do Nubank, 12 empresas brasileiras estão listadas diretamente nos Estados Unidos. Entre as ligadas a serviços financeiros e tecnologia, são seis:

  • PagSeguro;
  • Stone;
  • XP Inc.;
  • Pátria Investments;
  • Vinci Partners;
  • Nubank.

Ao todo, as seis companhias captaram US$ 9,45 bilhões (aproximadamente R$ 53,21 bilhões na cotação atual). Entre os esforços de alocação de capital, de forma geral, estão a expansão da base de clientes, capital de giro, potenciais aquisições e investimentos em tecnologia.

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Contudo, o mar não está para peixe. 

Desde janeiro de 2018, quando a PagSeguro abriu capital na Nyse, a primeira a chegar ao território americano, o S&P 500 subiu 70%, a Nasdaq avançou 115% e, mesmo assim, quase todas as empresas operam no negativo. 

Desconsiderando o Nubank, que estreou na semana passada, as ações das outras cinco empresas caem cerca de 20%, ao menos. 

Fonte: TradeMap
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De lá para cá, com uma pandemia no meio do caminho, o apetite dos investidores estrangeiros pelas fintechs brasileiras esfriou.

Por que as fintechs brasileiras caem em Nova York?

Algumas razões explicam o movimento de mercado, desde as condições macroeconômicas até preocupações operacionais, como aumento da concorrência. 

Nos últimos meses, sobretudo, a tendência negativa foi acentuada com o aperto monetário nos Estados Unidos. O tapering, processo de redução das compras de ativos pelo BC americano, tem tirado a atratividade de empresas de tecnologia, principalmente as que têm menos vantagens competitivas. 

Isso porque as empresas consideradas de alto crescimento têm a maior parte de seu valor no futuro e, em função disso, os resultados financeiros atuais podem ser sacrificados em prol de um maior retorno à frente. 

Além disso, o movimento de alta das taxas de juros mundo afora no pós-pandemia também impacta esse tipo de segmento. A alta da Selic no Brasil e a perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos a partir do ano que vem eleva o custo de capital esperado das companhias, e o resultado é o mesmo: queda dos múltiplos.

A PagSeguro, por exemplo, desde o IPO até o começo deste ano subiu 87%. A partir de janeiro, as ações entraram em um espiral negativo. Desde agosto, os papéis recuaram cerca de 55% na Bolsa de Nova York.

No ponto de vista operacional, a companhia segue sólida. No terceiro trimestre deste ano, a empresa lucrou R$ 321,5 milhões, um avanço de 22,1% sobre o mesmo período de 2020. O banco digital da empresa quase dobrou em 12 meses, para 12,2 milhões de usuários ativos. 

Mas, como se a desconfiança não bastasse, o Banco Central (BC) brasileiro colocou mais lenha na fogueira. No dia 8 de outubro, foi realizada uma consulta pública que avalia mudanças nas regras para o setor de pagamentos com cartões. As mudanças na tarifa de intercâmbio e prazo de liquidação de pagamentos podem impactar a empresa.

Esse processo também balança a Stone, que amarga perdas nos últimos meses. No ano, os papéis derretem quase 80%, acompanhando os resultados que desapontaram. Entre julho e setembro deste ano, a companhia lucrou R$ 132,7 milhões, uma queda de 53,9% ante o mesmo período do ano passado.

Entre as entregas abaixo das expectativas, estão os custos demasiadamente altos, puxados pela alta da Selic. A empresa recentemente também mostrou dificuldades em manter sua operação de crédito. 

Desempenho das ações de PagSeguro e Stone nos últimos 12 meses

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

A XP, por sua vez, mostra alguma desaceleração. A companhia fundada por Guilherme Benchimol viu seu lucro líquido trimestral superar a marca de R$ 1 bilhão pela primeira vez, mas a captação líquida recuou de R$ 75 bilhões para R$ 37 bilhões em 12 meses.

Na comparação trimestral, os ativos sob custódia tiveram uma queda de 3%, principalmente em função da desvalorização do mercado. A margem Ebitda da empresa recuou 4,4 pontos percentuais, para 36,9% no trimestre. 

O aperto monetário que impactou as empresas na Bolsa acabou por pressionar Pátria e Vinci, também. As gestoras viram seus papéis recuarem mesmo com os resultados operacionais sendo positivos.

Enquanto o lucro da Pátria cresceu 8% em 12 meses, para US$ 21,5 milhões, o resultado líquido da Vinci avançou 101% no mesmo período, para US$ 51,60 milhões. 

O temor dos investidores é que o mercado acionário seja pressionado ainda mais pela desaceleração global e retirada de estímulos dos últimos, afetando os negócios que buscam equity, como tais companhias. 

O Nubank, por outro lado, ainda surfa o otimismo do IPO. Embora a amostra ainda seja pequena, os papéis da companhia operam no azul desde que estrearam na Nyse, na última semana, prometendo desenvolver seu ecossistema e, com isso, apresentar a lucratividade que ainda não apareceu.  

Na Bolsa de Valores, as cotações nem sempre refletem o desempenho operacional e as avenidas de crescimento de cada negócio. As vantagens de listar-se nos Estados Unidos, por exemplo, não garantem sucesso imediato das ações. O investidor deve ficar ligado.

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