Em um dia sem grandes novidades no noticiário, que segue repercutindo às incertezas no cenário político e fiscal, o Ibovespa fechou o pregão desta quinta-feira (8) em baixa de 1,67%, aos 107.249 pontos. Foram R$ 21,02 bilhões em volume negociado.
Com a performance de hoje, o saldo do índice para o mês de novembro é de baixa de 4,66%, enquanto a alta acumulada desde o início do ano agora soma 2,31%.
“Na minha visão, o que temos hoje é uma ausência de direcionadores positivos no mercado que possam levar a Bolsa para cima”, avalia Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital.
De olho em Brasília
Neste contexto, o mercado segue de olho na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que foi aprovada pelo Senado na noite de quarta-feira (7) e agora segue para deliberação na Câmara dos Deputados.
O texto aprovado no Senado amplia o teto de gastos em R$ 145 milhões mais R$ 23 milhões em investimentos com receitas extraordinárias por dois anos.
O mercado também repercutiu nesta quinta o comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que ontem manteve os juros básicos em 13,75% ao ano. A decisão veio em linha com o esperado pelos especialistas, com o grupo mantendo a taxa de juros intacta, mas deixando em aberto a possibilidade de os juros subirem de novo.
Nas palavras do colegiado, “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e [o Copom] não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Ou seja, se a inflação parar de desacelerar, podem vir mais altas de juros em 2023.
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O mercado já esperava algum recado deste tipo por parte do Banco Central, principalmente porque avança no Congresso o plano do governo de transição de ampliar as despesas do governo federal.
O mau humor dos investidores, de acordo com Duarte, também é resultado da incerteza em torno da divulgação de nomes de ministros do novo governo, prometida para a sexta-feira (9).
As principais apostas estão no nome de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, para comandar a equipe econômica. O petista participou de uma série de agendas com o mercado nos últimos dias e se encontrou com o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, nesta manhã, em Brasília.
Segundo Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, com o consenso de que Haddad será o novo ministro da Fazenda, os olhares se voltam para a composição dos seus auxiliares. “O mercado já estava trabalhando com um nome mais político para a Economia, desde que ele seja apoiado por secretários mais técnicos”, afirma.
Vale limita baixa
Na avaliação de Duarte, o Ibovespa só não caiu mais por causa da Vale (VALE3), que fechou em alta de 1,23%, impulsionada pela flexibilização de medidas de restrição à mobilidade na China.
Com otimismo em relação à demanda chinesa, o minério de ferro saltou para o nível mais alto desde agosto, fechando as negociações na Bolsa de Dalian em alta de 1,41%, a US$ 113,37 por tonelada.
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Enquanto varejistas derretem
Mais sensíveis aos juros, ações ligadas ao turismo e ao varejo lideraram as perdas do Ibovespa no pregão, ignorando dados positivos em relação às vendas no comércio.
As vendas no varejo brasileiro cresceram 0,4% em outubro ante setembro, o terceiro mês seguido de avanço, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na comparação com o mesmo mês de 2021, a alta foi de 2,7%.
Os dados vieram levemente acima do esperado pelos analistas. O consenso Refinitiv projetava alta de 0,3% no mês e 2,3% em comparação a outubro do ano passado.
“Não adianta dados de varejo virem em linha se o setor está machucado e lá na frente a expectativa está ruim com possíveis novas altas de juros”, diz Duarte. “O que vemos, na minha percepção, é mais uma continuidade do cenário que continua complicado com o furo no teto de gastos”.
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Um dos destaques de baixa foi a ação do Pão de Açúcar (PCAR3), que caiu 6,97% um dia após o evento anual da empresa com analistas e investidores. Apesar de a companhia ter um plano estratégico claro, os ventos contrários de curto prazo, como o cenário macroeconômico adverso e a competitividade do setor preocupam o mercado.
Segundo a XP, mesmo que o foco da companhia esteja no crescimento da receita, nível de serviços, digital, expansão de lojas e rentabilidade, existe o risco de materialização da execução desse plano, uma vez que os juros e a inflação elevados minam o poder de compra das famílias.
Respiro no exterior
Nos Estados Unidos, dados que sinalizam uma desaceleração do mercado de trabalho deram força às Bolsas. O S&P 500 fechou em alta de 0,75%, o Dow Jones subiu 0,55% e o Nasdaq avançou 1,13%.
O movimento de alta é reflexo de um aumento nos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, o que reforça as apostas em uma redução no ritmo de aperto monetário pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que se reúne para decidir o novo patamar da taxa de juros na semana que vem.
Criptomoedas
Seguindo o bom humor em Nova York, o mercado de criptoativos destravou nesta quinta-feira, véspera de divulgação de novos dados da inflação americana.
Por volta de 18h20, o Bitcoin (BTC) subia 1,9% em comparação as últimas 24 horas, a R$ 89.984, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) ganhava 3,53%, negociado a R$ 6.686.
O otimismo revive o clima de novembro, quando os investidores passaram a apostar na redução do ritmo de alta dos juros pelo Fed (o banco central americano).
O tom positivo, porém, perdeu força na última semana após números do mercado de trabalho mostrarem que a maior economia do mundo segue bastante aquecida e sem sentir a totalidade dos efeitos das restrições monetárias.