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Tesouro Direto: taxas sobem após queda do IPCA-15; é hora de vender títulos atrelados à inflação?

Analistas ainda veem Tesouro IPCA+ como atrativo de olho em ganho com redução da taxa Selic

Foto: Shutterstock

Depois de abrirem em queda pela manhã, as taxas dos papéis do Tesouro Direto subiam na tarde desta quarta-feira (24), acompanhando o ajuste no mercado futuro de juros.

Apesar de o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ter mostrado uma desaceleração da inflação, a queda em agosto foi menor que a esperada pelo mercado, o que explica o movimento dos títulos públicos.

Além disso, o mercado de renda fixa já tinha precificado esse cenário de arrefecimento da inflação, com as taxas do papel Tesouro IPCA+ negociando abaixo de 6%, enquanto o piso dos títulos pós-fixados já estava ao redor de 12%, ante os 12,76% do fim de julho.

Diante da expectativa de continuidade de arrefecimento da inflação nos próximos meses, surge a dúvida: os papéis Tesouro IPCA+ ainda são uma boa opção?

O IPCA-15 caiu 0,73% em agosto, a maior baixa desde o início da série histórica, que começa em novembro de 1991. A queda foi menor que a esperada pelo Itaú Unibanco, que projetava recuo de 0,82%. Em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA-15 desacelerou de 11,4%, em julho, para 9,6%, em agosto.

A projeção dos analistas no último Boletim Focus, divulgado em 22 de agosto, aponta para uma inflação de 5,33%, no fim de 2022, e de 3,41%, em dezembro de 2023. Após o IPCA de julho mostrar uma deflação de 0,68%, é esperada uma nova queda da inflação em agosto, como apontado na prévia do IPCA-15. Quando isso acontece, os papéis do Tesouro indexados ao IPCA podem ter uma redução do retorno no curto prazo, já que pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação.

Nesta quarta-feira, as taxas dos títulos dos papéis prefixados do Tesouro Direto mostravam avanço às 15h50, na última atualização de preços do dia. O prêmio do papel prefixado para 2025 subia de 12%, do fechamento de terça-feira, para 12,04%, hoje, enquanto a taxa do título prefixado para 2029 avançava de 11,97% para 11,99%.

Já os prêmios dos títulos Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 subiam de 5,56% para 5,58%, enquanto a taxa do título para 2045 recuava de 5,82% para 5,81%.

Nos últimos 30 dias, os títulos do Tesouro IPCA+ com vencimento para 2024 tiveram a menor alta de preços entre todos os papéis do Tesouro Direto.

 

É hora de vender o papel Tesouro IPCA+?

Para José Bechara, diretor da Órama Singular, family office da Órama Investimentos, os títulos do Tesouro IPCA+ ainda são uma opção interessante de investimento, especialmente aqueles com vencimento mais longos, a partir de 2030, que têm apresentado melhor performance, com a queda das taxas de juros prefixadas. Quando a taxa de juros dos títulos cai, os preços sobem.

“Esse papel é o veículo no qual a gente prefere se posicionar, porque tem um componente de retorno prefixado, que pode se beneficiar da queda de juros, e, se tiver uma surpresa negativa, o investidor estará protegido de uma inflação maior”, diz Bechara.

Para o diretor da Órama Singular, o mercado já reflete em grande parte o risco eleitoral e as medidas anunciadas pelos dois principais candidatos a presidente, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como a extensão do Auxílio Brasil de R$ 600 para 2023.

Com isso, Bechara espera que, havendo uma redução das incertezas em relação à política fiscal no próximo governo após a eleição, há chance de o juro real, isto é, da taxa prefixada paga pelo papel Tesouro IPCA+, cair para 4%. Se esse cenário acontecer, os papéis emitidos hoje com taxas maiores tendem a se valorizar.

“O mercado já embutiu, em grande parte, o risco eleitoral e a extensão do Auxílio Brasil. Se não fosse isso, o juro real estaria bem menor e a Bolsa, mais valorizada”, diz.

Segundo Bechara, o governo, qualquer que seja, terá todo incentivo para manter um arcabouço econômico razoável e permitir, assim, a queda da taxa Selic ano que vem. “Se não mantiverem um arcabouço fiscal razoável, vão sofrer consequências políticas”, assinala. “A sociedade não está disposta a retroceder e isso é importante porque o Legislativo representa as demandas da sociedade.”

Para a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, o importante é que, seja qual for a âncora fiscal – dada pelo teto de gastos (que limita o aumento de despesas do governo à inflação do ano anterior) ou outra medida de controle fiscal -, o Orçamento deve ser cumprido respeitando o controle da dívida pública.

“Mas não estamos vendo um aumento exarcebado da aversão a risco por conta das eleições e a gente não vê uma ruptura drástica da política econômica com nenhum dos principais candidatos”, diz Pasianotto.

Nesse contexto, Pasianotto vê os papéis do Tesouro IPCA+ ainda como interessantes, porque protegem a renda do investidor contra o aumento da inflação.

A economista da Reag também enxerga oportunidade nos papéis prefixados, com a aproximação do fim do ciclo de alta de juros e a expectativa de corte da taxa Selic em 2023.

A Reag espera uma redução da Selic, hoje em 13,75%, a partir de setembro de 2023, devendo terminar o ano que vem em 11%. A casa ainda projeta um IPCA de 7%, neste ano, e de 5,5%, em 2023.

“Estamos ainda com um cenário conservador para a queda da taxa básica de juros, em função das incertezas no cenário externo com a alta da inflação e de juros nos Estados Unidos e o risco de recessão”, diz Pasianotto.

O mercado aguarda o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, banco central americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira (26), que poderá dar novas pistas sobre o ritmo de alta de juros nos EUA.

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