Juros sobem e negociação do Tesouro Direto é suspensa após fala de Haddad

Mercado voltou a reagir negativamente com a falta de clareza sobre os rumos da política fiscal a partir de 2023

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

As negociações dos títulos do Tesouro Direto voltaram a ser suspensas por quase uma hora no início da tarde desta sexta-feira (25) após novos picos de volatilidades nas taxas diante do aumento do risco fiscal do país.

Por volta das 14h50, as transações foram retomadas, com as taxas mais pressionadas em relação ao registrado antes da interrupção. Os títulos prefixados com vencimento em 2025 tinham taxa de 13,85%, ante 13,62%. Já os com fim em 2029 eram negociados a 13,65%, contra 13,43% horas antes.

Os papéis indexados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) também subiam. A opção com vencimento em 2026 tinha taxa de 6,42%, ante 6,31% antes. O papel com fim em 2045 passou de 6,21% para 6,32%.

Os títulos reagem ao aumento da curva dos juros futuros após operarem próximo da estabilidade durante a manhã. Os contratos DI para janeiro de 2024 subiam 13 pontos-base, para 14,48%, enquanto o com vencimento em janeiro de 2025 tinha alta de 20 pontos-base, para 13,68%, segundo dados da plataforma TradeMap.

Na mesma hora, o dólar engatava alta de 2%, a R$ 5,41.

Mercado reage mal a fala de Haddad

Mais uma vez, o mercado reagiu de forma negativa às sinalizações do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na condução da política econômica a partir de 2023.

O gatilho desta sexta-feira foi deflagrado pela fala do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, durante o tradicional almoço que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) faz anualmente com os principais banqueiros do país.

No evento, Haddad voltou a criticar o teto de gastos, considerado a principal âncora fiscal do país, e afirmou que o próximo governo vai dar prioridade à reforma tributária, um anseio antigo dos empresários e investidores.

“O teto de gastos, embora reputado como o que garantiu que a inflação não voltasse (mais alta), não conseguiu inibir a piora do gasto público”, disse.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, a percepção negativa se deu mais pelos pontos que o ex-ministro não tocou em seu discurso.

Entre as frustrações, estavam a falta de explicações de como a PEC de Transição será financiada e qual a nova regra que o futuro governo vai instaurar no lugar do teto de gastos para evitar o descontrole da dívida pública.

“Continua um discurso alinhado com agenda economia do PT, que não parece muito preocupada com o problema fiscal que a gente tem”, afirmou. “O mercado está precisado de sinalização de médio a longo prazo sobre qual vai ser o arcabouço fiscal do país, e foi falado que isso só vai ser discutido depois da posse.”

Mercado já vê Haddad como ministro, dizem analistas

A ida de Haddad em nome de Lula no evento da Febraban fortaleceu as apostas de o ex-ministro ser indicado para comandar a Fazenda (atual Ministério da Economia), afirmam analistas do mercado.

Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, que acompanhou o evento à distância, a postura de Haddad foi a que se espera de alguém que está se preparando para assumir o comando da equipe econômica.

“Da forma que ele falou, sobre o que ele falou e o tom que ele usou, é alguém que vai trabalhar em cima desses pontos, ou seja, o próximo ministro da Fazenda”, afirmou.

As sinalizações de que o ex-prefeito seria indicado ao Ministério da Fazenda não é vista com bons olhos pelo empresariado, que esperava a nomeação de alguém mais alinhado ao mercado financeiro e de perfil técnico.

“O Haddad não é um economista de carreira, e é muito claro que o Lula quer colocá-lo lá para dar evidência [a ele] e ser o sucessor na próxima eleição”, disse Laatus.

As sinalizações de que Persio Arida, ex-presidente do BNDES e do Banco Central, além de ser um dos “pais do [Plano] Real”, assumisse o posto de comando no futuro Ministério do Planejamento trouxe alívio aos mercados na quinta (24).

Na visão de analistas, a entrada de alguém com perfil mais liberal iria equilibrar a balança e evitar a disparada dos gastos.

Para Borsoi, no entanto, o histórico de Arida não condiz com o que se espera de um ministro do Planejamento. “Embora isso tenha sido veiculado, o mercado vê com desconfiança a capacidade factível de isso acontecer, parece desalinhado a questão de perfil.”

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