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Disparada das commodities sustenta Ibovespa; saiba o que esperar desse movimento

Minério e petróleo estão em alta por queda de juros na China e questões climáticas, geopolíticas e ambientais

Gabriel Tomé
Maeli Prado

Gabriel Tomé
Maeli Prado

Com suas cotações disparando em reação a fatores tão diversos como redução de juros na China, conflitos geopolíticos na Ásia e Oriente Médio e preocupações ambientais, o minério de ferro e o petróleo enfrentam uma espécie de tempestade perfeita reversa neste início de 2022, em um movimento que beneficia as ações de empresas com forte peso na bolsa ao mesmo tempo em que pressiona a inflação.

A disparada das commodities fez o Ibovespa resistir à queda das bolsas americanas e fechar em terreno positivo pelo segundo pregão consecutivo em 19 de janeiro. O principal índice brasileiro encerrou em alta de 1,26%, a 108.013 pontos, sustentado por mineradoras e siderúrgicas. Os sinais são de que esse movimento pode se manter.

Beneficiado pela redução de juros para empréstimos de médio prazo na China, anunciado em 17 de janeiro, que foi seguida pelo corte também das taxas de curto e longo prazos ontem (19), o minério, principal matéria-prima do aço, já acumula alta de 12,94% no ano no porto de Qingdao, onde é cotado a US$ 134,72 a tonelada. Hoje, a commodity, que também vive um cenário de redução de produção por excesso de chuvas e preocupações climáticas, subiu 2,66%.

Ao mesmo tempo, protestos no Cazaquistão por conta do aumento do preço do gás, o bloqueio de um campo na Líbia e a explosão de um oleoduto entre o Iraque e a Turquia levaram o preço do barril de petróleo a atingir o maior patamar desde 2014, com o preço do barril tipo Brent acumulando alta de 11,09% neste ano negociando a US$ 88,13.

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Mineradoras e siderúrgicas na mira

Mas o que isso quer dizer para os seus investimentos? As ações de mineradoras e siderúrgicas tendem a continuar subindo, como vem acontecendo nos últimos dias?

Para o analista de mineração, siderurgia e telecomunicações da Genial Investimentos, Gabriel Tinem, o ritmo de crescimento do mercado imobiliário chinês, que será estimulado pela queda de juros no país, irá determinar se as empresas do setor vão conseguir manter o patamar alcançado.

Ele lembra ainda que a alta recente do minério também foi sustentada pela redução da oferta: o período recente de chuvas afetou a produção de minério de ferro pela Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3). Além disso, a BHP recentemente reduziu as atividades por conta do surto de Covid-19, o que afetou a produção da mineradora.

Outro ponto importante para as cotações no curto prazo é uma possível redução da produção das siderúrgicas por conta da Olimpíada de Inverno na China, de 4 a 20 de fevereiro. “As usinas siderúrgicas tendem a reduzir a produção nesse período por conta de uma preocupação da China em melhorar a qualidade do ar durante o evento”, diz. “Existe um teto para a produção de aço, mas existe a possibilidade de ele ser flexibilizado”.

Um eventual corte na produção de aço na China pode ser favorável para as siderúrgicas como Usiminas (USIM5) e CSN, diz Tinem. Se o minério de ferro continuar próximo ao patamar de US$ 130, há grande chances de a Vale anunciar a distribuição de dividendos extraordinários dado o forte crescimento do caixa.

A Genial está com recomendação de compra para Vale, com preço-alvo de R$ 105, e para CSN Mineração com preço-alvo de R$ 9. Nesta quinta (20),  às 17h, os papéis da Vale negociavam em queda de 0,79%, a R$ 87,51, enquanto que os da CSN Mineração subiam 0,55%, a R$ 7,34.

Estoques restritos de petróleo

Já a gestora Grimper Capital está mais otimista com os investimentos ligados a petróleo. Segundo o sócio-fundador da Grimper, Sylvio Castro, o cenário é de uma restrição no aumento dos estoques, que devem sustentar o preço mais alto da commodity por período mais prolongado.

“Em um cenário de muita demanda e pouca oferta, qualquer evento, como as preocupações geopolíticas recentes, deixam o mercado estressado”, diz.

Os protestos, bloqueios e explosões na Ásia e Oriente Médio já levaram o preço do barril a atingir o maior patamar desde 2014, com o preço do barril tipo Brent acumulando alta de 11,09% neste ano negociando a US$ 88,13. O Goldman Sachs estima que o preço do barril pode chegar a US$ 100 em 2022 .

“Os estoques de petróleo estão muito baixos e entramos numa fase que a gente vai conviver com custo de energia mais alto no mundo por muitos anos”, diz Castro.

A gestora investe diretamente na commodity e também em empresas produtoras de petróleo como Petrobras, PetroRio e 3R, no Brasil, além de papéis de petroleiras no exterior. “Essas empresas geram muito caixa, reduziram a alavancagem financeira e estão negociando com múltiplos baratos”, diz Castro.

Inflação já sente alta

Esse é um cenário que já bate na inflação brasileira. Ontem, 19 de janeiro, a FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) informou que a segunda prévia de janeiro do IGP-M (Índice de Preços Geral ao Mercado) saltou 1,95%, acelerando em relação à alta de 0,43% no mesmo período de dezembro .

Foi exatamente o minério o principal responsável pela inflação ao produtor, o responsável pelo índice de preços da instituição, André Braz. “É um mineral importante, que tem peso grande na inflação e também uma enorme volatilidade nos preços”, pontua Braz.

Mas o minério não é o único responsável pela alta. A seca atípica que atinge o Sul do país nessa época do ano comprometeu as safras de lavouras de ciclo longo, com alta da soja e do milho em grão. “E isso pode piorar. Os institutos de meteorologia americanos notificaram o fenômeno La Niña para março, o que diminui o volume de chuvas no Sul e aumenta no Sudeste”.

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