O ano de 2022 será, sem dúvidas, desafiador para o mercado financeiro. A deterioração das projeções macroeconômicas nos últimos meses, aliada a preocupações com o ambiente fiscal e às eleições presidenciais, devem trazer ainda mais volatilidade para o ano, afirma o BTG Pactual, em relatório distribuído nesta quinta-feira (16).
Segundo o último Boletim Focus do Banco Central (BC), a expectativa do mercado é que a inflação, medida pelo IPCA, termine 2021 em 10%. Para 2022, a projeção é de 5%. Para limitar as pressões inflacionárias, o BC teve de aumentar agressivamente a taxa de juros, que irá terminar o ano a 9,25% ao ano e atingir o pico de 11,75% em março de 2022.
O resultado disso é um impacto sobre a atividade econômica: de acordo com o Focus, as estimativas de crescimento do PIB foram rebaixadas mais uma vez e, agora, são de 0,5% para o ano que vem.
No âmbito fiscal, o déficit primário e a dívida bruta são as principais preocupações entre os investidores, na análise do banco. Além disso, a aprovação de reformas ou privatizações parece improvável para o BTG.
Outro fator que deve acrescentar volatilidade aos mercados é a eleição presidencial de 2022. Durante a campanha, que promete ser acirrada, a tendência é que os candidatos radicalizem seus discursos – estratégia que, na visão do BTG, pode conferir ainda mais volatilidade aos mercados.
Dito tudo isso, a expectativa do banco é que, apesar da volatilidade, a Bolsa brasileira tenha um ano positivo. A projeção para o Ibovespa, o principal índice acionário da B3, é de valorização de 23% em 2022, para 132 mil pontos.
Em relação às ações brasileiras, o BTG aposta sobretudo nos papéis que se beneficiam de tendências que o banco identifica no mercado, como alta da inflação e das taxas de juros, aumento no consumo pela classe alta, força global dos preços do petróleo e enfraquecimento do real.
Mas onde investir?
Levando em conta as tendências identificadas pelo banco, a carteira recomendada do BTG com 10 ações para 2022 é composta de Itaú Unibanco, com 15% de peso no portfólio; Suzano, B3, Raízen, Gerdau, Localiza, CPFL, PetroRio e Arezzo, com 10% de participação cada; e Iguatemi, com 5% de peso.
Itaú Unibanco (ITUB4): a escolha de Itaú Unibanco se deve a seu balanço do terceiro trimestre, em que a melhora da margem financeira líquida (NII, na sigla em inglês) foi o maior destaque positivo. Ainda que uma potencial deterioração na qualidade dos ativos deva ser monitorada, o balanço, o momento de alta dos juros e discussões regulatórias que poderiam prejudicar fintechs favorece o momento dos bancos.
Arezzo (ARZZ3): a Arezzo, por sua vez, tem como pontos fortes a execução superior na gestão de marca, o modelo de franquias, a expansão resiliente no mercado doméstico, a potencial recuperação no consumo das classes altas, a aquisição de novas marcas e resultados mais saudáveis nas operações americanas.
Suzano (SUZB3): em relação à Suzano, o BTG vê um momento positivo para os mercados de celulose no curto prazo, que cria boas condições para o aumento nos preços para o mercado asiático, anunciado recentemente pela empresa. Isso deve apoiar a performance da ação, especialmente considerando o nível de pessimismo que já está sendo precificado.
Raízen (RAIZ3): apesar de um guidance que causou controvérsia no mercado, o BTG acredita que as projeções da Raízen foram muito conservadoras, considerando a alta dos preços do petróleo e as expectativas de uma recuperação do mercado de açúcar, o que deve impulsionar o Ebitda. Além disso, o banco acredita que o preço atual da ação não leva em conta o valor dos novos projetos de energia renovável da empresa.
PetroRio (PRIO3): no mesmo setor, a aposta em PetroRio é baseada em seu histórico de bons acordos, que cria mais valor à frente e deixa espaço para crescimento mesmo após a forte performance do ano, na visão do BTG.
B3 (B3SA3): A B3, por sua vez, entra na carteira porque o banco acredita que grande parte das más notícias envolvendo a empresa parece estar precificada e, no valuation atual, a ação está em níveis atrativos. O BTG menciona ainda o fato de cerca de 50% das receitas da empresa estarem ligadas a linhas de negócios que podem se dar bem em um ambiente incerto em termos de câmbio e juros.
CPFL (CPFE3): Um dos nomes mais baratos no setor de utilities, a CPFL tem se destacado por seus resultados, impulsionados pelo IGP-M e por melhorias operacionais. Além disso, a expectativa do BTG é que a empresa pague dividendos extraordinários, o que pode se traduzir em rendimentos de dividendos de dois dígitos para este ano.
Localiza (RENT3): a Localiza, por sua vez, tem como qualidades seu foco no longo prazo e no desenvolvimento de novos produtos, o que pode compensar as interrupções na indústria automotiva, que afetam o crescimento da frota.
Gerdau: já sobre a Gerdau, o BTG menciona o forte crescimento dos resultados, a baixa alavancagem, a geração de fluxo de caixa livre e o foco no mercado imobiliário, que deve seguir forte, como pontos positivos. Além disso, o banco vê um ambiente apertado de oferta e demanda de aço nos próximos meses, o que deve sustentar os preços.
Iguatemi (IGTI11): finalmente, a reabertura econômica fez com que as vendas dos shoppings tenham começado a acelerar nos últimos meses, e a melhoria na capacidade operacional e a boa performance das varejistas de luxo devem impulsionar o Iguatemi, apesar do cenário macro desafiador.