Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Energizada pela capitalização, Eletrobras (ELET3) deve elevar rentabilidade em 2023 – entenda

A empresa realizou a maior oferta subsequente de ações no Brasil desde 2010 e agora traça caminho de crescimento

Foto: Shutterstock/AlvaroMP

Em um ano agitado, a Eletrobras (ELET3) entregou o que o mercado esperava. Em junho deste ano, a esperada privatização da maior empresa de geração de energia do país aconteceu, destravando valor aos acionistas e investimentos futuros. 

A empresa realizou a maior oferta subsequente de ações no Brasil desde 2010, movimentando R$ 33,6 bilhões e deixando as amarras estatais para trás. Por mais que o governo ainda tenha a golden share sobre a Eletrobras, a companhia agora pode equiparar-se aos pares privados. 

Isso significa que a empresa caminha para tornar-se mais eficiente em custos, embora a chegada ao setor privado também represente aumento salarial de até 3.576% a seus executivos.

A proposta da empresa é de elevar o salário dos conselheiros de administração de R$ 5,44 mil para R$ 200 mil, adequando as remunerações ao setor privado. O salário do presidente, Wilson Ferreira Júnior, sairia de R$ 52,3 mil para R$ 300 mil. 

Enquanto isso, a companhia anunciou, em outubro, um programa de demissão voluntária que deve custar a seus cofres R$ 1 bilhão. A previsão é de que em menos de um ano os recursos sejam recuperados com menores gastos com pessoal.

Leia também:
Eletrobras ou Engie? Uma delas tem maior potencial de valorização, segundo o Goldman

O ano de 2023 da empresa será o primeiro de forma integral enquanto privada, e embora seja esperada uma mudança radical no viés econômico do governo federal, não há muito o que o governo Lula possa fazer para reverter a desestatização.

Por mais que a gestão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mude, a margem de manobra do governo é praticamente nula e não exprime risco à Eletrobras. 

Se o governo quiser fechar o capital da empresa, terá de pagar um prêmio de 200% sobre a cotação negociada na B3 – o que atualmente equivale a um valor de aproximadamente R$ 318 bilhões.

Do ponto de vista de resultados operacionais e investimentos, espera-se uma empresa mais ágil e com margens mais sólidas em comparação a anos passados, fazendo valer a posição de representante de 28% da capacidade instalada nacional.

A Eletrobras em 2022

Em continuidade aos bons resultados proporcionados pela gestão de Wilson Ferreira Júnior, a companhia reportou um resultado satisfatório ao longo de 2022.

Especificamente no terceiro trimestre deste ano, o primeiro enquanto ainda privatizada, a companhia registrou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) abaixo da maior parte das previsões do mercado, em razão de provisões de litígios, na ordem de R$ 766 milhões, e empréstimos compulsórios, na ordem de R$ 108 milhões.

A receita líquida da empresa, que atingiu R$ 8 bilhões, caiu 13% na comparação anual, influenciada pelo reajuste das linhas de transmissão. A operação da empresa também apresentou forte aumento nos custos gerenciáveis, que incluem pessoal, material, serviços de terceiros, etc. 

No fim das contas, a empresa teve um prejuízo de R$ 88 mil, mas desconsiderando eventos não recorrentes — como a consolidação da dívida de Santo Antônio, os litígios e empréstimos — o resultado líquido teria sido positivo em cerca de R$ 1 bilhão. 

No acumulado do período entre janeiro e setembro deste ano, os avanços do resultado operacional são tímidos, acompanhando o cenário mais difícil para o setor, com preços de energia pressionados. A geração de caixa e o lucro, por sua vez, entraram em rota de queda.

Mesmo assim, os investimentos não deixaram de acontecer, avançando 59% na comparação anual, chegando a R$ 4,04 bilhões. 

Nesse sentido, destacam-se os investimentos em atividades de geração e transmissão, sobretudo na manutenção dos negócios.

A possibilidade de investimentos competitivos que façam sentido operacional para a companhia foi uma das razões pelas quais a privatização se fez necessária, e espera-se que os frutos sejam colhidos ao longo dos próximos anos, embora o curto prazo não reserve grandes pagamentos de dividendos ou resultados chamativos.

Os meandros da privatização

Com um setor em constante mudança, a desestatização da Eletrobras ocorreu baseada na necessidade de a companhia se tornar eficiente e não cair no marasmo e rota de prejuízos que se encontrou até meados da última década.

Há dez anos, a então presidente Dilma Rousseff anunciou um corte de energia residencial e para o setor produtivo. Quem pagou a conta foram as empresas do setor, que tiveram entre escolher renovar suas concessões próximas do vencimento com tarifas muito menores ou então devolver os ativos após o fim da concessão. 

As companhias acumularam mais de R$ 100 bilhões em prejuízos, que acabaram levando algumas à falência. 

Nesse momento, foi criado o regime de cotas, que fez com que a Eletrobras registrasse perdas na ordem de R$ 30 bilhões em cinco anos e sua alavancagem disparou para oito vezes o Ebitda. 

Com a privatização, a companhia deve atuar sob uma dinâmica de mercado que irá remunerar melhor seus ativos. 

Com a privatização, a empresa se tornou uma corporation, que tem capital diluído. Antes da follow-on, o governo federal possuía 75,2% das ações da companhia, que se dava por meio da fatia direta ou então por subsidiárias, como BNDES.

Ao não acompanhar a capitalização, o governo federal passou a ter uma participação de 39,4% das ações ordinárias da empresa, somando todas as partes. 

O governo ainda mantém uma golden share (ação de ouro), que dá direito ao governo em impedir mudanças no estatuto social, vetar projetos de fusão e impedir que algum investidor atinja mais de 10% de participação na companhia. 

Com a privatização, os cofres públicos foram abastecidos em R$ 100 bilhões, segundo contas do Ministério da Economia. 

O que pode mudar em 2023

O mercado precifica melhorias operacionais e aumento da rentabilidade da companhia com a privatização. Por mais que 2023 não deva ser um ano de grande aceleração, são aguardadas mudanças relevantes no comando da companhia.

Por mais que as perspectivas sejam positivas, o setor de energia elétrica como um todo vive sob expectativas pessimistas para 2023, com preço de energia reduzido, sobreoferta e dúvidas quanto ao viés da nova equipe econômica do governo.

No caso da Eletrobras, há preocupações com as provisões para empréstimos compulsórios. A reestruturação da empresa em si também é algo que assume riscos, sobretudo de execução. 

Entretanto, do lado positivo, o ano deve ser marcado por alguns gatilhos a serem destravados, como os novos preços do portfólio com fim do regime de cotas, uso dos benefícios fiscais e alienação de ativos não core.

Além disso, outros dois temas também são particularmente importantes e os investidores devem manter no radar. A primeira delas diz respeito à migração para o Novo Mercado, como coroa para uma melhor governança corporativa. 

O processo já havia sido iniciado, mas as “condições de mercado” interromperam a ideia da companhia, que já disse que pretende voltar às conversas em 2023. 

Além disso, também espera-se que a companhia possa voltar a participar de leilões de geração e transmissão de energia. Profissionais do mercado estimam que novas concessões de transmissão de energia devem atingir R$ 50 bilhões em 2023, concentrando as operações em junho. 

Atualmente, a empresa detém mais de 70 mil km de linhas de transmissão, representando 50% de toda capacidade instalada do país. 

Operada como uma holding, a companhia é líder do mercado brasileiro, controlando mais de 20% de toda a indústria, com base nas produções de Furnas, CHESF, Eletronorte, CGT Eletrosul e Eletronuclear (35,9%).

O otimismo do mercado para a Eletrobras é generalizado. Das nove recomendações compiladas pela Refinitiv, apresentadas na plataforma do TradeMap, todas são de compra, sendo uma de forte compra. Considerando a mediana, o preço das ações ainda teriam de subir cerca de 50%.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.