Primeiro turno anima e Ibovespa sobe 5,5%, na maior alta desde abril de 2020

Com perspectiva de governo mais ao Centro, ações de estatais se destacaram e subiram bastante

Foto: Shutterstock/Koto Amatsukami

Com os investidores repercutindo os resultados do primeiro turno das eleições, o Ibovespa disparou nesta segunda-feira (3) e fechou o pregão em alta de 5,54%, aos 116.134 pontos – na maior valorização intradia desde 6 de abril de 2020.

Com a alta de hoje, dia com R$ 37,54 bilhões em volume negociado, os ganhos acumulados pelo índice desde o início do ano passaram para 10,79%.

O dia também foi positivo para as Bolsas estrangeiras, em movimento de recuperação após as quedas da semana passada, embora não na mesma magnitude do mercado doméstico.

Em Nova York, o S&P 500 teve alta de 2,59%, o Dow Jones subiu 2,66% e o Nasdaq avançou 2,27%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 somou ganhos de 0,72%.

Primeiro turno anima os mercados

O grande tema do pregão de hoje foi a repercussão dos resultados das eleições. No pleito presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve 48,41% dos votos válidos, contra 43,2% do presidente Jair Bolsonaro. Ambos os candidatos entram agora na corrida pelo segundo turno.

No Congresso, o aumento de parlamentares de centro e de direita chamou a atenção. Para a maior parte dos investidores, um Congresso mais à direita deve facilitar a aprovação de reformas em caso de vitória de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que pode barrar gastos maiores propostos pelo governo em caso de vitória de Lula.

Na avaliação de Nicolas Borsoni, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, a alta do Ibovespa veio “em meio à percepção de que um Congresso mais à direita aumenta as chances de reformas estruturais serem aprovadas, além de forçar Lula a ter um governo mais ao Centro”.

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Na frente econômica, analistas ouvidos pelo Boletim Focus voltaram e revisar para cima a projeção para alta do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022, para 2,70% ao ano. Na semana anterior, a expectativa era de aumento de 5,88%. Para 2023, a estimativa é de avanço de 0,53% (contra projeção anterior de 0,50%) e, para 2024, a projeção foi reduzida para expansão de 1,70% (contra 1,75% na semana anterior).

Os especialistas também voltaram a revisar para baixo as projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2022, para uma alta de 5,74% (contra 5,88% da estimativa anterior). Para 2023, a expectativa é de alta de 5%. As expectativas para juros e câmbio foram mantidas para 2022, 2023 e 2024.

Estatais ganham força

Diante deste contexto, as ações de estatais tiveram forte alta no pregão, com destaque para Sabesp (SBSP3), que subiu 16,94% – a maior valorização em um pregão desde 13 de março de 2020.

Ontem, ficou decidido que o comando do governo de São Paulo, controlador da empresa, será disputado num segundo turno por Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).

O resultado surpreendeu os eleitores. Freitas encerrou o primeiro turno com 42,32% dos votos e Haddad com 35,70% dos votos, resultado inverso ao das pesquisas prévias.

Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, destaca que o papel da empresa avança após o resultado. Isso porque, agora, os investidores avaliam que há mais chance de privatização da empresa.

“Quando as empresas estão sob o controle estatal, elas negociam na Bolsa com um ‘desconto’ em relação a um ‘valor justo’ em função de todo o processo que o controle estatal exige que ela obedeça” e que tende a ser mais ineficiente, ressalta o portfolio manager da Kilima Asset, Luiz Adriano Martinez.

O mesmo ocorre com a Cemig (CMIG4), que subiu 10,69%. Com a reeleição de Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, a expectativa pela privatização da Cemig aumenta, uma vez que o governador do estado tem falado nessa possibilidade desde o seu primeiro mandato, mas acabou esbarrando em burocracias e resistências de deputados para seguir com o projeto.

Agora, porém, a situação deve mudar nesse segundo mandato. Para o analista da Genial Investimentos, Vitor Sousa, Zema terá mais experiência, além de mais apoio no congresso local para tocar uma agenda personalista e quem sabe avançar com a privatização.

Candido, da RPS Capital, avalia que os papéis da Petrobras (PETR4; PETR3) e do Banco do Brasil (BBAS3), que eram ações que “embutiam prêmio de risco em relação a possíveis intervenções em um governo Lula”, avançam com essa nova perspectiva de um governo centrista.

A ação ordinária da Petrobras teve alta de 8,86%, enquanto a preferencial subiu 7,99% e o papel do BB avançou 7,63%. As ações da petrolífera não subiam tanto desde 2021.

“Ainda não dá para prever quem vai vencer eleição, mas a possibilidade de Bolsonaro ganhar aumentou em relação ao que tínhamos antes nas pesquisas. Como ele tem esse viés mais liberal com projetos de privatização, essas companhias também performam bem”, avalia Martinez.

A alta do petróleo também ajudou as ações da Petrobras: diante de perspectivas de que a Opep+ (Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados) decida por mais um corte de produção, o Brent fechou o pregão em alta de 4,19%, a US$ 88,86 por barril.

“O mais provável é que a Opep+ corte a produção. Afinal, o grupo perdeu o controle do mercado de petróleo nas últimas semanas e vai querer reafirmar a própria influência. Além disso, o petróleo a US$ 90 é não negociável para a liderança da Opep+ e ela vai agir para proteger este piso de preços”, disse a corretora PVM Oil, em relatório.

Educação no sentido contrário

Em contrapartida, as únicas baixas do Ibovespa no fechamento eram de Yduqs (YDUQ3), de 1,59%, e Cogna (COGN3), de 0,34%. Vale ressaltar que esses papéis valorizaram com intensidade nas últimas semanas por causa de comentários de Lula sobre a expansão do financiamento estudantil.

O ex-presidente afirmou em seu Twitter que o Fies (Fundo de Financiamento estudantil) e o ProUni (Programa Universidade para Todos), que tiveram grande expansão durante os governos petistas no passado, iriam “voltar com força” em seu eventual governo.

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Isso foi suficiente para fazer com que as ações desse setor tivessem forte valorização em setembro. Os analistas viram a possibilidade de ganho para esses papéis em um eventual governo petista e gestores montaram posição nesses ativos.

Agora, com um cenário incerto na vitória de Lula, fica a dúvida sobre esse futuro benéfico para as empresas.

Criptoativos

O Bitcoin (BTC) abriu iniciou o mês de outubro lutando para se manter acima dos US$ 19 mil. O movimento segue o viés que fez as Bolsas internacionais operarem no verde nesta segunda-feira, às vésperas de dados do mercado de trabalho americano, fundamentais para a estratégia de alta dos juros do Fed, (Federal Reserve, o banco central americano).

“Dados acima da expectativa do mercado podem indicar que os esforços do Fed em controlar a inflação não estão surtindo efeitos, requerendo uma postura mais hawkish [agressiva] do banco central, que deu sinais de que deve continuar com sua postura contracionista mesmo em meio a uma recessão”, afirma Lucas Minchillo, analista da Titanium Asset.

Por volta das 17h05, o BTC registrava queda de 2,1%, negociado a US$ 19.433, segundo dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

Na mesma hora, o Ethereum (ETH) operava perto da estabilidade, com alta de 1,7%, vendido a US$ 1.312, conforme informações da Binance.

O mercado cripto opera “de lado” nas últimas semanas, em correlação com as Bolsas globais, após novo movimento de fuga de ativos de risco pelos investidores à medida que o futuro da economia global fica mais pressionado pela política monetária americana e crise energética na Europa.

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