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Mercado já aposta em Selic acima de 14%; até onde vai a alta dos juros?

Elevação dos juros lá fora e aumento do risco fiscal no Brasil têm levado a uma revisão para cima das projeções para a Selic em 2022

Foto: Shutterstock

A alta das taxas de juros lá fora e o aumento do risco fiscal no Brasil têm levado a uma revisão das projeções para o tamanho da elevação da taxa básica de juros. Nesse cenário, tem aumentado o número de casas que veem a necessidade de o Banco Central estender o ciclo de alta da Selic, atualmente em 13,25% ao ano, para além de agosto.

O mercado futuro de juros já reflete hoje uma taxa Selic entre 14,25% e 14,50% até dezembro deste ano, com pelo menos mais duas altas de 0,50 ponto percentual cada.

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central sinalizou mais um ajuste para cima da taxa Selic em agosto.

Pelo último Boletim Focus, a média da projeção dos analistas para os juros neste ano ainda aponta para 13,75%, mas já há bancos prevendo uma taxa básica acima dos 14%.

O Credit Suisse revisou na semana passada a projeção para a Selic e agora espera um aumento de 0,50 ponto em agosto e mais uma alta de 0,25 ponto em setembro, com o juro básico encerrando o ciclo em 14%, ante os 13,75% da previsão anterior.

Da mesma forma, a projeção para a taxa Selic para 2023 foi elevada, ao passar de 10,75% para 11,25%.

“Em nossa opinião, interromper o ciclo de aperto neste ponto seria altamente arriscado, dado que as expectativas de inflação estão significativamente desancoradas, o que pode comprometer a credibilidade da política monetária”, diz o Credit Suisse, em relatório de 13 julho.

Segundo o banco, a inflação alta e disseminada, as expectativas de inflação crescentes, o forte crescimento da economia doméstica, a piora da situação fiscal e o cenário de pressão inflacionária global deterioram ainda mais o balanço de riscos do BC.

O Santander também revisou a projeção para a taxa Selic de 13,50% para 14,25%, esperando agora mais duas alta de 0,50 ponto. O banco ainda revisou a perspectiva para corte da Selic no ano que vem, à espera de uma taxa de 12% em dezembro de 2023, acima dos 10,50% da projeção anterior.

De acordo com o Santander, desde a última reunião do Copom, em junho, houve uma piora do balanço de risco para a inflação, com mais impulsos fiscais com a aprovação de medidas de corte de impostos e da PEC dos Benefícios, além de uma redução da taxa de desemprego, o que poderia pressionar ainda mais a inflação.

A Bahia Asset Management também aparece no grupo das mudanças. A gestora elevou a projeção para a Selic de 13,75% para 14,25% para este ano.

O BTG, por sua vez, manteve a previsão de mais uma alta da taxa de 0,50 ponto em agosto, mas vê um aumento do risco de o BC estender o ciclo de alta para setembro. O banco espera que a autoridade monetária mantenha a Selic em um patamar elevado por mais tempo e revisou a projeção para o juro no ano que vem de 10% para 11%, conforme apontou em relatório de 18 de julho.

Alta de juros no mundo aumenta pressão sobre o câmbio

Embora a taxa Selic já esteja em patamar elevado, com o BC tendo antecipado o ciclo de aperto monetário no Brasil em relação ao resto do mundo, o movimento de alta das taxas no exterior pode levar à desvalorização do câmbio no Brasil, o que teria impacto negativo sobre a inflação, destacou o Credit Suisse, em relatório.

O dólar já sobe 3,9% em julho, após uma alta de mais de 10% em junho, mas ainda cai 1,9% no ano.

arte taxa de juros

A Tullett Prebon revisou a projeção para a Selic diante do movimento de alta de juros global. A instituição agora espera uma Selic de 14,25% no fim deste ano, ante os 14% da projeção anterior. O corte de juros só viria a partir do terceiro trimestre do ano que vem, com a taxa básica devendo encerrar 2023 em 12,5%.

“O banco Central no Canadá surpreendeu e aumentou a taxa de juros em um ponto, para 2,5%, e amanhã o BCE [Banco Central Europeu] deve elevar os juros em 0,50 ponto”, diz Vinicius Alves, estrategista-chefe da Tullett Prebon.

O banco central americano (Fed, sigla para Federal Reserve) também deve elevar mais uma vez a taxa básica de juros nos EUA. “Se o Fed acelerar o ritmo de alta para um ponto percentual pode causar um impacto para a política monetária no Brasil, porém, já fizemos muita coisa em termos de juros e, por isso, [o movimento] deve ter um efeito menor”, assinala Alves.

Corte de tributos reduz inflação no curto prazo, mas piora expectativa

Embora o corte de impostos para reduzir o preço de energia elétrica e combustíveis deva aliviar a inflação no curto prazo, como muitas dessas medidas têm validade só até o fim deste ano, a expectativa é de uma pressão maior na inflação de 2023.

“O governo conseguiu aprovar cortes de impostos em itens essenciais (como eletricidade, combustível e comunicações), que esperamos que reduzam a inflação em 2,2 pontos percentuais, para 7,6% este ano, mas representam um risco à inflação de médio prazo, uma vez que exacerbam as já frágeis contas públicas”, destaca o Credit.

A média das projeções dos analistas no Boletim Focus para a inflação em 2023, que é o alvo da política monetária do BC, está em 5,20%, bem acima da meta para o ano que vem, de 3,25%.

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A aprovação da PEC dos Benefícios, que prevê um gasto de R$ 41,2 bilhões fora do teto de gastos (medida que limita o aumento das despesas públicas à variação da inflação do ano anterior), aumentou a preocupação com a política fiscal, contribuindo para a alta das taxas de juros e do dólar frente ao real.

“A questão é qual a âncora fiscal para o ano que vem se não for o teto de gastos. Até agora, nenhum dos dois principais candidatos mostraram uma visão clara sobre isso”, avalia Alves, da Tullett Prebon.

Taxas dos títulos do Tesouro Direto em trajetória de alta

As taxas de alguns dos títulos do Tesouro Direto voltaram a subir nesta quarta-feira (20), depois de terem batido recorde ontem.

O prêmio pago pelo papel prefixado com juros semestrais e vencimento em 2033 aumentou de 13,57%, na terça, para 13,68%, na última atualização do dia.

Já as taxas dos papéis indexados ao IPCA recuaram. O título com prazo para 2026 pagava juro real de 6,30% hoje, abaixo do recorde de 6,31% atingido ontem, mas acima do rendimento de 6,29% oferecido pelo título com juros semestrais para 2055.

Para o sócio gestor da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella, há um exagero nas apostas para a taxa Selic no mercado de juros futuros, uma vez que o processo de recessão global e a queda do preços das commodities devem fazer com que a inflação perca força daqui para frente.

A Novus manteve a projeção para a Selic de 14%, com o BC encerrando o ciclo de alta em setembro, devendo manter a taxa nesse patamar até ver uma convergência maior da expectativa da inflação para a meta.

Para o estrategista-chefe da Tullett Prebon, as taxas de juros com prazos mais curtos devem continuar acima de 14% até que haja um alívio na alta dos preços de serviços, que têm pressionado a inflação.

Já em relação às taxas de juros de longo prazo, que refletem mais o cenário de aversão a risco e menos a projeção para a política monetária, só devem mostrar um alívio quando houver uma sinalização de uma política fiscal “crível” para o próximo governo.

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