O Nubank (NUBR33), que em trimestres passados causou polêmica no mercado ao mostrar que só apresentava lucro se tirasse da conta o que paga em bônus aos executivos que também são acionistas da companhia, agora pode encher a boca para dizer que opera no azul com ou sem asteriscos.
Na conta que inclui a remuneração aos sócios, a empresa teve lucro líquido de US$ 7,8 milhões no terceiro trimestre, deixando para trás um prejuízo de US$ 29,9 milhões anotado em igual período do ano passado, de acordo com balanço publicado na noite desta segunda-feira (14).
No relatório que acompanha o balanço, o CEO e um dos fundadores da empresa, David Vélez, considerou o resultado como um “breakeven” para a holding, ou seja, quando um negócio passa a dar lucro — uma cobrança antiga do mercado para com a fintech brasileira.
No pós-mercado em Nova York, onde a ação do Nubank é negociada, o papel da fintech disparava após a divulgação do balanço do terceiro trimestre, com valorização de 15,17%, a US$ 5,01, por volta das 19h20 do horário de Brasília.
Tirando a remuneração do cálculo e os custos tributários que resultam desse pagamento, que gera o lucro líquido ajustado da empresa, o número fica ainda maior, de US$ 63,1 milhões, quase quatro vezes (ou alta de 271%) ante o registrado em igual período do ano passado, de US$ 17 milhões.
O número ajustado é normalmente o que os analistas do mercado costumam olhar mais e, nesse caso, o resultado divulgado foi uma surpresa positiva para o time do Goldman Sachs, que previa um lucro líquido ajustado quase pela metade, a US$ 34 milhões.
O resultado, por outro lado, frustrou os analistas do Bank of America, que esperavam um lucro líquido ajustado maior, de US$ 83 milhões. Já os analistas do Itaú BBA foram surpreendidos positivamente, pois imaginavam que a empresa daria prejuízo de R$ 176 milhões (ou US$ 33,5 milhões, em conversão que considera a taxa de câmbio tida como referência pelo Nubank no balanço).
Receita do Nubank cresce 172%
Um dos destaques do balanço do Nubank foi o aumento da receita. A empresa anotou faturamento de R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre, aumento de 172%, ou quase três vezes o valor anotado em igual período do ano passado.
O aumento é mais de duas vezes maior que o crescimento que o Nubank teve na base de clientes, de 46%, para 70,4 milhões, o que fez com que a companhia tivesse um ganho significativo na receita média mensal por cliente, que saltou para US$ 7,9 no terceiro trimestre, de US$ 4,9 um ano antes. E o custo de servir os clientes, por sua vez, se manteve estável, em US$ 0,80 por mês.
A empresa também viu o volume de transações crescer 75% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado, para US$ 21,2 bilhões, e o saldo de depósitos saltar 73%, para US$ 14 bilhões.
Nubank não escapa da inadimplência
No entanto, assim como tem ocorrido com todo o sistema financeiro, o Nubank não escapou da alta da inadimplência. No terceiro trimestre, a taxa de atrasos superiores a 90 dias subiu para 4,7%, de 4,1% no segundo trimestre.
A taxa do Nubank, contudo, é maior que a da média dos bancões, porque a fintech tem uma carteira de crédito basicamente focada em cartão de crédito e crédito pessoal, que são linhas mais arriscadas, sem garantia, e que costumam gerar mais atrasos nos pagamentos.
Além disso, a taxa de inadimplência do Nubank tem subido com mais velocidade do que em grandes bancos como Itaú, Santander e Banco do Brasil.
Spread cresce no terceiro trimestre
O Nubank, porém, ressaltou no balanço que a margem financeira da instituição – o quanto se ganha com juros nas operações de crédito – cresceu 172% em um ano, para R$ 527,3 milhões, com um spread médio – a diferença entre o que banco ganha com os empréstimos e perde para captar os recursos – de 11,1%, contra 7,7% de um ano antes.
Para a fintech, a melhora da margem “mais do que compensa o aumento da inadimplência”.