Renda fixa: como investir com a Selic mantida em 13,75% ao ano?

Estabilidade da taxa básica de juros abre espaço para investidor colocar mais papéis com retornos prefixados na carteira

Foto: Shutterstock/rafastockbr

O Banco Central (BC) manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela segunda reunião consecutiva, e os juros devem permanecer nesse patamar até meados do ano que vem. O recuo deve começar de forma lenta, o que garantirá ao investidor juros de dois dígitos até o fim de 2023.

Essa estabilização está ligada à trajetória da inflação. O BC começou a subir os juros em março do ano passado para lidar com o aumento dos preços. Na ocasião, a taxa era de 2% ao ano.

Essa alta da taxa básica começa a fazer efeito. A inflação atingiu o pico em abril desse ano, quando o IPCA no acumulado em 12 meses foi de 12,1%. Já nos 12 meses encerrados em setembro, a alta do IPCA era de 7,17% e o último Boletim Focus projeta que o índice termine em 5,60% neste ano.

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É essa perda de fôlego que fez o BC parar de subir de juros. No entanto, a queda das taxas só irá começar quando a autoridade monetária acreditar que as expectativas de inflação de 2023 e, principalmente, 2024, estão convergindo para a meta sem risco de novos sobressaltos.

Dada essa perspectiva, qual é a melhor forma de tirar proveito desse quadro na hora de montar ou mexer na carteira de renda fixa?

Para tomar uma decisão, primeiro é preciso levar em conta as três categorias da renda fixa: pós-fixada, em que o rendimento do papel acompanha a variação da taxa básica de juros; prefixada, que entrega a mesma taxa de juro até o vencimento do papel; e a dos papéis corrigidos pela inflação, que em geral é dada pela variação do IPCA mais um juro predeterminado.

Espaço para papéis prefixados

Os prefixados são papéis arriscados nos momentos de alta de juros. Isso porque há o risco de a Selic subir acima da taxa que o investidor comprou o papel. Mas no momento de estabilidade dos juros e com a perspectiva de queda futura, esses papéis ficam atrativos.

“Começamos a incluir prefixados na carteira em agosto, porque já havia a sinalização que os juros iriam parar de subir”, diz Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial.

Essa alocação em renda fixada, no entanto, deve ser feita de forma gradual e a recomendação do especialista é que os prefixados atinjam, no máximo, 30% da carteira de renda fixa.

“Se o cenário base do investidor é que o juro não vai cair, então é melhor ficar no pós-fixado. O risco do prefixado é o investidor ter um rendimento abaixo do oferecido pelo pós-fixado”, conta.

Nesta quarta-feira, o Tesouro Prefixado 2025 pagava uma taxa de 11,94% ao ano, portanto, abaixo da taxa Selic. Mas o mercado espera um recuo dos juros. Segundo o boletim Focus do BC, a expectativa é que a taxa básica chegue a 11,25% ao ano no fim de 2023 e a 8% até dezembro de 2024.

Por ser considerada de risco maior, Wis recomenda que a aplicação em prefixados seja de apenas uma parte da carteira e que os vencimentos ocorram em no máximo três anos.

Preservação de patrimônio

Já para quem pensa em um horizonte mais longo, acima de três anos, a recomendação é investir em títulos corrigidos pelo IPCA, mesmo com a deflação registrada nos últimos três meses.

“É uma deflação pontual e os eventos que a causaram não vão se repetir. Para o investidor, os títulos de inflação sempre dão um juro real gordo”, conta o especialista da Genial.

Todos os papéis do Tesouro corrigidos pelo IPCA estão pagando taxas acima de 5,6%. Isso significa que o investidor ganha a inflação do período mais esse juro, ou seja, um ganho real.

“Um juro real acima de 5% a gente gosta muito. É o ponto em que tomamos mais risco”, diz Carlos Belchior, gestor de patrimônio da G5 Partners.

Assim como Wis, ele vê a deflação como pontual e, no longo prazo, a soma desse juro real com a inflação continuará superando o CDI.

Título público x privado

Sabendo qual fatia destinar para qual categoria, o investidor também pode diversificar a alocação entre títulos públicos, papéis de emissão bancária e crédito privado, levando em conta o efeito do IR (Imposto de Renda) sobre os rendimentos.

Quando o resgate é feito em até 180 dias, a alíquota é de 22,5%. Para o prazo entre 181 e 360 dias, cai para 20%. Ainda há duas faixas, 17,5% (361 a 720 dias) e 15% (acima de 721 dias).

Além dos títulos disponíveis no Tesouro Direto, os papéis bancários são os mais populares. Nessa lista entram CDBs (certificados de depósitos bancários), LCIs (letras de crédito imobiliário) e LCAs (letras de crédito agrícola). Todos possuem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), limitada a R$ 250 mil por CPF em uma mesma instituição financeira.

Desses papéis de emissão bancária, LCI e LCA possuem isenção do IR sobre os rendimentos, o que também deve ser levado em conta pelo investidor.

Outra opção de diversificação está nos créditos privados.

Nessa categoria se encontram CRIs (certificados de recebíveis imobiliários), CRAs (certificados de recebíveis agrícolas) e as debêntures de infraestrutura. Todas essas também possuem isenção do IR – mas não possuem a garantia do FGC.

Belchior, da G5 Partners, reforça que a ida para as opções de investimento privadas só compensa quando há um prêmio em relação aos papéis do governo, ou seja, o retorno oferecido precisa ser maior do que o disponível no Tesouro Direto.

“Como a demanda por renda fixa está grande, os prêmios no crédito privado não estão tão bons”, diz.

Como há uma demanda grande, as empresas conseguem fazer emissões pagando menos. A famosa lei da oferta e procura. Outro motivo é a saúde das companhias que acessam o mercado de capitais, que estão com baixo nível de endividamento, o que as deixam em condições de captarem a custos menores.

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