À espera do Copom, Ibovespa cai 2,25%; ações sensíveis aos juros dominam baixas

Exterior também pesa sobre o índice, com mercado temendo nova alta nos juros americanos

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock/Ground Picture

Dois dias antes de o mercado conhecer a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), o Ibovespa fechou o pregão desta segunda-feira (5) em baixa de 2,25%, aos 109.401 pontos, com ações mais sensíveis aos juros entre as maiores quedas.

Com a partida entre a seleção brasileira e a Coreia do Sul na Copa do Mundo, o pregão de hoje também foi marcado pela liquidez reduzida, com apenas R$ 18,44 bilhões em volume negociado. Com a performance de hoje, o saldo acumulado pelo Ibovespa em dezembro passou para baixa de 2,74%, enquanto os ganhos desde o início do ano somam 4,37%.

Começa amanhã a reunião do Copom, que irá comunicar, na noite de quarta-feira (7), sua decisão sobre o patamar da taxa Selic. A previsão, segundo Paula Zogbi, analista da Rico, é que a taxa permaneça em 13,75% ao ano.

“A expectativa de novas altas na taxa de juros movimentaria consideravelmente o mercado de renda fixa e renda variável, com mudanças nas remunerações, preços de ativos e expectativa de crescimento das empresas”, explica a analista da Rico.

Assim, as maiores baixas do Ibovespa nesta segunda-feira foram de ações mais expostas à economia doméstica e, por consequência, mais sensíveis à curva de juros, como papéis da construção civil e do varejo.

As baixas acompanham ainda uma alta nos contratos futuros de juros, que avançam após o mercado mostrar que espera um “atraso” no fim do ciclo de aperto monetário.

Os analistas ouvidos semanalmente pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontam para uma redução menor na Selic no ano que vem, de acordo com o levantamento mais recente, publicado nesta segunda. Antes, a projeção era de retração da Selic para 11,50% ao fim de 2023. Agora, espera-se uma diminuição para 11,75%.

Cenário fiscal em foco

A nova expectativa sobre os juros reflete o temor do mercado sobre a responsabilidade fiscal do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que trabalha para aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição. Está marcada para amanhã a discussão da PEC na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Senado, enquanto a votação é esperada para quarta-feira.

Na avaliação do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a expectativa é que a PEC conceda R$ 150 bilhões em gastos extra teto, e que um novo valor seja negociado após dois anos.

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Em outra frente, de acordo com o jornal Valor Econômico, Lula teria confirmado a alguns de seus interlocutores que Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, será o novo nome a comandar a Fazenda a partir de 2023.

Haddad tem atuado junto ao time de economia na transição de governo e também representou Lula em um evento da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) na semana passada, junto ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Pressão adicional do exterior

Nicolas Farto, head de renda variável da Renova Invest, ressalta também que parte dos investidores americanos passou a projetar que a taxa terminal do juros nos Estados Unidos possa ficar acima do esperado, o que também contribui para o “estresse” da curva brasileira.

Em Nova York, o S&P 500 teve baixa de 1,79%, o Dow Jones caiu 1,4% e o Nasdaq recuou 1,93%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com perdas de 0,54%.

Também no cenário externo, investidores estão de olho na China, à espera de uma reabertura mais significativa das restrições à mobilidade impostas para combater a disseminação da Covid-19. De acordo com a agência de notícias Reuters, mais medidas de flexibilização devem ser anunciadas na quarta-feira.

Diante disso, o minério de ferro teve alta de 2,45% na Bolsa de Dalian, para US$ 114,42 por tonelada.

Na Europa, entra em vigor hoje o teto de US$ 60 ao preço do barril de petróleo russo. Em resposta, a Rússia afirmou que irá priorizar a exportação para países que paguem o preço guiado pelo mercado, como a China.

Ontem, a Opep+ (Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados) anunciou a decisão de manter a produção de petróleo nos níveis atuais. Estes dois fatores fizeram o petróleo Brent fechar com alta de 3,38%, a US$ 82,68 por barril.

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Outros destaques do pregão

O setor de construção civil caiu em bloco após a Caixa Econômica Federal, principal banco ligado ao financiamento imobiliário, reduzir o volume de crédito nos últimos meses do ano, em função da baixa da carteira de crédito da poupança, já que este recurso é utilizado pelo banco estatal para financiar boa parte dos imóveis. Destaque para Cyrela (CYRE3), que caiu 6,91%, e Eztec (EZTC3), em baixa de 7,3%.

Além desses papéis, a ação da Ecorodovias (ECOR3) recuou 7,41% e figurou entre as principais baixas do dia. Mais cedo, analistas do Itaú BBA adotaram uma postura mais conservadora em relação à empresa em um relatório enviado ao mercado. O principal ponto que preocupa o banco é o possível “atraso” no fim do ciclo de alta de juros no Brasil.

Criptomoedas

Após despencar às mínimas em dois anos, o mercado de critpoativos dá seguimento ao ciclo de recuperação observado na semana passada. Investidores seguem surfando a onda positiva da expectativa de juros americanos menores a partir de dezembro, que aumenta o apetite para ativos de risco.

Por volta das 18h30, o Bitcoin (BTC) era negociado com alta de 0,24%, vendido a R$ 89.628, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) perdia 0,72%, a R$ 6.646.

“Agora os touros têm um novo desafio ao longo da semana que é tornar US$ 17 mil como suporte e buscar uma nova perna em US$ 18 mil. Contudo, diferente da semana passada a tarefa pode não ser tão fácil”, informou a corretora Bybit em nota.

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Em uma semana de agenda mais fraca no cenário internacional, investidores focam as atenções na divulgação do PPI (índice de preços ao produtor) de novembro, na sexta-feira (9).

Os dados podem dar mais gás ao humor dos mercados após recentes dados da inflação melhores do que o esperado.

Por outro lado, a resiliência do mercado de trabalho escancarada pela criação de empregos acima do esperado no mês passado trouxe um choque de realidade ao mostrar que os juros podem ter que subir mais e por mais tempo que o inicialmente projetado.

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