Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Governo Lula: o que esperar do crédito de Nubank (NUBR33), Banco Inter (INBR32) e Banco Pan (BPAN4)

A próxima equipe econômica entende que o que pode fazer o PIB crescer é o consumo interno

Foto: Shutterstock/Geobor

Com a alternância de poder em Brasília a partir de 2023, o mercado financeiro avalia quais empresas estarão melhor posicionadas para navegar num novo viés econômico no Brasil. A despeito das devidas coligações políticas, os investidores já sabem o que esperar do presidente eleito Lula.

Durante 2003 e 2010, o governo de Lula conseguiu controlar os índices de inflação e manter a estabilidade da moeda brasileira, que ainda era recente. O período também ficou marcado pelo chamado boom das commodities, o que ajudou a alavancar a economia do país. 

Agora, o cenário será distinto, vide que a desaceleração global já bate à porta, enquanto a China – um dos maiores consumidores das matérias-primas brasileiras – já não cresce como no início do século. 

Entretanto, no contexto interno, Lula defende que, para um país crescer, os agentes econômicos, principalmente as pessoas físicas, precisam voltar a consumir. 

Nesse sentido, muito se pergunta como as instituições financeiras recém-chegadas ao mercado, ou então fintechs, agirão. Afinal de contas, durante os oito primeiros anos do governo petista no Brasil, elas sequer existiam. 

A economia de Lula

Se o crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro durante o governo Lula foi de 4% ao ano, o presidente eleito deverá se contentar com um avanço abaixo da média na atividade.

A expectativa para o ano que vem é que a economia cresça 0,70%, segundo estimativas de analistas ouvidos pelo Banco Central e compiladas no Boletim Focus da última segunda-feira (14). O FMI (Fundo Monetário Internacional) é um pouco mais otimista, e calcula uma alta de 1%, que, caso se confirme, ficará abaixo da média mundial. 

Como o Brasil não é uma ilha, a desaceleração ante o crescimento deste ano (que deve se aproximar de 3%) ocorre em razão da perda de fôlego da economia mundial.

Segundo o FMI, o PIB global deve aumentar somente 2,7% em 2023. Seria o pior crescimento desde 2001, desconsiderando a crise do subprime (2008) e os piores meses da Covid-19 (2020).

A redução dos estímulos monetários e a alta da inflação serão os vilões do ano que vem, embora haja expectativa de que os preços no agronegócios ainda permaneçam saudáveis

A economia de Lula em 2023 deve apostar em crescimento interno, incentivando o consumo e a volta das grandes obras públicas, que geram emprego e renda. Por mais que o vasto crédito possa trazer consequências negativas, como até meados da última década, essa deve ser a pedida do presidente eleito.

A concessão de crédito pelos bancos públicos pode ser um fator para o crescimento, ao pressionar empréstimos menos custosos por parte das instituições financeiras privadas, incluindo dos bancos digitais.

Um componente diferente dos primeiros governos petistas, entretanto, é a independência do Banco Central. 

Embora não haja qualquer impedimento de diálogo entre o Presidente da República e o presidente do BC, a autoridade monetária do país deve prezar pela manutenção do valor da moeda – e isso significa que enquanto a inflação não der indícios de controle, a Selic não entrará em trajetória de queda. 

Qual será o foco do governo Lula

Por mais que durante o segundo governo de Lula tenham surgido as “campeãs nacionais”, empresas como Oi e J&F, que cresceram com empréstimos a juros subsidiados e compra de participações, a próxima equipe econômica parece entender que o que pode fazer o PIB crescer é o consumo interno de pequenos produtores, pequenas empresas e pessoas físicas. 

Segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com dados do Caged, as micro e pequenas empresas foram responsáveis pela criação de 72% dos empregos gerados no Brasil até julho. 

Em um ambiente econômico interno aquecido para essas pequenas companhias, elas devem contratar mais e a geração de renda seria um combustível para a aceleração do PIB.

Com a “commoditização” dos serviços financeiros gratuitos, os bancos digitais passaram a arriscar-se na concessão de crédito, que no final das contas é a operação em que o banco ganha mais dinheiro.

Além dos cinco grandes bancos brasileiros, destacam-se junto às pessoas físicas e pequenas empresas Nubank (NUBR33), Inter (INBR32) e Banco Pan (BPAN4). 

Nubank

O Nubank tem a maior carteira de crédito dentre as maiores fintechs. O banco digital paulista encerrou o terceiro trimestre deste ano com um portfólio de US$ 9,7 bilhões, cerca de R$ 52,2 bilhões na cotação atual.

A fintech é amplamente concentrada em cartões de crédito. Esse, aliás, foi seu primeiro produto, lançado no primeiro trimestre de 2014. Ele foi o único produto do Nubank até o começo de 2017. Depois, foram introduzidos com o lançamento do crédito pessoal, cartão pré-pago, entre outros.

Nesses três anos iniciais, o número de clientes da fintech saiu de zero para 1,6 milhão. Com a necessidade em monetizar a operação, o banco ampliou o portfólio de produtos, enxergando que apenas os cartões de crédito seriam insustentáveis, além de representarem mais risco.

Atualmente, o índice de inadimplência acima de 90 dias do Nubank está em 4,7% da carteira. É o maior índice dentre os grandes bancos e os bancos digitais. Isso porque 80% da carteira está apenas em cartões de crédito, e os outros 20% em crédito pessoal – a maior disparidade dos últimos 12 meses.

Vale ressaltar, entretanto, que desde o segundo trimestre a fintech passou a praticar uma nova modalidade de baixa para alinhar o crédito pessoal com a expectativa de recuperação de crédito, seguindo o IFRS. 

A baixa dos empréstimos pessoais caiu de 360 dias para 120 dias, enquanto a do cartão de crédito se manteve em 360 dias. Seguindo a metodologia antiga, o índice de inadimplência de 90 dias teria subido mais do que o reportado no terceiro trimestre. Teria sido algo em torno de 5,4% da carteira. 

Embora o crescimento do portfólio de crédito tenha desacelerado em comparação ao reportado no segundo trimestre deste ano, é inevitável que o Nubank invista na ampliação de seus empréstimos.

Leia também:
Nubank sai do prejuízo mesmo com remuneração a sócios no 3º tri, mas inadimplência sobe

A boa notícia é que o custo de funding, ou seja, o quanto o banco tem de gastar para captar recursos com o intuito de emprestá-lo depois, tem diminuído. 

De acordo com dados da empresa, 49% dos clientes do Nubank – o equivalente a cerca de 35 milhões de clientes – são da baixa renda, que possivelmente terá mais acesso a algum tipo de assistencialismo do governo eleito e pode usufruir da proposta da isenção no imposto de renda de até R$ 5 mil mensais. 

Inter

No fim de setembro deste ano, o Inter tinha uma carteira de crédito que totalizava R$ 22 bilhões. Em um ano, o portfólio do banco mineiro cresceu 47%, considerando as operações de antecipação de recebíveis. 

O crescimento da operação de crédito indica uma das principais vertentes de crescimento enxergadas pelo banco, que é a concessão de crédito.

No terceiro trimestre deste ano, entretanto, a qualidade do crédito deteriorou-se, como esperado. O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 3,8%, 0,8 ponto percentual acima do reportado um ano antes, mas em linha com o segundo trimestre deste ano.

A aceleração dos calotes é consequência da maior exposição do banco a pessoas físicas. As fatias de cartão de crédito e crédito pessoal, juntas, equivalem à metade do portfólio de crédito do banco. Um ano antes, essa proporção era de 46%.

Perderam participação crédito imobiliário, corporativo e rural. 

A concessão de crédito para pessoas físicas, por um lado, enquanto exprime maior rentabilidade em função de elevado spread bancário, também representa mais risco, dada a condição da população brasileira.

O Inter angariou milhões de clientes com base no argumento da gratuidade e, no início, sem muitos benefícios voltados ao volume de consumo. Dessa forma, investiu em não bancarizados e renda baixa para construir uma relação duradoura. Agora, espera que os produtos e serviços – principalmente de crédito – sejam consumidos por essa população.

Enquanto esse processo ainda amadurece, o balanço patrimonial do banco mostra a proteção contra os riscos iminentes. A provisão para perda esperada quase dobrou em um ano, para R$ 1,18 bilhão. 

O índice de cobertura do Inter é de 114%, ainda relativamente baixo em comparação aos bancões, que têm mais expertise no negócio de crédito. Contudo, essa proporção tem aumentado, o que é um indicativo positivo. 

Do ponto de vista de rentabilização das operações de crédito, o Inter ainda deve apresentar resultados melhores até o início do ano que vem, com a reprecificação dos produtos, adequando-se à escalada da Selic e aumentando a margem de lucro com clientes.

Destaca-se também a exposição considerável do Inter ao setor imobiliário, diferentemente de Nubank e Pan. O novo governo deve acelerar as iniciativas como Casa Verde e Amarela (ou o Minha Casa, Minha Vida de volta). Aqui, o risco é menor e de longo prazo, o que traz maior estabilidade ao banco. 

Banco Pan

O Banco Pan, por sua vez, tem a segunda maior carteira de crédito e o segundo maior número de clientes das três fintechs. O portfólio conta com R$ 36,16 bilhões, e a base de usuários é de 22 milhões.

O banco chama os clientes ativos (que têm algum tipo de relação com a instituição) de “banking clients”. No terceiro trimestre deste ano, eles eram 76,5% da base total de clientes, 3,7 pontos percentuais acima do mesmo período do ano passado. 

O foco do Pan é monetizar sua ampla base de usuários oferecendo crédito vinculado a garantias, como veicular, consignado e empréstimo pessoal. São três vertentes de crédito muito demandadas por pessoas físicas mas que exprimem menor risco do que cartão de crédito.

Isso porque há uma garantia de retorno ou recebimento por parte do banco. Crédito de veículos e consignado (junto com FGTS) equivalem a 88% de toda a carteira do Pan.

O que pressiona a qualidade de crédito do Pan é o restante da carteira.

Os outros 12% estão distribuídos entre modalidades diversas, sendo a maior delas a de cartões de crédito (9%) da carteira), que têm sido uma saída das fintechs para angariar novos clientes nos últimos anos. O empréstimo pessoal, com apenas R$ 512 milhões no portfólio, responde por 1% da carteira, assim como atividades em run off.

O índice de inadimplência acima 90 dias do Pan é de 6,8%.

No terceiro trimestre, a despesa líquida de provisão de créditos totalizou R$ 488 milhões, o maior valor absoluto e o maior percentual da carteira (5,4%) desde o primeiro trimestre deste ano – o que acabou pesando no lucro e desagradando o mercado. 

O Pan trabalha junto às classes C, D e E, o que implica índices de inadimplência estruturalmente mais altos e crescimento pouco acelerado, mesmo com perfil de concessão de crédito conservador.  

O governo Lula tem planos para ajudar a população a reduzir suas dívidas, por meio do programa nomeado de “Desenrola”, que prevê renegociar até R$ 90 milhões em dívidas, criando um fundo garantidor de R$ 7 bilhões até R$ 18 bilhões.

Dado que o endividamento atinge 80% das famílias mais pobres, segundo a CNC, um programa do governo Lula de recuperação do poder de compra pode ser positivo para bancos como o Pan, que está exposto a classes com maior parte da renda já comprometida. 

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.