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Bolsa com proteção: fundos adotam posição defensiva em ações com eleição; saiba como se blindar também

Embora vejam bolsa brasileira descontada, gestores têm receios com quadro fiscal, alta de juros e eleições

Foto: Shutterstock

O aumento da incerteza em relação aos cenários político e fiscal no Brasil e o ambiente externo menos favorável para mercados emergentes, com o banco central americano subindo a taxa de juros e o maior risco de recessão global, têm levado gestores a adotarem um postura mais defensiva na alocação em bolsa doméstica.

Em busca de aumentar a proteção da carteira nesse ambiente, os fundos locais aumentaram a posição líquida vendida (apostando na queda) em Bolsa, via contrato futuro de Ibovespa e minicontratos do índice, de 395.708 contratos, em 31 de maio, para 424.374, em 28 de junho.

Da mesma forma, investidores estrangeiros reduziram a posição líquida comprada em Ibovespa de 387.902 para 378.661 contratos, enquanto o investidor pessoa física foi na direção contrária e aumentou a posição líquida comprada em Ibovespa, de 19.141 para 42.845 contratos.

Com a proximidade das eleições no Brasil e o contexto menos favorável para commodities diante da perspectiva de desaceleração global, a Claritas Investimentos adotou uma alocação mais defensiva em Bolsa local nos fundos multimercados. A gestora buscou proteger as posições em ações domésticas por meio da compra de opções de venda (put) de Ibovespa entre 100 mil e 105 mil pontos, entre outras operações estruturadas de proteção.

Isso significa que, se a Bolsa cair abaixo desse patamar, a gestora pode exercer as opções de venda do índice Ibovespa, limitando, assim, as perdas.

“Aumentamos as proteções para defender a carteira em um cenário de crescimento global mais fraco, juros mais altos e proximidade das eleições”, diz Damont Carvalho, gestor da estratégia macro da Claritas Investimentos.

O fundo multimercado Ibiúna Hedge tinha em maio uma posição vendida (apostando na queda) em índice Ibovespa como proteção para a aposta na alta do real, que foi reduzida em junho, embora ainda mantida na carteira.

Como proteger a carteira com posições vendidas em Bolsa?

No caso dos investidores pessoas físicas, há alguns instrumentos no mercado que permitem proteger a carteira de ações.

Uma alternativa é operar com minicontratos de Ibovespa. Nesse caso, o investidor vende um contrato para uma data predefinida a determinada cotação. Se no vencimento o Ibovespa estiver cotado abaixo do valor do dia da contratação, o investidor tem um ganho com a variação. Se for o contrário, ele deve pagar a diferença.

Sua cotação é calculada em reais por ponto, sendo que cada ponto vale R$ 0,20. Por exemplo, se o Ibovespa estiver cotado a 100.000 pontos, o valor do minicontrato será de R$ 20.000. Para a negociação, o lote padrão é de um contrato.

Em maio, os investidores pessoas físicas representavam 38% do total de investidores em minicontratos de Ibovespa, segundo dados da B3.

Uma das desvantagens dos minicontratos, no entanto, é a exigência do depósito de margem, ou seja, uma quantia em dinheiro ou em ativos que precisa ficar depositada com a corretora para cobrir eventuais oscilações do mercado, diz  Ricardo Eiji Tominaga, analista de equity research da Órama.

Outra alternativa é a compra de contrato de opções de venda, as chamadas put, do ETF BOVA11, fundo de índice negociado em Bolsa que replica o desempenho do Ibovespa. Puts são contratos de opções que dão o direito ao investidor de vender determinado ativo na data do vencimento pelo preço acordado no contrato. Nesse caso, o ativo é o valor de uma cota do ETF BOVA11.

“Há opções de put de BOVA11 que vencem todo mês, mas as que têm maior liquidez são as com vencimento até três meses”, diz Tominaga.

Os investidores podem encontrar contratos de opções de venda de BOVA11 de seis meses ou até passar as eleições nas corretoras. Eles são negociados no mercado de balcão.

O valor da opção vai depender do prazo e do preço de exercício (strike). Por exemplo, uma put para vencimento em setembro do BOVA11, com preço de exercício a R$ 95,13, está custando R$ 3,50. Esse é o preço do seguro que o investidor vai pagar por cada put de BOVA11 para ter o direito de vender a cota do ETF BOVA11 por R$ 95,13 na data do vencimento, protegendo a carteira de ações de uma queda do Ibovespa.

Tirando esse custo, se na data do vencimento da opção o BOVA11 estiver abaixo de R$ 91,63 (equivalente ao preço de exercício menos o custo do seguro), o investidor vai exercer a opção de venda do BOVA11 para ter lucro, explica Tominaga. “A vantagem da opção é que, diferentemente do minicontrato, ela não tem ajuste diário”, diz.

As corretoras também oferecem operações estruturadas com opção para os investidores pessoas físicas protegerem as carteiras de uma eventual queda do Ibovespa.

A Órama, por exemplo, oferece uma alternativa chamada de “trava de baixa”, que protege a carteira de uma queda da Bolsa de até 10% no período de 120 dias, a um custo de 3% do tamanho da posição, explica Tominaga.

Bolsa barata, mas não atrativa para aumentar alocação

Apesar de a Bolsa estar considerada barata, negociando com múltiplos abaixo da média histórica, Bruno Marques, gestor de fundos multimercado da XP Asset, ainda não vê um cenário construtivo para voltar a apostar na alta das ações brasileiras.

O multimercado XP Macro encerrou a posição vendida (apostando na queda) em Ibovespa em junho e está com posição zerada em Bolsa no Brasil.

“Achamos que o ambiente de alta de juros e o aumento dos prêmios de risco em bolsa lá fora não são favoráveis para mercados emergentes. E no Brasil ainda temos eleições e o cenário para o ano que vem é complexo, com um empobrecimento da população que pode demandar mais gastos fiscais e um crescimento menor”, diz Marques.

O gestor vê o risco de uma piora do quadro fiscal em 2023, em um momento em que a arrecadação do governo não será tão grande quanto neste ano.

“Estamos com um quadro maquiado por ganhos de arrecadação por inflação e alta das commodities, e vemos um processo contínuo de piora do arcabouço fiscal com um Congresso mostrando certa fadiga por reformas, mas não vemos um ambiente catastrófico”, assinala.

Para os investidores voltarem a ficar animados em voltar para a Bolsa, na opinião de Marques, duas coisas precisam acontecer. A primeira seria um recuo dos preços das commodities que permitisse uma queda maior da inflação e, consequentemente, abriria espaço para o Banco Central reduzir a taxa de juros.

O segundo fator é um posicionamento do governo eleito de mostrar um compromisso com a agenda fiscal, que permita uma redução dos prêmios de risco e, consequentemente, a queda das taxas de juros mais longas.

A situação abriria espaço para uma melhora do valuation das empresas na Bolsa, já que as taxas de juros altas elevam o custo de capital das companhias.

“Hoje ninguém sabe qual será a equipe econômica dos dois principais candidatos a presidente [Lula e Jair Bolsonaro], qual será a nova âncora fiscal, já que ambos vêm dando sinais que não manterão o teto de gastos”, diz Carvalho, da Claritas.

Local mais pessimista que estrangeiro

O investidor brasileiro já vem mais pessimista com as alocações em Bolsa desde o início do ano, e o crescimento da preocupação fiscal com o anúncio da PEC dos combustíveis, que prevê um gasto fora do teto (que restringe o aumento de despesas do governo à inflação do ano anterior), aumentou ainda mais esse pessimismo.

Em junho, até o dia 28, os fundos locais fizeram uma retirada líquida de R$ 9,8 bilhões da Bolsa, enquanto os estrangeiros fizeram aporte líquido de R$ 2,3 bilhões, depois de dois meses de fluxo negativo.

“O investidor local já estava mais pessimista que o estrangeiro e a aproximação da eleição aumenta ainda mais a incerteza. Já o investidor estrangeiro está procurando alfa [retorno adicional] ao redor do mundo”, diz Vinicius Alves, estrategista-chefe da Tullett Prebon.

Apesar da forte entrada de investimentos estrangeiros para a Bolsa no primeiro semestre, que limitou uma queda maior do Ibovespa, o gestor da Claritas vê um potencial de redução desses investimentos para o Brasil no segundo semestre diante da incerteza eleitoral e da alta de juros nos Estados Unidos e na Europa.

“Para ter um novo fluxo de capitais estrangeiro para a Bolsa brasileira, precisamos de uma agenda clara do novo presidente, que sinalize um viés mais pró-mercado e a favor de reformas, além da indicação do crescimento do Brasil no médio prazo”, diz Carvalho.

O gestor da Claritas vê uma desaceleração do crescimento em 2023 para perto de 1%, ante 1,5% a 2% de avanço esperado para o PIB neste ano.

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