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Sondagem da Indústria mostra terra arrasada com inflação, juros altos e guerra

Linha branca e eletrônicos são segmentos que mais sofrem com cenário macroeconômico adverso

Foto: Shutterstock

A confiança da indústria brasileira caiu pela oitava vez consecutiva no mês de março, atingindo o menor nível desde julho de 2020, segundo dados da Sondagem da Indústria, levantamento da FGV/ Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), divulgados na terça-feira (29). Não é por acaso.

Inflação disparando, juros altos, pandemia e, mais recentemente, a invasão da Ucrânia pela Rússia fazem o setor enfrentar um verdadeiro tsunami de dificuldades que vêm tanto da demanda enfraquecida pela disparada de preços como dos custos elevados pela escassez de matérias primas.

 

Reprodução/ FGV

Dados mais detalhados da pesquisa levantados pela FGV a pedido da Agência TradeMap, referentes à média móvel trimestral de março de 2022, ajudam a entender quais partes da indústria estão sofrendo mais com essa tempestade perfeita.

Máquinas e materiais elétricos, definição que inclui eletrodomésticos da linha branca, encabeçam o ranking da falta de confiança da indústria, que é medida pela avaliação da situação atual dos negócios e também pela perspectiva para os próximos meses.

O segmento aparece com uma pontuação de 69,4 pontos para a média móvel trimestral deste mês — resultados acima de 100 pontos indicam uma perspectiva favorável para os negócios, e abaixo disso, uma avaliação desfavorável.

Em segundo lugar, vem informática e eletrônicos, como TVs, smartphones e computadores, com 74,4 pontos, seguido por produtos de plástico, com 75,5 pontos, derivados de petróleo (84,3 pontos) e vestuário (89,6 pontos).

São segmentos diretamente afetados pelo aumento dos juros –que dificulta o consumo parcelado de produtos de maior preço — e pela disparada dos preços, que reduz o poder de compra da população.

Cenário incerto

O Banco Central começou a subir a taxa básica, a Selic, em março do ano passado, quando estava em 2% ao ano. Hoje os juros já estão em 11,75%, e analistas projetam uma taxa de 13% no final do ano.

“Os bens duráveis, particularmente, dependem de juros menores, de demanda, de oferta de crédito e de um cenário de menos incertezas para avançar”, explica o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV, Aloisio Campelo Júnior, que lembra que a indústria chegou a mostrar recuperação no início de 2021, mas passou a recuar a partir do segundo semestre.

Ele lembra que outros segmentos, como vestuário, sofrem particularmente com a inflação. Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de mais de 10%, o que faz com que a renda real (descontada a inflação) esteja em queda.

“O setor de vestuário já passou por uma recuperação no ano passado. Agora, a demanda está recuando por causa da inflação”, apontou Campelo.

As dificuldades enfrentadas pela indústria para obtenção de matéria prima contribuem para a alta de preços, cenário que foi estimulado pela pandemia de coronavírus e pela invasão da Ucrânia pela Ucrânia, que vêm encarecendo as cotações das commodities no mundo todo.

“A confiança da indústria esboçou uma reação no segundo trimestre do ano passado, mas depois caiu. Além da inflação, houve uma aceleração do setor de serviços por causa do sucesso da vacinação. As pessoas passaram a consumir mais serviços e para compensar consumiram menos bens”, explica o especialista da FGV.

Os mais confiantes

A FGV também levantou os segmentos da indústria mais confiantes na situação atual e perspectivas para o futuro. Apesar de terem a maior pontuação, a maior parte daqueles que encabeçam o ranking mostraram queda em março na comparação com a média móvel trimestral encerrada em fevereiro.

São eles: máquinas e equipamentos (112,8 pontos), veículos automotores (109,5 pontos), outros equipamentos de transporte (106,4 pontos), têxtil (106,2 pontos) e papel e celulose (100,1 pontos).

De acordo com Campelo, os setores com melhor desempenho são aqueles que sofreram baques muito profundos com a pandemia e que ainda não se recuperaram totalmente no ano passado.

“No caso de bens de capital [onde estão máquinas e equipamentos], por exemplo, o setor ainda está em recuperação, após uma queda forte durante a pandemia. O empresário só investe em máquinas e equipamentos se realmente for necessário. Mas após tanto tempo em crise, é necessário fazer trocas de maquinário, ou substituições”, aponta.

O mesmo raciocínio vale para a indústria automobilística, que além da retração da demanda durante a pandemia teve que lidar com a falta de semicondutores. “A indústria automobilística desabou, mas durante esse período os carros foram envelhecendo, muitos jovens foram atingindo a maioridade e já podem dirigir. A demanda começa a melhorar”, avalia.

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