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Tesouro Direto: títulos prefixados lideram perdas de novembro, com queda de até 4,8%; saiba mais

Volta do risco fiscal pressionou humor dos investidores, que exigem mais juros para financiar o governo

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

O investidor brasileiro voltou a perder o sono com as incertezas dos rumos da política fiscal a partir de 2023, com um nível de estresse que ficou mais perceptível em função do aumento da volatilidade dos títulos públicos negociados pelo Tesouro Direto em novembro.

Passado o período eleitoral, o programa voltado para pessoas físicas teve alguns dias de suspensão dos negócios ao longo do mês, com as taxas exigidas para o financiamento do governo atingindo níveis não vistos desde 2016 e, consequentemente, com uma forte queda da rentabilidade dos papéis.

O estresse no Tesouro cresceu com o início de uma virada de percepção do mercado, que passou a enxergar a possibilidade de alta da taxa Selic, no atual patamar de 13,75% ao ano, em 2024, para conter a inflação a ser desencadeada pelo aumento dos gastos públicos.

Dados do Boletim Focus, que traduzem o que o mercado espera para os rumos da economia, mostram que a previsão para a Selic do ano que vem passou para 11,50% ao ano, contra 11,25% no início de novembro. Para 2024, a projeção para os juros subiu de 8,0% para 8,25% ao ano.

Entre os títulos com retornos prefixados, os prêmios chegaram a superar a casa dos 14%, enquanto as taxas das opções indexadas à inflação ficaram acima de 6%.

Vale lembrar que a alta dos prêmios é inversamente proporcional ao preço dos papéis, ou seja, quanto maiores os juros, mais desvalorizado fica o investimento.

Das 11 opções disponíveis para compra no Tesouro Direto hoje, apenas os dois papéis indexados à Selic tiveram saldo positivo. A maior perda partiu do Tesouro Prefixado com vencimento em 2029, de 4,8%.

Na ponta oposta, o Tesouro Selic 2025 teve alta de 1% em novembro, enquanto o preço e a opção com encerramento em 2027 subiu 0,95%.

No recorte de 12 meses, apenas os títulos indexados à Selic ganham da variação do CDI, de 11,99% no período.

Confira a seguir o desempenho de todos os títulos públicos disponíveis atualmente para compra no Tesouro Direto em novembro, no acumulado ano e em 12 meses.

E lembre-se que você só terá as perdas ou os ganhos indicados se vender os papéis antecipadamente. Se os títulos forem carregados até o vencimento, o retorno vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento da aquisição.

Risco fiscal pressiona taxas (de novo)

Mais uma vez, o risco fiscal foi o grande vilão das taxas vistas no Tesouro Direto em novembro. O governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem testando a paciência dos investidores diante da negociação para aumentar os gastos públicos a partir do próximo ano para cumprir promessas de campanha e desafogar o Orçamento de 2023.

Os petistas trabalham para aprovar a PEC da Transição que, entre outros pontos, tira cerca de R$ 175 bilhões do teto de gastos – a regra que limita as despesas do país – para manter o Bolsa Família em R$ 600, com um adicional de R$ 150 para cada criança de até seis anos.

Apenas para 2023, a conta seria ainda maior, de quase R$ 200 bilhões, com mais de R$ 20 bilhões para investimentos.

Apesar de pedir mais dinheiro, a PEC não determina contrapartidas para bancar os recursos, e também não indica qual será a nova âncora fiscal do país com a destituição do teto de gastos.

A PEC já está em tramitação no Senado, que já sinalizou mudanças no texto, como limitar os gastos fora do teto por dois anos. O documento também precisa ser chancelado por deputados federais antes de entrar em vigor.

Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, destaca que o risco fiscal com o novo governo já estava no preço dos ativos antes das eleições, porém avalia que não na magnitude observada agora.

“As últimas duas semanas, com as declarações do governo de transição, foram em direção a um aumento de gastos e uma política fiscal expansionista”, pontua. “Isso já estava no radar antes das eleições, mas não se imaginava uma licença para gastar R$ 200 bilhões fora do teto.”

Em paralelo ao desdobramento da PEC, o mercado tem perdido o sossego com a indefinição da equipe econômica do governo eleito. Na última semana, investidores reagiram com altos e baixos a rumores de que a Fazenda seria comandada pelo ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ao lado de Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e um dos “pais” do Plano Real, no Planejamento.

O encanto, porém, logo se desfez, após Arida negar intenções de atuar em Brasília.

O nome de Haddad ainda figura entre as principais apostas para assumir o comando da equipe econômica, apesar da rejeição de investidores a essa possibilidade.

“O mercado estava esperando que Lula fosse anunciar um ministro mais pró-mercado. Houve uma série de boatos, e o mercado entendeu que seria escolhido um nome mais gastador”, assinala Igor Cavaca, gestor de investimentos da Warren.

Tesouro IPCA: coringa contra a instabilidade?

Diante de um quadro de incertezas políticas, analistas do mercado indicam cautela na hora de se posicionar no Tesouro Direto. Não estão descartadas novas altas nas taxas dos papéis, o que deixa o investimento em títulos com retornos prefixados ainda mais arriscado.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, destaca que as tramitações da PEC devem continuar estressando o mercado, o que deve gerar ainda mais volatilidade para os indicadores.

“Caso a proposta seja aprovada com um aumento mais restrito nos gastos extrateto, os juros podem voltar a cair, o que traria ganhos para os títulos pré e indexados ao IPCA”, explica. “Por outro lado, se aprovada como foi proposto, o aumento de gastos é significativo e pode causar pressões inflacionárias e resultar em nova alta dos juros.”

Com isso, analistas preferem atualmente opções de títulos indexados ao IPCA+, que podem oferecer bons rendimentos em casos de arrefecimento dos juros ou de piora das expectativas para a inflação.

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Os títulos do tipo Tesouro IPCA+ são compostos por duas formas de remuneração: uma prefixada, estabelecida no momento da compra, e outra que segue a variação da inflação no período de duração do papel.

Caso o governo diminua a fervura do mercado, a taxa prefixada tende a cair e o preço, se valorizar. Em um cenário oposto, a fração da inflação sobe, mantendo o investimento blindado contra a variação de preços.

“Os títulos de IPCA+ funcionam como um coringa nos momentos de incerteza, principalmente para prazos de médio a longo prazo, como dois a cinco anos”, diz Sueishi, da Manchester.

Do prazo citado pelo analista, o Tesouro Direto oferece hoje a opção de compra de títulos atrelados à inflação com vencimento em 2026, com taxa acima de 6%.

Na mesma linha, Cavaca, da Warren, destaca que os papéis do tipo Tesouro IPCA são os mais seguros até que o investidor tenha mais definições de qual direção será dada para a política de gastos do futuro governo.

Os papéis indexados ao IPCA sofreram fortes perdas nos últimos meses em meio ao processo de desinflação da economia, algo que não é mais esperado para o futuro.

“Não vejo um cenário de deflação pelos próximos dois anos. Os papéis de inflação são boas opções para quem quer garantir o poder de comprar e tomar menos risco”, diz.

O que fazer com o Tesouro Prefixado?

Os analistas consultados ressaltaram que os prefixados estão com taxas bastante atrativas, próximas de 14%, porém, como ainda há muita incerteza, o investidor pode se prejudicar com a marcação a mercado, ou seja, a atualização diária dos preços.

Sueishi, da Manchester, diz que as opções são recomendadas apenas para quem está confortável em aguentar a volatilidade. Mesmo assim, não indicaria mais do que 5% do portfólio nesse tipo de papel.

“O momento ideal para aumentar a exposição é em uma virada de tendências. Para isso ocorrer, precisa haver uma sinalização clara do novo governo de uma contrapartida fiscal”, diz. “Apesar das taxas bastante atrativas, o que temos agora é muita incerteza e nenhuma sinalização de melhora fiscal.”

A Warren ainda mantém em sua carteira posições prefixadas, mas com uma exposição menor do que em outubro, quando as incertezas ainda não estavam tão latentes nos preços.

Segundo Cavaca, dezembro ainda deve ser de muita indefinição, o que o leva a manter a distância dos papéis mais sensíveis ao aumento dos juros, como os prefixados.

“Existe a possibilidade de subir os juros, mas só vamos ver isso em janeiro caso aconteça alguma medida fora do esperado”, diz.

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