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Stuhlberger: Eventual governo Lula poderá ser pragmático, mas inflação e juros deverão ser mais altos

Para Xavier e Stuhlberger, da SPX e da Verde Asset, risco eleitoral diminuiu e está beneficiando ativos brasileiros

A melhora da percepção de um cenário mais negativo para o Brasil derivado de uma eleição mais polarizada contribuiu para a redução dos prêmios de risco no mercado, o que permitiu a valorização dos ativos locais, como o real e Bolsa.

A avaliação foi feita nesta quarta-feira (23) pelos gestores Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, e Luis Stuhlberger, sócio da Verde Asset e responsável pelo lendário multimercado Verde, durante evento do BTG Pactual.

Apesar de verem um eventual governo Lula mais pragmático no campo fiscal, contudo, o risco é de uma inflação e de taxas de juros mais altas no país com a volta do ex-presidente ao poder.

“O mercado tinha a percepção de que a eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro levaria a uma deterioração do Brasil e esse risco de cauda foi um pouco eliminado”, disse Xavier.

Para o sócio-fundador da SPX, essa melhora da percepção de risco parte do fato de o mercado não esperar grandes surpresas negativas no processo eleitoral, uma vez que o governo Bolsonaro também daria continuidade à política atual.

Da mesma forma, os investidores veem um eventual governo Lula com uma direção mais ao centro, percepção reforçada com a sinalização de que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, vai assumir o posto de candidato a vice-presidente. “Tenho escutado que com o presidente Lula teremos alguma responsabilidade fiscal, ele não vai perder de vista o cenário fiscal”, afirmou Xavier.

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Visão parecida tem Daniel Goldberg, sócio e diretor de investimentos da gestora Lumina Capital. “Lula deve ser pragmatista e centrista, buscando um governo de coalização.”

O problema, segundo o gestor da Lumina, será a administração das políticas microeconômicas e as dúvidas sobre a continuidade das reformas, como a trabalhista e a do setor de infraestrutura. “O cenário base é que devemos ter um governo ruim, mas não péssimo na parte macroeconômica, mas muito bagunçado na parte microeconômica”, pontuou Goldberg.

Para o sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves, um eventual governo petista deve ser mais semelhante ao segundo mandato do governo Lula.

Stuhlberger endossou o coro e disse que o mercado não acredita que, em um eventual governo Lula, o Brasil vai naufragar com medidas populistas, embora terá que conviver com inflação e taxa de juros mais altas. “Talvez a gente tenha que mudar a meta de inflação para algo mais compatível com um centro de 4,5%, com dois pontos percentuais para cima e para baixo”, disse.

“BC errou em baixar demais a Selic e pode errar novamente agora”

Para Xavier, o Banco Central errou na política monetária em 2020 e no início de 2021, levando a taxa Selic para o menor patamar de 2% ao ano, e agora pode errar novamente se for muito longe na estratégia de apertar muito a política monetária.

“Houve um certo exagero na calibragem da política monetária no início de 2020 e 2021, que levou o real a ficar desancorado”, disse Xavier.

O gestor da SPX destacou que agora, por outro lado, há esgotamento da poupança das famílias e o serviço da dívida já compromete mais de 30% da renda, o que vai ter impacto na redução do consumo e aumento da inadimplência.

No curto prazo, Xavier acredita que os ativos brasileiros ainda devem continuar a ter uma boa performance com a melhora da percepção de risco com o cenário eleitoral, um ajuste da política monetária no Brasil maior que nos mercados desenvolvidos (o que ajuda a atrair capital, dado o diferencial de juros) e a alta dos preços das commodities, que traz uma melhora dos termos de troca para o Brasil e reduz a pressão de alta no câmbio.

“Mas não acho que o câmbio vai perdurar nesses níveis para frente, principalmente porque a política monetária vai começar a ficar apertada no resto no mundo mais à frente e o Banco Central vai ter que afrouxar a política monetária em algum momento”, disse Xavier.

Inflação e juros mais alt0s nos mercados desenvolvidos trazem risco para ativos

Um dos grandes riscos para o mercado neste ano destacado pelos gestores é a reversão das políticas monetárias estimulativas adotadas pelos bancos centrais americano e europeu, que mantiveram uma ampla liquidez nos últimos anos, com a manutenção de taxas de juros negativas.

Segundo Xavier, o consenso do mercado é que vai ser preciso fazer menos que o necessário em termos de aperto monetário para trazer a inflação de volta à meta, o que pode implicar uma taxa básica de juros mais alta nos Estados Unidos por mais tempo. “Acho que a postura dos BCs ainda tem sido complacente com a inflação e vejo muito espaço para os juros globais subirem.”

Xavier destacou que ainda vê o mercado de trabalho nos Estados Unidos muito apertado, podendo chegar a 2% de taxa de desemprego, com um patamar ainda elevado da poupança dos americanos e um baixo endividamento, que abrem espaço para mais consumo. Isso pode levar, segundo ele, a taxa básica de juros para níveis “inimagináveis”.

Já o gestor do Verde vê com preocupação a manutenção das taxas de juros americanas de longo prazo em patamares ainda muito baixos. “Hoje o mercado precifica que a taxa básica de juros americana começa a cair [após a alta prevista neste ano] para 1,75% em 2024, o que me parece um patamar muito baixo”, disse Stuhlberger.

Segundo ele, a manutenção de taxa de juros reais negativas por muito tempo por meio de programas de compra de ativos levou os títulos do Tesouro americano de 10 e 30 anos para patamares em torno de 2,20%. “No limite, uma combinação para acabar com a inflação americana teria que ter uma atuação do Fed [Federal Reserve, o banco central americano] nas taxas de juros de curto e longo prazos”, apontou.

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