Fundo Verde, de Stuhlberger, perde 1,13% em 2021, a pior performance desde 2008, mas mantém posição comprada em ações no Brasil

Queda do preço das ações no mercado brasileiro foi o principal fator de peso sobre o desempenho do portfólio

Nem o lendário multimercado Verde, gerido pelo conhecido gestor Luis Stuhlberger, escapou da forte correção no mercado brasileiro em 2021, com a Bolsa e o real registrando perdas. O fundo terminou o ano passado com perda de 1,13%, a pior performance desde 2008, o único ano desde seu início, em 1997, em que teve queda, de 6,44%, em meio à crise financeira mundial. O CDI, referencial do fundo, teve variação de 4,40% no ano passado.

A queda do preço das ações no mercado brasileiro, com o Ibovespa recuando quase 12% em 2021, foi o principal fator que prejudicou o desempenho do portfólio, segundo aponta a gestora em carta aos investidores. O fundo manteve uma exposição média comprada em torno de 27% no ano em ações, e teve uma perda nessa carteira em torno de 21%.

Apesar do desempenho, a gestora acredita na recuperação dos preços das ações brasileiras no longo prazo e mantém a posição comprada em Bolsa no país, que responde por 23,5% do portfólio. “Acreditamos que, ao manter participação em excelentes companhias, podemos compor capital no longo prazo de maneira importante”, destaca a Verde, em carta aos investidores.

A gestora ressalta que 2022 deve ser um ano de muitas incertezas, com um crucial processo de aperto de política monetária nos Estados Unidos e eleição presidencial no Brasil, em meio a uma forte desaceleração da economia.

Nesse cenário, o fundo continua apostando na alta da taxa de juros nos Estados Unidos e na Europa, e mantém as posições em juro real no Brasil, com pequenas exposições compradas em rublo e petróleo.

Surpresa com estouro do teto de gastos afetou alocações

Em 2021, a gestora manteve uma posição compra em bolsa brasileira, apostando na retomada da economia com o avanço da vacinação. Contudo, foi surpreendida pelo estouro do teto de gastos com a PEC dos Precatórios, que elevou os prêmios de risco no mercado local, com alta das taxas de juros de longo prazo para níveis acima de 12%, com impacto sobre os preços dos ativos domésticos. Afinal, juros mais altos encarecem o crédito e afetam o crescimento, o que levou o mercado a rever a projeção para o PIB para perto de zero para este ano.

O principal erro da gestora, contudo, foi não conseguir defender a carteira da deterioração do mercado de ações brasileiro. Na carta, Stuhlberger lembrou que, em outros momentos, a Verde conseguiu fazer um hedge contra perdas na alocação em renda variável com alocações nos mercados de juros e câmbio.

Em 2021, o real se desvalorizou, mas não na intensidade que a gestora estava esperando dado o tamanho do aumento do prêmio de risco. “Não tivemos sucesso em capturar essa tendência da moeda”, admite Stuhlberger, na carta.

Já no mercado de juros, embora o fundo tenha ganhado dinheiro com posições em 2021, acumulando um ganho de 1,89% na carteira de renda fixa, o desempenho foi insuficiente para compensar a perda de 0,80% com moedas e de 4,48%, com renda variável. “Não acreditávamos na implosão do teto e no Brasil caminhando para uma taxa de juro real substancialmente acima de níveis de equilíbrio”, aponta Stuhlberger.

Os ganhos no mercado global com ações, criptomoedas, crédito, commodities e moedas também não foram suficientes para compensar as perdas com a bolsa local.

Posição internacional

No mercado de juros global, o fundo Verde teve ganho com posições tomadas, isto é, com aposta na alta das taxas de juros com prazos mais longos na Europa, mas registrou perda com posições tomadas nas taxas de juros nos Estados Unidos.

A gestora esperava uma postura mais dura do banco central americano, o Federal Reserve, dado o patamar elevado da inflação nos EUA. Mas o Fed só mudou o tom na reunião de dezembro, quando deixou de admitir que a alta da inflação era devido a fatores transitórios.

Desde o seu início, em 1997, o fundo Verde acumula ganho de 18.391%, o que equivale a 2.325,83% do CDI, com um patrimônio líquido de R$ 1,3 bilhão em dezembro.

O Verde não foi o único fundo gerido por gestores renomados a amargar perdas em 2021. O Bogari Value FIC FIA, gerido pela Bogari Capital, liderada por Flavio Sznajde, teve perda de 13,3% em 2021, a pior performance desde 2008, quando registrou queda de 22,4%.

O fundo FIA Ponta Sul IE, gerido pela Ponta Sul Investimentos, de Flávio Calp Gondim, conhecido como “monstro do Leblon”, amargou queda de 56% em 2021, sofrendo com posições compradas em ações do Banco Inter, que levaram a gestora a ter que acionar o stop loss na posição.

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