Depois de passar a primeira parte do pregão em alta, o Ibovespa virou para o vermelho seguindo um aprofundamento das quedas das Bolsas de Nova York, em reação a dados piores do que o esperado de confiança do consumidor.
Assim, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o pregão em baixa de 0,17%, aos 100.591 pontos, com R$ 16,28 bilhões em volume negociado. Desde o início do ano, o Ibovespa acumula perdas de 4,04%, enquanto a desvalorização acumulada em junho é de 9,66%.
Em Nova York, o S&P 500 teve baixa de 2,01%, o Dow Jones caiu 1,56% e o Nasdaq recuou 2,98%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com ganhos de 0,29%.
As bolsas americanas, que já operavam no vermelho, ampliaram as quedas depois da divulgação do índice de confiança do consumidor de junho da Conference Board, que atingiu a mínima de 16 meses, em 98,7.
Por lá, os temores de uma recessão vêm ganhando cada vez mais força, em meio às tentativas do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para combater a inflação por meio de aumentos nas taxas de juros.
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Dados animam, fiscal preocupa
Por aqui, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostraram que o ritmo de criação de empregos no Brasil acelerou pelo segundo mês consecutivo em maio, com a economia criando 277 mil postos de trabalho com carteira assinada.
Os números de maio representam alta de 40% em comparação a abril, quando a economia brasileira criou 197,4 mil postos de trabalho. Na comparação anual, quando foram abertas 266,4 mil vagas, houve aumento de 4%.
“O resultado é muito bom e traz boas perspectivas para o mês de maio. Ainda que seja apenas do setor formal do mercado de trabalho, o resultado deve ser utilizado como um termômetro sobre a atividade em maio, cuja perspectiva não era das mais auspiciosas”, afirmou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, em comentário ao mercado.
Além disso, segundo indicador divulgado pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), a confiança da indústria subiu pelo terceiro mês seguido em junho, ultrapassando o nível neutro dos 100 pontos. Resultados acima de 100 pontos indicam uma perspectiva favorável para os negócios, e abaixo disso, uma avaliação desfavorável.
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Apesar dos dados, todos os olhos estão voltados para a apresentação da PEC dos Combustíveis pelo relator Fernando Bezerra, adiada para as 18h. A proposta originalmente foi pensada para ressarcir os Estados que zerarem o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis até o final do ano, mas essa ideia foi deixada de lado.
No lugar, o governo decidiu colocar a ampliação de programas sociais. Bezerra já indicou que o pacote de medidas – elevação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, auxílio mensal de R$ 1 mil a caminhoneiros e aumento do vale-gás – teria um custo aproximado de R$ 35 bilhões até o final do ano.
Essa conta, entretanto, pode ser maior. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a ala política do governo tenta elevar o valor do Auxílio Brasil e do vale-gás.
O mercado teme um cenário de descontrole fiscal, com as despesas ficando acima do teto de gastos, mecanismo que limita o aumento das despesas públicas à inflação do ano anterior.
Commodities no verde
As commodities ajudaram a limitar a baixa do Ibovespa, subindo na esteira do anúncio de mais medidas de relaxamento das restrições na China, como a redução pela metade do período de quarentena exigido de viajantes internacionais.
Outro fator que ajudou o preço do petróleo foi o anúncio de que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos não serão capazes de ampliar sua produção no curto prazo.
Neste contexto, o petróleo tipo Brent fechou em alta de 2,54%, a US$ 113,80 por barril. O minério de ferro, por sua vez, teve avanço de 6,31% na Bolsa de Dalian, na China, a US$ 121,01 por tonelada.
Assim, as ações de mineradoras, siderúrgicas e petroleiras ficaram entre as maiores altas do Ibovespa, com destaque para Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), com ganhos de 1,79% e 1,25%, respectivamente.
Na noite de ontem, a estatal anunciou a retomada dos processos de vendas das refinarias Abreu e Lima (Rnest-PE), Presidente Getúlio Vargas (Repar-PR) e Refinaria Alberto Pasqualini (Refap-RS), assim como os ativos logísticos integrados e elas.
“Somos céticos em relação à venda dos ativos devido ao cronograma apertado com as eleições. Além disso, os ativos de refino podem ser subavaliados pelo mercado, o que tende a levantar questionamentos pelo TCU [Tribunal de Contas da União], sindicatos etc.”, avaliam analistas da Genial Investimentos, em comentários ao mercado.
Outros destaques do pregão
Fora das commodities, as maiores altas do Ibovespa foram de Pão de Açúcar (PCAR3), BB Seguridade (BBSE3) e Vale (VALE3), com avanços de 2,86%, 2,13% e 1,79%, nesta ordem.
Em relatório distribuído ao mercado nesta terça, analistas do Itaú BBA retomaram a cobertura de Pão de Açúcar e classificam a ação ordinária como outperform (equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 32 – o que corresponde a uma alta de 95% em relação ao valor do fechamento da última segunda-feira, de R$ 16,42.
Para os analistas, mesmo se as empresas Éxito e Cnova, controladas pelo GPA, valessem 50% a menos do que suas cotações atuais, a ação da varejista brasileira continuaria significativamente barata.
A BB Seguridade, por sua vez, anunciou que irá distribuir 80% do lucro do primeiro semestre em dividendos.
Fora do Ibovespa, a Ômega Energia (MEGA3) disparou 16,57%, depois de fechar um acordo com a Actis, empresa britânica de investimentos, para assumir uma fatia de 10% e investir até R$ 850 milhões na companhia.
A Ômega também assinou um protocolo de intenções com “uma das principais gestoras norte-americanas de ativos de infraestrutura” para até US$ 500 milhões em investimentos em projetos renováveis a serem desenvolvidos ou adquiridos pela companhia nos Estados Unidos.
Na outra ponta, as maiores baixas foram de Hapvida (HAPV3), Via (VIIA3) e Positivo (POSI3), com perdas de 5,78%, 5,46% e 5,38%, respectivamente.
Para Régis Chinchilla, analista da Terra Investimentos, a queda de Hapvida é acompanhada de novas recomendações para o papel. Em relatório, o Credit Suisse cortou o preço-alvo do ativo quase pela metade, de R$ 16,70 para R$ 9,50.
Os analistas Mauricio Cepeda e Pedro Caravina, que assinam o relatório, atribuem a revisão à previsão de ajustes limitados de tíquetes, pressões inflacionárias sobre os sinistros e crescimento orgânico difícil. Ainda assim, a casa manteve a recomendação outperform.
Bitcoin
O mercado de criptoativos acompanhou as principais Bolsas globais em mais um dia de perdas com investidores aguardando a divulgação de dados economia dos Estados Unidos nesta semana.
Apesar do clima negativo, o Bitcoin (BTC) se manteve acima de US$ 20 mil, a nova faixa de resistência apontada pelos analistas.
Por volta de 16h50, a cripto tinha queda de 2,8% em 24 horas, negociado a US$ 20.299, conforme dados da CoinGecko.
Seguindo o viés negativo, as principais altcoins também registravam perdas. O Ethereum (ETH) tinha retração de 3,6%, enquanto a Cardano (ADA) perdia 2,5% e a Solana (SOL) cedia 6,2%.