A Bolsa brasileira se descolou do mercado internacional e fechou o mês de maio no campo positivo. Entre os principais índices, o que mais subiu foi o das ações pagadoras de maiores dividendos (Idiv), com alta de 4,3%, mas o Ibovespa também teve desempenho significativo, com avanço de 3,2%.
Da mesma forma, no acumulado do ano, as ações apresentam boa rentabilidade. O Ibovespa sobe 6,2%. A título de comparação, nos Estados Unidos, o índice Nasdaq cai 22,75% no período e o S&P 500, 13,30%.
“No exterior, as ações voltadas para crescimento, como as de tecnologia, sofreram muito. No Brasil, tivemos um bom desempenho puxado por Petrobras e commodities em geral, e também bancos”, diz Fernando Araújo, sócio e gestor da FCL Capital.
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Ainda no ranking de investimentos, a lanterna, no mês e no ano, está com o Bitcoin, com quedas expressivas de 19,7% e 41,7%, respectivamente.
O tombo no mês está ligado ao crash na Luna Foundation, mas a criptomoeda já vinha sofrendo desde o início do ano, com a perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos e a guerra na Ucrânia.
Brasil descolado
Na avaliação de Michael Viriato, estrategista da assessoria de investimentos Casa do Investidor, são dois os motivos que explicam o descolamento da Bolsa brasileira em relação ao exterior.
O primeiro é que as commodities têm um peso expressivo na composição dos índices e, com as matérias-primas em alta, as ações desse setor tendem a acompanhar, como é o caso de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). Esses papéis acumulam no ano altas de 28,35 e 14,84%, respectivamente.
Um outro motivo é o momento do ciclo monetário em que o Brasil se encontra.
A taxa Selic começou a subir em março do ano passado e atualmente está em 12,75%. É esperado ao menos mais um aumento, no próximo mês, mas ainda assim os economistas acreditam que esse ciclo de elevação já está no final.
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Nas principais economias do mundo, o cenário é diferente. Há pressão inflacionária e os juros ainda não começaram a subir. Sem saber o tamanho e a extensão do ciclo, investidores ficam mais avessos ao risco, o que prejudica o mercado acionário.
“Até o meio do mês, ninguém esperava esse desempenho da Bolsa brasileira. Parte da alta está atrelada à concentração em commodities”, diz Viriato.
Incertezas no curto prazo
Embora o Ibovespa tenha motivos para estar descolado do mercado acionário global, especialistas lembram que o cenário interno é turbulento.
O Ibovespa sobe sustentando por poucos setores. Muitas ações ainda estão descontadas porque são prejudicadas pelo ciclo de alta de juros e inflação, como o varejista.
Mesmo que o BC pare de subir a taxa Selic, os efeitos da política monetária vão perdurar, com menos investimento e consumo – e o processo de redução costuma ser lento.
Outra razão é a aproximação da eleição presidencial, que tende a adicionar volatilidade conforme as propostas dos candidatos ficam mais claras.
Em relação ao exterior, há a elevação dos juros nas principais economias, a guerra e os efeitos dos lockdowns na China, que podem afetar inclusive a demanda por commodities.
“Não é para sair da Bolsa, mas é preciso ser mais seletivo. A renda fixa está pagando bem e com menor risco. Para compensar, o investimento em ações tem que entregar um retorno maior”, diz Viriato.
Na avaliação do estrategista, a perspectiva de ganho em renda variável precisa ser mais de cinco pontos percentuais acima do que paga a renda fixa.
Com a Selic no atual patamar, o investidor tem a sua disposição títulos de baixo risco que seguem a taxa de juros ou atrelados à inflação. O Tesouro Selic 2026 está pagando IPCA mais 5,6% e há opções de crédito privado em que há a correção da inflação e juros de mais de 6% – nesses casos, o investidor precisa ficar atendo também à liquidez e aos prazos de vencimento.
“Uma ação, pelo risco, precisa de um potencial de valorização de mais de 20%”, indica.
Nem todos os papéis vão apresentar essa perspectiva. O índice small caps fechou junho com uma queda de 1,8% e, no acumulado do ano, acumula perdas de 4%.