Banco Inter (BIDI11) desiste do sonho americano; o que a companhia perde ficando no Brasil?

Migração para os EUA, que ainda pode ser retomada, traria uma série de benefícios à empresa

Foto: Divulgação

O Banco Inter (BIDI11) não irá, por ora, concluir seu sonho americano. A companhia revelou ao mercado que não irá prosseguir com a migração das ações, embora a possibilidade mantenha-se no radar.

A decisão foi tomada após a opção de cash out da operação ser maior do que o esperado. O Banco Inter articulou com instituições financeiras a possibilidade de financiamento de até R$ 2 bilhões para reembolso aos clientes que decidissem sair dos papéis.

O valor determinado de cash out foi de R$ 45,84 por papel, ao passo que as units do banco fecharam o pregão da última quinta-feira (2) a R$ 32,99, um prêmio relevante de 39%.

De acordo com o documento divulgado, a fintech procurou seguir com a operação mesmo assim, levando as ações da Inter Platform à Nasdaq, celeiro da tecnologia estadunidense. O conselho de administração, porém, vetou a ideia.

A reorganização societária da empresa foi aprovada por ampla maioria. Em assembleia de acionistas, mais de 82% das ações em circulação mostraram-se favoráveis ao processo. Agora, a resposta é que isso não acontecerá a qualquer preço.

O processo pode ser retomado em 30 dias com a convocação de nova assembleia para deliberação pelos investidores. Ainda não há qualquer definição neste sentido, mas o que o Banco Inter deixa pelo caminho ao ficar no Brasil?

O que o Banco Inter buscava nos Estados Unidos

Algumas são as vantagens de estar mais próximo do mercado americano.

Entre elas, acesso a funding mais barato, sem contar a forte liquidez ainda funcionando nos mercados acionários. Além disso, existiria a possibilidade da emissão de ações com voto plural e novos aumentos de capital sem a diluição dos controladores.

O banco também procurava ampliar sua relação de investidores. Uma base de clientes mais extensa também estava no radar. Vale lembrar que recentemente a companhia comprou a fintech americana Pronto Money, conhecida como Usend, com a estratégia de iniciar suas atividades de prestação de serviço nos Estados Unidos, de forma inorgânica.

Ademais, ao se listar na Nasdaq, a empresa passaria a ser vista como uma empresa de tecnologia e seria comparada com outras instituições financeiras digitais e atuantes em e-commerce.

Do ponto de vista global, dois são os exemplos mais claros: Sofi (NASDAQ: SOFI), empresa americana de finanças pessoais on-line, e a Tinkoff (TCS Group), banco digital sediado em Moscou e listado em Londres.

Em número de clientes, o Banco Inter já é maior que ambos os bancos, com 15 milhões de usuários contra 2,9 milhões e 13 milhões, respectivamente, segundo informações das companhias.

A receita de ambas as companhias, entretanto, supera a do banco mineiro.

Enquanto o Inter teve um faturamento de R$ 1,4 bilhão nos primeiros nove meses de 2021, a fintech americana apresentou uma receita de US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5,65 bilhões) e o grupo russo faturou US$ 3,4 bilhões (R$ 19,21 bilhões).

Histórico de crescimento da receita líquida do Banco Inter

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Da mesma forma, o valor de mercado dos bancos digitais estrangeiros também é superior. O Sofi é avaliado em US$ 11,90 bilhões (R$ 67,48 bilhões), ao passo que o Tinkoff tem um market cap de US$ 25,67 bilhões (R$ 145,36 bilhões).

A criação de valor pelo Banco Inter

O Inter, ainda enquanto banco digital, não pode ser olhado pelas métricas tradicionais do setor bancário. Até pouco tempo atrás, a instituição apresentava prejuízos e preferia o crescimento em detrimento do lucro.

Isso já mudou, mas os múltiplos do Banco Inter ainda parecem ser muito esticados em relação aos demais bancos. Então, quais são as métricas para olhar um banco digital? Como o Inter, de fato, cria valor?

A fórmula, segundo a empresa, é a seguinte:

Fonte: RI Banco Inter

Com a operação cada vez mais próxima do mercado americano, o Banco Inter poderia melhorar seu NII (receita líquida de juros) com a captação de recursos menos custosa. Do outro lado, o crescimento exponencial das receitas poderia vir com novos produtos baseados no intensivo investimento em tecnologia.

O racional por trás do desejo

A instituição estudava mudar de endereço desde o primeiro semestre deste ano. A leitura é de que, na visão da empresa, o “universo de banco digital” ficou pequeno para as pretensões do banco.

Hoje, os negócios do Banco Inter são concentrados em cinco avenidas. São elas:

  • Banking;
  • Crédito;
  • Investimentos;
  • Shopping;
  • Seguros.

A frente de Shopping, inclusive, ganhou destaque nesta semana. Em comunicado ao mercado, o banco informou que o Inter Shop atingiu R$ 3 bilhões em vendas no acumulado de 2021, volume três vezes maior que todo o ano passado.

O Inter Shop que, por sua vez, já está nos Estados Unidos. Com o nome de Go Inter, a plataforma já disponibiliza cashback através de compras on-line em diversas lojas parceiras.

A família Menin, controladora do banco, pensa de forma similar a qualquer companhia que queira internacionalizar suas operações, tendo o mercado de capitais ao seu lado.

Contudo, não será agora que isso será concretizado, e isso não parece uma má ideia aos investidores. Os papéis do banco chegaram a subir mais de 5% na abertura do pregão de hoje, embora ainda distantes do projetado pelo mercado.

Dos sete analistas que acompanham a empresa, em dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, cinco recomendam compra, com o preço-alvo chegando até a R$ 90 — upside de 167%.

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O Banco Inter vale R$ 29,68 bilhões na B3.

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