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Em um de seus melhores momentos na história, o que esperar da Petrobras (PETR4) em 2022?

Nesta semana, a petroleira fechou a porta de 2021 e finalmente abriu caminho para 2022 - que reserva altas emoções

Foto: Shutterstock

Há um ano, o presidente Jair Bolsonaro dava um dos passos mais polêmicos em sua gestão. Após o quarto aumento do preço dos combustíveis em sete semanas, logo no início de 2021, o mandatário demitiu o presidente da Petrobras (PETR4), Roberto Castello Branco.

No dia 22 de fevereiro de 2021, no pregão seguinte à mudança, as ações da empresa tombaram 21%. Em apenas dois dias, o valor de mercado da Petrobras foi enxugado em R$ 100 bilhões. Coincidentemente, o ímpeto de Bolsonaro destruiu valor na empresa controlada pelo governo.

À época, pouco se sabia sobre o que esperar, afinal, a empresa vinha de um processo de recuperação, com a venda de ativos considerados desnecessários, privatização de refinarias e encurtamento do endividamento. 

Aparentemente, a gestão do general da reserva Joaquim Silva e Luna, o escolhido por Bolsonaro para substituir Castello Branco, não foi tão ruim quanto o mercado esperava. Desde então, as ações da Petrobras já subiram quase 60% e a meta em atingir o patamar da dívida bruta em US$ 60 bilhões foi alcançada um ano antes.

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Nesta semana, a petroleira fechou a porta de 2021 e finalmente abriu caminho para 2022, com a divulgação de seu balanço referente ao exercício de 2021. 

Como se não bastasse, o agitado ano da Petrobras ainda contará com a eleição presidencial, onde ambos os líderes das pesquisas de intenção de voto questionam a paridade de preços internacionais da companhia. O que esperar para o restante de 2022? 

Cenário desafiador é compensado por Brent forte e alta diligência

O lucro líquido da Petrobras atingiu R$ 31,5 bilhões no quarto trimestre de 2021, leve alta em relação ao trimestre imediatamente anterior, mas representa uma queda de 47,4% em relação ao mesmo mês de 2020. 

A baixa do lucro em relação ao quarto trimestre de 2020 mostra a pressão das margens, custos elevados com GNL (Gás Natural Liquefeito) e fretes, além do aumento do lifting cost (custo de extração) – talvez a primeira pulga atrás da orelha da estatal quanto à inflação de custos. 

Ademais, a produção total de óleo e derivados apresentou leve recuo, de 2,4% na comparação entre 2021 e 2020, para 2,7 milhões boe (barris de óleo equivalente) por dia.

No ano passado, a empresa projetava o petróleo na casa dos US$ 45 por barril do tipo Brent. Porém, na prática, a média de preço da matéria-prima foi de US$ 75.

Preço do petróleo Brent. Fonte: Trading Economics
Preço do petróleo Brent. Fonte: Trading Economics

Seguindo o mantra “esperar o melhor, mas se preparar para o pior”, a companhia conseguiu superar seus desafios conjunturais e reportar aos seus investidores uma forte geração de caixa, excluindo desinvestimentos. 

Ao longo de 2021, a empresa anotou o recebimento de US$ 5,6 bilhões no caixa com o programa de desinvestimentos. No ano passado, foram realizadas 21 vendas, sendo que 14 negócios já foram assinados. 

Com o ouro negro próximo da casa dos US$ 100 pela primeira vez desde 2013, a empresa encontra-se em uma de suas melhores fases da história. 

O endividamento está equacionado, as operações mais centradas no core business da empresa, dólar tendendo a permanecer em patamares favoráveis por um longo período, águas ultra profundas dando os resultados esperados e casos de corrupção afastados, tudo isso com um cenário externo mais atrativo.

Perspectiva do petróleo

Uma vez que a paridade dos preços internacionais é mantida nas operações da Petrobras – mais do que se imaginava, diga-se de passagem – embora ainda haja desconto sobre o preço dos combustíveis mundo afora, é de se esperar que as ações da empresa acompanhem a cotação do barril.

O petróleo do tipo Brent, referência internacional para o mercado da commodity, vive uma dinâmica muito diferente daquela há quase dois anos, quando chegou a negociar a preços negativos no mercado futuro.

Com a pandemia dando sinais de arrefecime a demanda pela commodity, principalmente com a mobilidade cada vez mais normalizada, tomou tração mais rápido do que a oferta pela matéria-prima.

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estima que a demanda diária pela commodity aumente 4,2 milhões de barris por dia (bpd) em 2022, em relação ao ano passado. 

O aumento gradativo da produção pelo cartel ainda não deu conta de toda a demanda, o que tem deixado os preços desestabilizados. 

Agora, com as tensões entre Rússia, Ucrânia e OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) materializadas, o barril de Brent mais do que nunca permanece em alto patamar. Após subir 51% em 2021, a commodity já se valorizou 27% neste ano.

As tensões entre a nação liderada por Vladimir Putin, que é um dos integrantes do grupo aliado à Opep, e Ucrânia têm aquecido o mercado, com os investidores precificando um risco de desabastecimento de energia ainda mais intenso na Europa.

A Rússia bombeia aproximadamente nove milhões de barris de petróleo por dia. De acordo com informações da Bloomberg, isso equivale a 11,5% do total da produção global diária.

Se a escalada do conflito se mantiver ao longo das próximas semanas, ao menos o primeiro trimestre de 2022 da Petrobras será altamente beneficiado, com o forte ritmo das vendas com preços maiores. 

Movimento contrário da dívida bruta e da receita líquida da Petrobras nos últimos 10 anos

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Em contrapartida, o mercado também aguarda os desdobramentos das negociações entre Irã e outras grandes potências. As conversas giram em torno do acordo nuclear realizado entre Irã e Estados Unidos em 2015, mas que foi abandonado em 2018 após Donald Trump impor sanções ao país. 

O Irã quer passar a exportar seu petróleo livremente, sem os encargos econômicos. Estima-se que a nação seja capaz de abastecer o mercado em ao menos um milhão de barris por dia, o que pode arrefecer os preços com a oferta crescente.

O que esperar da Petrobras daqui para frente?

O cenário para a Petrobras apresenta algumas razões para otimismo por parte dos investidores, enquanto outras dúvidas rondam a empresa.

Uma das razões é a retomada ainda lenta dos investimentos na indústria, quase inexistentes nos últimos anos.

A migração para energias renováveis é um dos porquês. Outro motivo é o patamar do petróleo dentro das expectativas, onde as empresas se conformaram com os preços até a chegada da pandemia.

Nos últimos dois anos, porém, o cenário mudou. A procura por energia renovável não irá arrefecer – muito pelo contrário, em função dos entendimentos globais em prol do meio ambiente. Porém, a percepção é de que combustíveis fósseis continuarão fazendo parte da matriz energética global por um bom tempo.

Nos últimos anos, a Europa preteriu o petróleo e fez campanha para um mercado de energia limpa. As tensões geopolíticas encareceram assustadoramente os preços do gás natural.

Como um ciclo, agora a procura por energia volta ao ponto de partida. Sinal disto é a demanda por petróleo no maior patamar dos últimos quase 10 anos.

Com isso, os investimentos terão de ser reativados pela indústria – como até a Petrobras promete – mas ainda em ritmo lento, o que sustenta os preços no alto.

Por outro lado, os investidores terão de lidar com o cenário nebuloso das eleições presidenciais. 

O presidente Jair Bolsonaro, que tentará se manter no cargo por mais quatro anos, e o candidato petista e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já demonstraram suas insatisfações com a paridade de preços internacionais da Petrobras.

A volatilidade do preço dos combustíveis representa um custo político e de popularidade para quem estiver na cadeira presidencial.

Segundo a Petrobras, por mais que os combustíveis estejam defasados em relação aos preços no exterior, a estatal não conseguiu realizar nenhum ajuste desde 12 de janeiro, movimento beneficiado pela queda do dólar, o que equilibra a balança. 

Ainda não está claro até que patamar a Petrobras consegue manter esta relação. Os executivos da empresa afirmam que a perspectiva deve ser de longo prazo, ignorando a volatilidade do dia a dia, mas caso o petróleo se aproxime das marcas históricas, dificilmente o preço dos combustíveis não subirá para os consumidores finais. 

Ação da Petrobras é convidativa

A despeito da dualidade de perspectivas, a maior parte do mercado entende que as ações da Petrobras são uma boa oportunidade de compra neste momento.

De acordo com dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, 10 analistas recomendam as ações da estatal. O preço-alvo mediano é de R$ 36, levemente acima da cotação atual. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Em relação aos seus pares internacionais, a estatal brasileira também é uma das mais rentáveis, com ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) acima dos 30%, enquanto seus múltiplos são uns dos mais baixos da indústria.

Hoje, os investidores já observam a Petrobras como uma empresa fortemente pagadora de dividendos, após as distribuições ínfimas entre 2015 e 2018. E eles não estão errados.

Com a cavalar geração de caixa da companhia, nada indica que os novos pagamentos irão desacelerar. A política de remuneração a acionistas prevê que 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos, agora que a dívida bruta está abaixo de US$ 60 bilhões, será liberado através de dividendos. 

O CFO da empresa, Rodrigo Araujo Alves, afirmou que a Petrobras está comprometida com o plano de investimentos traçado para o período entre 2022 e 2026

Isso significa que o Capex (investimento em bens de capital para continuidade das operações) será alto ao longo dos próximos anos, mas isso não inibe a possibilidade de pagamentos adicionais até o fim do ano, segundo Alves. 

Além disso, a Petrobras reiterou recentemente que pretende alienar sua participação na Braskem (BRKM5), e está apenas esperando a janela de mercado correta. Mais um motor para a geração de valor que pode ser distribuída. 

O ano para quem acompanha a petroleira reserva altas emoções. O investidor de longo prazo deve se ater aos fundamentos da Petrobras. A volatilidade pode se tornar uma grande oportunidade para quem está preparado. 

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