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Expectativa de safra recorde murchou, mas ações ligadas a agro podem colher altas

Especialistas apontam para preços elevados nas commodities agrícolas

Foto: Unsplash

Ainda que órgãos oficiais sigam apostando em uma safra agrícola recorde no Brasil neste ano, o cenário parece cada vez mais improvável devido às condições climáticas do país. Isso, porém, deve ser positivo para algumas empresas do agronegócio negociadas na Bolsa, segundo especialistas ouvidos pela Agência TradeMap.

Nesta terça-feira o IBGE, por meio do Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA), estimou que a safra agrícola de 2022 totalizará 277,1 milhões de toneladas – alta de 9,4% em relação a 2021. O otimismo do instituto, porém, parece estar diminuindo: a estimativa é 0,3% menor que a anterior, publicada em novembro.

O gerente do LSPA, Carlos Carradas, chamou a atenção para os impactos climáticos sobre a produção, citando a Zona de Convergência intertropical e o fenômeno La Niña – caracterizado pelo excesso de chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste, mas seca na região Sul.

“Há registro de chuvas acima da média na Bahia e Ceará, enquanto nos três estados do Sul e em Mato Grosso do Sul já se observa um menor volume de chuvas, com registro de estiagens severas regionalizadas, o que vem afetando as culturas de verão”, explicou.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também estimou uma safra recorde na última terça-feira. A previsão do órgão é ainda maior que a do IBGE: 284,39 milhões de toneladas de grãos na safra 2021/22, alta de 12,5% em relação ao período de 2020/21. Mesmo assim, também diminuiu o volume estimado em relação à projeção anterior, em 2,3%, citando as secas na região Sul como principal motivo.

Alcides Torres, diretor-fundador da Scot Consultoria, empresa especializada no agronegócio, prevê uma queda de cerca de 14% na produção de milho primeira safra no Brasil e de aproximadamente 2% para a soja. “Acho que a previsão de recorde já foi para o espaço em função dessa seca que atinge todo o cone sul da América Latina.”

Queda da supersafra, alta das ações?

Na visão de Adriano Castro, analista da Genial Investimentos, a quebra das expectativas de uma supersafra agrícola é positiva para as empresas do setor listadas na bolsa de valores. Isso porque o fato de algumas regiões produtoras do Brasil e de países vizinhos estarem sofrendo com as condições climáticas fará com que a oferta de grãos seja reduzida – e, consequentemente, os preços continuem em patamares elevados.

“Temos uma expectativa de queda de produção neste ano e, em função disso, preços firmes para o milho e para a soja”, diz Alcides Torres, que também espera redução na produção de arroz, devido a custos elevados de plantio.

Ele argumenta que o principal fator para o preço das commodities agrícolas é o estoque de passagem, isto é, o estoque disponível às vésperas de uma nova colheita. Sob esta métrica, as perspectivas de preço também são positivas. “Se você tem um estoque de passagem elevado, os preços são menores. E nós estamos vindo de estoques de passagem baixos”, complementa.

Do lado da demanda, a expectativa é que a importação de produtos agrícolas pela China continue forte, garantindo um mercado aquecido. “Esperamos ver bons números de importação para quase todos os tipos de commodities”, aponta Castro. “Dada essa dinâmica como um todo, estou vendo um cenário bastante positivo para as agrícolas listadas na bolsa em 2022.”

A maior beneficiada, segundo o analista da Genial Investimentos, deve ser a SLC Agrícola (SLCE3), devido a sua diversificação geográfica. A companhia, aponta o analista, tem produção relevante nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, onde as safras de milho e soja, seus principais produtos, devem ser produtivas.

“Eles vão continuar conseguindo ter produção boa e, ao mesmo tempo, irão se aproveitar dos preços altos dos grãos”, resume Castro.

Outra empresa que pode colher bons frutos é a Boa Safra Sementes (SOJA3), que deve tirar proveito de uma dinâmica semelhante, diz. A companhia também tem uma forte diversificação geográfica e, devido à dinâmica de oferta apertada, deverá ser capaz de vender suas sementes a bons preços.

A BrasilAgro (AGRO3), por sua vez, tem um modelo de negócios diferente de seus pares do setor, focado na aquisição e otimização de terras subutilizadas para posterior venda. Com os preços aumentando, este mercado, que na análise de Castro já vem se provando rentável, deve seguir forte. “Os preços da terra são praticamente um múltiplo da produção. Com os preços subindo e com a demanda forte, os preços crescem”, explica.

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