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Credibilidade fiscal (in) sustentável após PEC dos Benefícios? – o que marcou a semana

Em 2015, com o início da crise político-institucional brasileira, o país deixou o patamar de grau de investimento

Gustavo Nicoletta

Gustavo Nicoletta

Foto: Shutterstock

Pelo menos desde 2015, o investidor brasileiro está acostumado a considerar que o Brasil é um país com risco fiscal elevado – ou seja, gasta mais do que arrecada e vê a própria dívida aumentar.

A situação crônica exigiu a criação de uma lei obrigando o poder público a limitar o crescimento das despesas à inflação – a regra do teto de gastos. Nos últimos dois anos, porém, esse limite foi burlado – primeiro por causa da pandemia de Covid-19 e depois por ser mais cômodo ao governo -, e nesta semana veio um terceiro drible, defendido pelo Executivo e validado pelo Congresso.

Depois de algumas semanas de negociações, a Câmara dos Deputados aprovou em segundo turno, na quarta-feira (13), o texto-base da PEC dos Benefícios, que permitirá que o governo gaste R$ 41,25 bilhões acima do teto dos gastos até o fim de 2022.

Para isso ser possível, a PEC instituiu o estado de emergência, que valerá de agora a dezembro. E por meio dele, o governo poderá dispor dos recursos para aumento de benefícios sociais, ajuda financeira a caminhoneiros e taxistas, ampliação da compra de alimentos para pessoas de baixa renda e redução de tributos do etanol mesmo em período próximo das eleições.

Duas das três principais agências de classificação de risco responderam rapidamente à decisão. A Fitch disse que o risco fiscal do Brasil parou de piorar, mas porque a economia e a arrecadação cresceram mais do que ela esperava. Ainda assim, manteve a nota do Brasil em BB-, o que significa que ainda considera o país um devedor pouco confiável.

A Moody’s, por sua vez, deu um veredicto mais sombrio. A agência afirma que o drible no teto dos gastos pode ampliar a desconfiança dos investidores em relação à sustentabilidade das contas públicas do Brasil.

Na prática, isso significa que deve ficar mais caro para o Brasil financiar a própria dívida, e mais escasso o volume de recursos disponível para atender a população.

O país continua no grupo de devedores de alto risco da Moody’s, dois degraus abaixo da nota que o colocaria entre os confiáveis.

Vale lembrar que em 2008, após anos de rigor nas contas públicas, o Brasil conseguiu ingressar no grupo de devedores confiáveis, recebendo o chamado “grau de investimento” – primeiro da Fitch e da S&P – a outra grande agência de classificação de risco mundial -, e mais tarde da Moody’s.

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Veja os destaques da Agência TradeMap na semana

Quem ganha com a PEC dos Benefícios

Embora tenha aumentando a percepção de risco fiscal no Brasil, a PEC dos Benefícios deve aquecer a economia no curto prazo e provocar aumento no volume de vendas das empresas, principalmente aquelas que oferecem produtos de menor preço médio, para o consumidor de menor renda. Os setores de distribuidoras de combustíveis e varejo, principalmente o alimentar, devem ser os mais favorecidos pela PEC.

O desafio das empresas de saneamento

É esperado que, até o final de 2026, as três maiores estatais de saneamento básico – Sabesp (SBSP3), Sanepar (SAPR11) e Copasa (CSMG3) – invistam cerca de R$ 40,3 bilhões em projetos de infraestrutura. Mas a conjuntura macroeconômica de juros a dois dígitos deve ser um obstáculo nesse caminho. Além disso, as eleições em outubro podem impactar diretamente o desempenho futuro dessas companhias, devido ao controle estatal.

Os fundos que foram na contramão do Ibovespa

Enquanto o Ibovespa encerrou o primeiro semestre em queda de 6,0%, alguns fundos de ações foram na contramão do principal índice da Bolsa brasileira e tiveram ganhos nos seis primeiros meses do ano. No topo do ranking, ficou o fundo Forpus Ações FIC FIA, gerido pela Forpus Capital, que acumulou alta de 9,5% no período, segundo levantamento realizado pelo TradeMap.

ETFs de ativos gringos voltam a ser atrativos

Com a queda dos preços dos ativos nas bolsas internacionais e a alta do dólar frente ao real, os fundos listados em Bolsa (ETFs, ou Exchange-Traded Funds) voltaram a ser uma opção interessante para os investidores brasileiros buscarem exposição a ativos internacionais. Esse cenário é válido principalmente quando considera-se a perspectiva de aumento de volatilidade no mercado local com as eleições à frente.

A maldição do Banco do Brasil

Para o setor bancário em geral, o ano de 2022 tem sido de preocupação. Com a inflação corroendo a renda das pessoas e os juros mais altos, espera-se que os calotes aumentem – o que já tem sido percebido com mais clareza desde o início do ano.

O Banco do Brasil, com uma carteira de crédito mais “protegida”, seria uma opção interessante para o investidor que está em busca de segurança. Seria. Não fosse por um detalhe: 2022 é também ano de eleição.

Duelo de gigantes nos fundos multimercados

De um lado do ringue, Luis Stuhlberger, da Verde Asset. Do outro, Rogério Xavier, da SPX Capital. Em um primeiro semestre de derretimento do mercado, os dois gestores mais respeitados do Brasil entregaram resultados acima do Ibovespa e do CDI (Certificado de Depósitos Interbancários) nos seus fundos multimercado.

Agenda da semana

O evento mais relevante dos próximos dias será o anúncio da decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu), na quinta-feira (21). A expectativa é de que a instituição anuncie o primeiro aumento de juros em 11 anos.

A alta deve ser de 0,25 ponto porcentual, o que ainda manteria os juros europeus em território negativo – hoje, a principal taxa por lá está em -0,50% ao ano. Parte do mercado, porém, acha que a alta pode ser um pouco maior, de 0,50 ponto porcentual.

Um outro ponto relevante da reunião do BCE será a apresentação dos planos da instituição para evitar que o aumento de juros na Europa leve a uma crise de dívida na região.

Quando a presidente da instituição, Christine Lagarde, indicou ao mercado que as taxas subiriam, uma das consequências imediatas foi um aumento muito mais acelerado nos juros da dívida de países como Itália e Espanha em relação aos da dívida da Alemanha, que tem as contas públicas mais organizadas.

A situação gerou preocupações de que a Europa voltasse aos idos de 2010, quando essa discrepância nos juros dificultou o pagamento da dívida de países como a Grécia e criou o risco de rompimento destes países com a zona do euro.

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