Este ano não tem sido fácil para o mercado brasileiro, em especial para o Ibovespa, principal índice da bolsa local, que acumula o terceiro pior desempenho do mundo, de acordo com um levantamento feito pela Austin Rating.
De janeiro até a última sexta-feira, o índice caiu 8%, muito por conta da perspectiva de baixo compromisso do governo com o ajuste fiscal e por preocupações globais com a inflação e a nova variante do coronavírus.
No levantamento feito pela Agência TradeMap sobre as previsões do Ibovespa para 2022, o consenso médio de oito bancos e corretoras é de que o índice finalize o próximo ano a 125,8 mil pontos. Confira o compilado:
Goldman Sachs
Para o Goldman Sachs, o Ibovespa deve encerrar 2022 a 116 mil pontos, o que representa um crescimento de 8% em relação ao fechamento de sexta-feira. Para isso, o banco pressupõe uma expansão de 4% no múltiplo preço sobre lucro (P/L) em comparação aos níveis atuais.
O relatório preparado pelos analistas Caesar Maasry e Jolene Zhong diz que as ações brasileiras podem subir mais em um ambiente mais amigável. “Como os investidores locais parecem cautelosamente otimistas de que o cenário político possa melhorar, suspeitamos que o Ibovespa possa se estender até os 120 mil pontos.”
Ativa Investimentos
Um pouco mais otimista, a Ativa Investimentos acredita que o principal índice da B3 alcance a marca de 117 mil pontos ao final do ano que vem, upside de 9% em relação à atual marca.
Para explicar a estimativa, o gerente de research da corretora, Pedro Serra, diz que é possível utilizar metodologias de valoração dos ativos.
“A primeira delas, simplesmente pegamos o nosso valor justo de cada empresa que cobrimos e ponderamos pelo seu respectivo peso na carteira teórica do índice. Nesse método, já considerando as atualizações pós os resultados do terceiro trimestre de 2021 e as novas premissas macroeconômicas, chegaríamos a um target de 134 mil pontos”, comenta em relatório.
Por outro lado, Serra destaca que, uma outra forma de se valorar um ativo, uma vez que este possui alta liquidez e é analisado por muitos agentes do mercado, é a análise de múltiplos.
Por essa ótica, e considerando um múltiplo P/L (preço sobre lucro) de saída de 11,9 vezes (média histórica) para o Ibovespa, a Ativa chega ao patamar de 140 mil pontos. Entretanto, a corretora considera um desconto nos resultados esperado, de modo a incorporar as incertezas do mercado, chegando à casa dos 117 mil pontos.
Internamente, o analista ressalta que 2022 parece ser um ano potencialmente mais volátil do que 2021 por causa das eleições. “Embora cedo para fazer preço nos mercados, talvez já comece a pesar nas escolhas e decisões do atual governo, pesando mais as medidas que possam agradar determinado grupo de eleitores, do que uma agenda mais responsável que não costuma ser muito popular”, diz.
Quanto à parte externa, a Ativa Investimentos comenta que, em breve, o mundo atravessará a retirada gradual dos estímulos monetários, juntamente com todas as suas consequências, desde o mercado de câmbio até o de ações. “De forma geral, pode se assumir que os investidores poderão exigir um prêmio de risco maior para ativos nos mercados emergentes”, complementa Serra.
Morgan Stanley
O Morgan Stanley, por sua vez, vê um potencial de crescimento de 12% para o principal benchmark da bolsa brasileira, a 120 mil pontos no final de 2022.
Em relatório, o banco destaca que, em termos setoriais, tem visão otimista para as ações de crescimento secular no Brasil, commodities e papéis defensivos. Por isso, a instituição possui recomendação overweight (acima da média do mercado, equivalente à compra) para os segmentos de agronegócio, alimentos e petroquímico.
De outro lado, vê setores cíclicos ligados ao mercado domésticos como ativos a serem evitados, mantendo recomendação underweight (abaixo da média do mercado, correspondente à venda) para empresas de tecnologia, bancos e transporte.
Entre as ações, o Morgan mantém preferência por empresas exportadoras como Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4), Petrobras e Minerva Foods (BEEF3), de crescimento como a XP (XPBR31), e por papéis que oferecem posição mais defensiva, como Rumo (RAIL3), da concessionária de rodovias CCR (CCRO3) e da distribuidora de energia Energisa (ENGI11). Veja todas as recomendações aqui.
XP Investimentos
Para os analistas da XP Investimentos, o preço-alvo do Ibovespa para daqui 12 meses é de 123 mil pontos, ou seja, uma valorização de 15%. No cenário pessimista, a corretora prevê o índice em 93 mil pontos e, no cenário otimista, em 145 mil pontos.
Os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig comentam no relatório que o índice continua barato, com sua relação de preço sobre lucro (P/L) de 12 meses atualmente sendo negociado em 7,6 vezes, o que representa um desconto de quase 30% em relação à média de 15 anos, em 11,2 vezes.
Ao retirar os dois maiores nomes do setor de commodities do índice (Vale e Petrobras), a relação P/L continua abaixo de sua avaliação histórica em 10,6 vezes. Por outro lado, ao remover as outras empresas vinculadas a commodities, como no caso de companhias de materiais e energia, a relação preço sobre lucro do Ibovespa sobe para 11,6 vezes.
“Ou seja, o Ibovespa como um todo é barato, mas quando tiramos commodities não parece tão barato”, dizem os analistas.
Para eles, o aumento significativo nas taxas de juros devido à elevação dos riscos fiscais e políticos no Brasil pressionou o valor justo do Ibovespa em todas as métricas.
A XP destaca três principais temas para ficar de olho no próximo ano:
- Commodities: oferecem uma boa proteção contra inflação e o dólar mais alto, como Vale (VALE3), Klabin (KLBN11) e Gerdau (GGBR4)
- Histórias de crescimento secular: empresas mais protegidas do cenário macro mais desafiador, como Assai (ASAI3), WEG (WEGE3) e Localiza (RENT3)
- Oportunidades específicas: companhias de qualidade que tiveram uma forte queda recentemente, não relacionada aos seus fundamentos, e que podem se beneficiar de uma recuperação no mercado. Destacam-se os shoppings, como Multiplan (MULT3), e alguns bancos, como Banco do Brasil (BBAS3)
Bank of America (BofA)
Já o Bank of America Merrill Lynch prevê o Ibovespa na casa dos 125 mil pontos ao final do ano que vem, o que implica em um potencial de valorização de 17% em relação ao atual nível.
No relatório, o BofA ressalta que os bancos estão entre as ações favoritas para 2022, com destaque para os papéis preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4), por conta da resiliência provada nos balanços das instituições financeiras e do valuation atrativo dos ativos.
“Embora o cenário macroeconômico seja desafiador, esperamos que o setor apresente crescimento de lucro de quase dois dígitos”, comenta o banco.
Além disso, o Bank of America também enxerga potencial nos papéis de seguradoras com a reabertura da economia. Com isso, o banco tem exposição à BB Seguridade (BBSE3) e à Caixa Seguridade (CXSE3).
Outros nomes ligados ao tema da reabertura que o banco destaca são as empresas de distribuição de combustíveis, como Vibra Energia (VBBR3), antiga BR Distribuidora, e Raízen (RAIZ4).
Bradesco BBI
Em relatório, os analistas André Carvalho e Fernando Cardoso, do Bradesco BBI, revisaram o preço-alvo do Ibovespa para 130 mil pontos, o que significa um upside de 21%. A estimativa anterior era de 150 mil pontos.
O banco afirma que as ações brasileiras ainda representam um alto risco para o mercado, apesar de possuírem uma certa assimetria para o lado positivo.
“O principal catalisador positivo para os papéis brasileiros em 2022 será uma convicção cada vez maior por um ajuste fiscal após as eleições, o que pode levar o mercado a uma recuperação significativa”, aponta o Bradesco.
Segundo a casa, haverá pouca visibilidade nos ajustes de política pós-eleitoral até o terceiro trimestre do próximo ano, alguns meses antes das eleições presidenciais. O banco tem preferência por nomes de consumo discricionário e industriais, além do setor financeiro, com recomendação overweight.
Em contrapartida, os analistas do Bradesco BBI tem posição neutra em consumo básico e energia e underweight para o segmento de materiais.
“Nossa alocação com preferência para nomes cíclicos fornece exposição à opcionalidade política como, por exemplo, o risco de que o próximo governo realize algum ajuste fiscal profundo”, pontua a casa.
Por fim, o BBI separou alguns nomes que considera relevantes para 2022. Veja:
- Bancos: Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco ABC (ABCB4)
- Financeiras: XP (XPB331) e Totvs (TOTS3)
- Energia: Petrobras (PETR4), Vibra Energia (VBBR3), Cosan (CSAN3) e PetroRio (PRIO3)
- Metais e mineração, papel e celulose: Usiminas (USIM5), Gerdau (GGBR4) e Suzano (SUZB3)
- Varejo: Alpargatas (ALPA4), Arezzo (ARZZ3), Centauro (SBFG3) e Renner (LREN3)
- Alimentos e bebidas: BRF (BRFS3), M.Dias Branco (MDIA3) e Ambev (ABEV3)
- Saúde: Oncoclinicas (ONCO3), SulAmerica (SULA11) e Hapvida (HAPV3)
- Mercado imobiliário: Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI3), MRV Engenharia (MRVE3) e Direcional (DIRR3)
- Transporte e bens de capital: Vamos (VAMO3), Santos Brasil (STBP3) e Embraer (EMBR3)
- Utilities: Alupar (ALUP11) e Neoenergia (NEOE3)
BTG Pactual
“Se o Brasil voltar aos trilhos, o potencial de valorização pode ser bom”, destaca o relatório do BTG Pactual em relação ao desempenho do Ibovespa em 2022. O banco estima que o índice da B3 possa chegar a 132 mil pontos, ou seja, um crescimento de 23% em relação ao fechamento de sexta-feira.
Os analistas Carlos Siqueira, Osni Carfi e Bruno Lima comentam que, embora o cenário base pareça ser otimista frente à situação atual do país, é uma chance viável se o Brasil “voltar aos trilhos”.
Para isso, o banco presume que o Banco Central (BC) controle a inflação de volta à meta, de 3,5% para 2022, além de que as taxas reais de longo prazo voltem à marca de 4% – onde estavam há alguns meses – e que haja um crescimento real de longo prazo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2%.
“Com essas premissas, o múltiplo P/L justo do Ibovespa é de 12,7 vezes, em linha com seu valuation histórico (ex-Petrobras e Vale)”, elencam os analistas.
Quanto às ações queridinhas para o ano que vem, o BTG Pactual destaca dez papéis para sua carteira recomendada: Itaú Unibanco (ITUB4), com 15% de peso no portfólio; Suzano (SUZB3), B3 (B3SA3), Raízen (RAIZ4), Gerdau (GGBR4), Localiza (RENT3), CPFL (CPFE3), PetroRio (PRIO3) e Arezzo (ARZZ3), com 10% de participação cada; e Iguatemi (IGTI3), com 5% de peso. Confira aqui mais detalhes a respeito de cada papel na visão do banco.
Safra
Por último, as expectativas do Safra para o Ibovespa no próximo ano são as mais otimistas do levantamento realizado pela Agência TradeMap. O banco acredita que o índice finalize 2022 a 144 mil pontos, de 162 mil pontos na previsão anterior, em junho deste ano. Mesmo com a atualização do preço-alvo, ainda há um potencial de valorização de 34%.
No relatório, o Safra aponta que, para isso, trabalha com uma expectativa de múltiplo mais baixo do que o anteriormente esperado e abaixo da média histórica (11x), “resultado de um leve incremento de premissas de risco de nossa taxa de desconto, e uma leve redução de percepção de crescimento de lucro”.
Além disso, os analistas Luiz Azevedo, Cauê Pinheiro e Silvio Dória ressaltam que, na parte internacional, começaram as discussões sobre o início do aperto monetário nas principais economias desenvolvidas, com destaque para os Estados Unidos.
Nesta semana, por exemplo, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deixou claro que, a partir de janeiro, o volume de títulos comprados diminuirá em US$ 30 bilhões por mês. A autarquia também indicou que o compasso será o mesmo nos meses seguintes, o que significa o fim deste tipo de estímulo em março.