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À espera de Fed e Copom, Ibovespa acompanha exterior e derrete quase 3%

Endurecimento das medidas restritivas na China também pesou sobre os mercados

Foto: Shutterstock

Dois dias antes das decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil, o Ibovespa acompanhou as Bolsas mundiais e derreteu, fechando em baixa de 2,73%, aos 102.598 pontos, com R$ 22,72 bilhões em volume negociado.

Com esta, que é a sétima queda seguida, o saldo do índice no mês de junho passou para baixa de 7,86%. Desde o início do ano, o Ibovespa acumula perdas de 2,12%.

As Bolsas do exterior também tiveram dia difícil. Em Nova York, o Nasdaq despencou 4,68%, o S&P 500 caiu 3,87% e o Dow Jones teve baixa de 2,79%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 fechou com perdas de 2,69%.

Altas de juros no radar

O recuo das Bolsas ao redor do mundo vem antes da superquarta, em meio a expectativas de mais aumentos nas taxas de juros nos EUA e no Brasil.

A percepção de que os juros irão aumentar mais nos EUA foi reforçada pelos dados de inflação (CPI) acima do esperado nos Estados Unidos, divulgados na última sexta-feira.

Parte do mercado vinha acreditando que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) poderia interromper o ciclo em setembro, mas a indicação de que a inflação pode não ter chegado ainda a seu pico reduziu essa possibilidade. O receio dos investidores é que o Fed seja obrigado a contratar uma recessão da economia para frear a alta de preços.

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O aumento dos juros tende a ter efeitos negativos sobre o mercado de ações. Primeiro porque encarece o crédito, o que aumenta as despesas das empresas com a própria dívida e deixa os consumidores menos propensos a gastar. Ambos os fatores podem reduzir o lucro das companhias. Depois, porque eleva o retorno dos investimentos em renda fixa, o que reduz o apelo da renda variável.

Há um terceiro fator que entra nesta conta, mas se refere especificamente ao momento atual: os investidores temem que um aumento mais agressivo dos juros provoque uma recessão nos EUA – algo que seria menos provável se as taxas subissem mais devagar.

Por aqui, soma-se ainda a expectativa antes da decisão de política monetária do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). A expectativa é de um aumento de 0,50 ponto na taxa básica, a 13,25%, com os economistas de olho no comunicado da decisão.

Parte do mercado espera que o Copom irá indicar que para por aí, mas outros economistas veem chance de que, em meio às pressões sobre a inflação de 2023, o BC deixe a porta aberta para mais aperto em agosto.

Notícias vindas da China também pesaram sobre os mercados. A cidade de Pequim anunciou a suspensão de eventos esportivos, adiou o retorno às escolas e reforçou outras medidas de controle.

As novas medidas restritivas pressionaram o minério de ferro, derrubando ações de siderúrgicas e mineradoras, com destaque para CSN (CSNA3), que caiu 6,06%, e Gerdau (GGBR4), com recuo de 5,32%. A Vale (VALE3), por sua vez, teve baixa de 3,17%.

Ruídos em Brasília

Outro tema que segue no radar dos investidores é a votação no Senado do projeto que limita a 17% as alíquotas do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, energia e comunicações, após aprovação na Câmara dos Deputados.

A votação é considerada essencial para que o governo Bolsonaro coloque em prática o seu plano de zerar os impostos federais para a gasolina e etanol e instituir o ressarcimento de Estados que eliminarem, até o final do ano, o ICMS do diesel e gás de cozinha.

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Se a matéria for aprovada, o presidente da Câmara, Arthur Lira, espera votar em um mês a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que cria esse pacote. O objetivo é reduzir a inflação elevada em ano eleitoral.

A medida teria um custo de R$ 46 bilhões para os cofres públicos e reduziria o valor do litro da gasolina em R$ 1,65 e o diesel em R$ 0,76. O receio, porém, é que os benefícios da proposta para a inflação sejam anulados com novos reajustes dos combustíveis pela Petrobras, que está sob pressão da disparada do petróleo no mercado internacional.

Destaques do pregão

As maiores baixas do pregão, no entanto, foram de Gol (GOLL4), CVC (CVCB3) e Méliuz (CASH3), com perdas de 14,46%, 11,72% e 11,11%, respectivamente.

Os papéis foram pressionados por um movimento de aversão ao risco dos investidores, que redobram a cautela em meio ao cenário de inflação e juros altos por longo período.

No caso de Gol e CVC, as quedas vêm não só porque são negócios sensíveis ao consumo, que se retrai com a perspectiva de juros altos, mas também porque estão entre as empresas mais alavancadas — isto é, quando a dívida é alta em relação ao lucro que são capazes de gerar.

“Trata-se de um movimento de risk-off [aversão ao risco]”, disse à Agência TradeMap o analista Gustavo Wolf, sócio da Meraki Capital. “Essas empresas estão alavancadas, então sofrem com o aumento dos juros”, acrescentou.

Além dos juros, as companhias aéreas também sofrem com o aumento do dólar, uma vez que cerca de 60% dos custos dessas empresas estão associados à moeda americana.

Apesar de terem acompanhado o movimento de baixa do mercado, as novas ações da Eletrobras (ELET3), que começaram a ser negociadas nesta segunda após a privatização da companhia, ficaram entre as menores quedas do dia, com recuo de 2,2%. O preço por ação da operação ficou em R$ 42, e a oferta pode chegar a movimentar R$ 33,69 bilhões, caso seja confirmada a venda do lote extra de papéis.

Na outra ponta, as únicas altas do Ibovespa foram de Cielo (CIEL3), Suzano (SUZB3) Edp Energias do Brasil (ENBR3) e Taesa (TAEE11), com ganhos de 1,32%, 0,7%, 0,64% e 0,3%, nesta ordem.

A empresa de maquininhas foi tema de um relatório recente do BTG Pactual, que aumentou seu preço-alvo para a companhia no fim de 2022 de R$ 4 para R$ 5, vislumbrando “volumes mais fortes que o esperado e uma dinâmica de preços mais favorável” para a companhia no futuro.

“Esses fatores nos levam a acreditar que ainda há uma vantagem da Cielo em relação aos concorrentes”, comentam os analistas do banco, destacando que, desde o início do ano, os papéis já valorizaram cerca de 65%.

De acordo com os analistas, o volume total de pagamentos (TPV) processados por empresas de cartões superou as expectativas no primeiro trimestre deste ano.

Bitcoin

Seguindo a queda generalizada dos mercados acionários, os criptoativos também tiveram um início de semana de fortes perdas em expectativa ao anúncio do Fed.

A desvalorização do Bitcoin (BTC) chegou a beirar 20% em meio à fuga dos investidores, jogando a cotação ao menor patamar desde o fim de 2020.

Por volta de 17h, o maior cripto em valorização registrava tombo de 15,5% em 24 horas, a US$ 23.255, conforme dados do CoinGecko.

Na mesma hora, o Ethereum (ETH) perdia 17,2% enquanto a Solana (SOL) caía 13,4%. 

Além das pressões macroeconômicas, o humor dos investidores também é pressionado pela suspensão de atividades na Binance, a maior bolsa cripto em capitalização, e na Celsius, plataforma de empréstimo com base em ativos digitais.

Enquanto a Binance anunciou a retomada dos saques em BTC após três horas de paralisação, a Celsius ainda não informou a retomada completa das atividades.

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