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Bolsa está atrativa e Brasil pode ser grande ímã de investimento estrangeiro, diz Xavier, da SPX

Gestor disse, contudo, que prefere esperar a nomeação da equipe econômica de Lula para aumentar a exposição em ações

Foto: Shutterstock

Com os preços dos ativos baratos na Bolsa e um cenário de estabilidade política, o Brasil tem a chance de se sobressair em um cenário global complicado e voltar a atrair investimentos estrangeiros, afirmou Rogério Xavier, sócio da SPX Capital, nesta segunda-feira (31).

Xavier, que é um dos gestores de um dos fundos multimercados mais rentáveis da indústria neste ano, o SPX Raptor (com ganhos de 54% até 28 de outubro), disse que os investidores estrangeiros tinham uma visão mais positiva do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) em função de uma pauta mais voltada para questões ESG (sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança).

“Quando falo com meus pares estrangeiros em Londres, vejo que os investidores estrangeiros tinham preferência por Lula por ele ter uma agenda mais amigável do ponto de vista de meio ambiente, ideologias de gênero e na política externa”, observou Xavier, no evento Market Changers, da Empiricus Research.

ESG no foco de investidores estrangeiros

O gestor, que fica baseado em Londres, ressaltou que a pauta ESG é levada muito a sério na Europa, com o crescimento de partidos ligados ao meio ambiente. “Sou apenas o mensageiro, não tenho preferência política por nenhum dos dois que disputaram a eleição [presidencial]”, disse Xavier.

Passado o segundo turno das eleições, o estrangeiro vai voltar a atenção para o Brasil, afirmou o sócio-fundador da SPX, que tem cerca de R$ 80 bilhões sob gestão. A percepção do investidor estrangeiro, segundo Xavier, é de que o Brasil não está caminhando para um regime autoritário como na Turquia ou na Hungria, e se aproxima de países em que a democracia está mais consolidada.

“O presidente Lula recebeu os cumprimentos de Biden [Joe Biden, presidente dos EUA] e de praticamente toda a América Latina. A relação diplomática que não estávamos tendo deve ser reestabelecida”, disse.

Bolsa brasileira está barata

Segundo Xavier, o Brasil ainda está com posição underweight (abaixo da média do mercado) nas carteiras da maior parte das casas globais, mas as empresas na Bolsa estão muito baratas e têm grande chance de atrair recursos externos.

“Se o cenário político ajudar e caminharmos em uma direção de centro e conseguirmos aprovar uma ou duas reformas nesses primeiros meses do novo governo, o Brasil tem chance de se destacar entre emergentes.”

Para o gestor, Lula deve fazer um governo parecido com o primeiro mandato (2003 a 2006), de buscar compor uma equipe com nomes mais pró-mercado. Nesse sentido, Xavier vê a necessidade de nomeação de uma equipe econômica que tenha diálogo com o Congresso, que será composto majoritariamente por partidos de centro-direita.

Apesar de ver a Bolsa atrativa, o gestor disse que prefere esperar a nomeação da equipe econômica de Lula para aumentar a exposição em ações no Brasil. “Pode ser que a gente entre atrasado, mas entramos com mais segurança.”

Oportunidade na NTN-B

Na parte de renda fixa, o gestor da SPX vê oportunidade de investimentos nos títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs, ou Tesouro IPCA no caso dos papéis do Tesouro Direto).

Esses títulos pagam uma taxa de juros prefixada (juro real) mais a variação da inflação. O nível de juro real está hoje acima de 5% e o gestor vê espaço para ele cair.

“O juro real máximo, que não prejudica a trajetória da dívida pública, é de no máximo 3%, então tem muita gordura”, diz Xavier.

Nesse cenário, Xavier afirma que ou o governo faz reformas que ajudem o Banco Central a cortar a taxa básica de juros, ou a taxa de juros ficará mais baixa por uma questão de dominância fiscal, em que o aumento de juros tem menos eficácia para conter as expectativas de inflação, que são pressionadas pela expansão dos gastos do governo. “Estou bem confiante que o presidente Lula terá sucesso nessa empreitada de colocar pessoas de qualidade na equipe ministerial”, disse o gestor.

BCs devem ser mais cautelosos para evitar crise financeira

Depois de ganhar dinheiro com a aposta na alta das taxas de juros nos mercados desenvolvidos para conter o aumento da inflação, Xavier afirmou ainda que o cenário de investimento no mercado global não está mais tão claro.

O aperto da taxa de juros nos Estados Unidos tem gerado efeitos colaterais em economias como da Europa, e os bancos centrais enfrentam o dilema de conseguir subir a taxa básica de juros o suficiente para controlar a inflação sem gerar uma crise financeira, disse o gestor.

Para Xavier, a política monetária nos EUA não depende mais só da economia americana, mas também dos riscos que ela pode gerar para outros mercados. Para o gestor, a dose final de aperto da taxa básica americana para poder controlar a inflação sem causar uma instabilidade financeira estaria entre 4,5% e 5%, perto do patamar precificado hoje nos mercados. “Se continuarmos recebendo surpresas inflacionárias nos próximos dados, os mercados tendem a piorar bastante.”

Ele também vê riscos de bolha imobiliária na China, país que tem tido dificuldade em resolver a situação.

Nesse cenário de maior incerteza, a gestora hoje está posicionada apostando na alta das taxas de juros de mercados emergentes que começaram atrasado o processo de aperto monetário, e também busca posições relativas entre mercados.

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