O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (24) que o cenário mais provável é que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) só eleve a taxa básica de juros (Selic) mais uma vez neste ano, na reunião de maio. Ele ressaltou, entretanto, que o momento atual é de bastante volatilidade por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, e que o BC pode ir além se necessário.
“Se houver algum outro choque, poderíamos repensar o cenário, fazendo outra alta adicional. Não é o mais provável, como indicado na ata. Mas estamos em um cenário muito volátil”, disse o presidente do BC.
Na semana passada, o colegiado subiu os juros em 1 ponto percentual, a 11,75% ao ano, e indicou nova alta de mesmo tamanho no próximo encontro, o que levaria a Selic a 12,75%. Apesar desse ser o cenário principal do BC para os juros, analistas de mercado ouvidos semanalmente no Boletim Focus esperam que a taxa atinja 13% em dezembro.
“Se tem uma coisa que o BC tem feito, não só em termos absolutos mas em termos comparativos com o mundo emergente, é não ficar atrás da curva”, afirmou Campos Neto ao ser questionado sobre a discrepância de expectativas durante coletiva de imprensa para divulgação do Relatório Trimestral de Inflação.
Na ata divulgada nesta semana, o comitê argumentou que as premissas que costuma adotar, que preveem que o barril de petróleo alcance US$ 121 no final de 2023, estende para um período muito longo (daqui até o ano que vem) uma cotação extraordinária, “resultante de uma conjuntura internacional particularmente anômala”.
Por isso, adotou um cenário alternativo traçado por analistas de mercado, que prevê que a cotação da commodity irá se normalizar até o final do ano, ficando próxima a US$ 100.
“Temos uma possibilidade que é mecânica, que sempre foi usada pelo Banco Central para projetar os preços do petróleo, que é pegar a média da cotação das semanas anteriores e adicionar uma alta de 2%”, apontou Campos Neto. “Mas há outro cenário, que acreditamos ser a forma mais eficiente de tomar decisões em momentos de volatilidade”.
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O presidente do BC afirmou que o Brasil foi o país que mais se adiantou para conter a inflação — o atual ciclo de aperto monetário começou em março de 2021 — e que o ritmo atual de aumento de juros é o adequado.
“Olhamos diversos cenários, e entendemos que há um choque adicional [o efeito sobre a inflação da guerra entre Rússia e Ucrânia]. Isso justifica a tomada de mais 100 pontos base, e num cenário de incertezas, consideramos o ritmo mais adequado mais 100 pontos base na próxima reunião”.
No relatório trimestral de inflação, a autoridade monetária reforçou que se a cotação do petróleo se normalizar, a projeção para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano é de 6,3%, e, para 2023 (que é para onde o BC está olhando no momento), de 3,1%, abaixo do centro da meta de inflação.
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