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PIB em queda eleva pressão para BC cortar Selic

Juros altos devem refrear alta do PIB em 2023, com agropecuária respondendo por boa parte da expansão deste ano

Foto: Shutterstock/rafastockbr

A queda do PIB (Produto Interno Bruto) no quarto trimestre de 2022 mostra que a taxa básica de juros em patamares elevados já está refreando a atividade econômica, e deve reforçar a pressão do governo Lula sobre o Banco Central para que um corte na Selic aconteça o quanto antes. 

Impulsionada pelo setor de serviços, a economia cresceu 2,9% no ano passado, mas sentiu o baque do crédito mais caro e do elevado endividamento, e caiu 0,2% no quarto trimestre.

Os juros básicos começaram a subir em março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano, e alcançaram os atuais 13,75% ao ano em agosto do ano passado, no maior choque monetário desde 1999 – na ocasião, em meio à crise cambial, o BC elevou a taxa básica em 20 pontos percentuais em uma única reunião.

É fato que o PIB mostrou resiliência no ano passado. A economia foi impulsionada pela forte recuperação dos serviços, que se reorganizaram e foram além do período pré-pandemia, e dos estímulos concedidos em um ano eleitoral – entre outros benefícios, o então Auxílio Brasil foi elevado de R$ 400 para R$ 600.  

Mas a conta do choque de juros para conter a inflação parece ter começado a chegar, embora os economistas se dividam sobre a possibilidade de o Brasil entrar em recessão neste primeiro trimestre.

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“É um triste fim para 2022, mas a economia provavelmente evitará uma recessão no primeiro trimestre”, aponta Andres Abadia, economista-chefe para a América Latina da consultoria britânica Pantheon Macro, em relatório. 

O especialista pondera que o PIB em queda, aliado à forte diminuição na confiança da indústria, mostra que cortes na Selic são “muito necessários.” “Esperamos uma alta de 1,4% no PIB deste ano”, afirma. “E ainda esperamos cortes na Selic a partir do terceiro trimestre, assumindo que o presidente Lula pare de lutar com o Banco Central.”

No início do mês passado, o conflito entre Lula e o BC escalou – em especial após o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) sinalizar a chance de uma Selic em 13,75% até 2024. O governo defende uma revisão para cima da meta de inflação de 2024 pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Para Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, a perda de tração da atividade parece ter se espalhado entre os diferentes setores. “Neste sentido, o enfraquecimento da economia chegou ao mercado de trabalho no final do ano passado, com diminuição expressiva da geração líquida de empregos.”

Investimentos em queda, consumo das famílias desacelerando

No quarto trimestre, a indústria mostrou retração de 0,3%, enquanto a agropecuária e os serviços apresentaram variação positiva de 0,3% e 0,2%, respectivamente. Dentre as atividades industriais, a única alta foi nas extrativas. “Todo o restante caiu”, ressalta Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, no material de divulgação do PIB. 

Apesar de os serviços mostrarem alta, houve queda no comércio (-0,9%) e em administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,5%).

Os investimentos (formação bruta de capital fixo) tombaram 1,1%, a primeira queda desde o primeiro trimestre, revertendo quase metade do ganho de 2,6% no terceiro trimestre. 

“Olhando à frente, acreditamos que a economia conseguirá evitar uma recessão no primeiro trimestre, mas graças ao suporte da agricultura e outros setores primários e às resilientes atividades de serviços”, diz a Pantheon Macro. “Mas os riscos são massivamente inclinados para o lado negativo, devido às altas taxas de juros, ruído político ainda alto e enfraquecimento do mercado de trabalho.”

A consultoria britânica Capital Economics é menos otimista, e acredita que o Brasil entrará em recessão técnica no período entre janeiro e março deste ano (nesse cenário, o PIB brasileiro cairia por dois trimestres seguidos). “A fragilidade da economia pode levar o presidente Lula a redobrar seus esforços para dar mais apoio social e pressionar o Banco Central a baixar os juros”, diz em relatório.

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Safra recorde de grãos ajudará PIB em 2023

Na avaliação do economista Sergio Vale, da MB Associados, o tom da economia brasileira neste ano continuará a ser dado pelos juros altos – o especialista espera avanço de apenas 1% no PIB em 2023.

“Certamente o efeito marcante de impacto na economia este ano continuará sendo a taxa de juros. Com os ruídos criados pelo próprio governo, o BC deu sinais de que terá que atrasar a queda de juros pela alta das expectativas de inflação para os próximos anos e a falta de uma consolidação fiscal concreta”, avalia. “A expansão da economia em 2023 deverá ser pequena, de 1%, com predominância da agropecuária que, com uma supersafra, deverá ser responsável por quase todo o crescimento do país este ano.”

Uma alta de 1% do PIB também é a projeção da economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

“Reconhecemos que o resultado pode ser um pouco melhor, pois existem dois fatores puxando a economia para cima: o primeiro é a já mencionada safra recorde de grãos. O segundo é o aumento dos benefícios sociais do governo, que ajudam a amenizar a desaceleração da economia. Mas mesmo esses dois fatores são temporários, ou seja, logo deixarão de atuar em favor do crescimento econômico”, alerta. 

Margato, da XP, também projeta uma alta de 1% no PIB deste ano, com destaque para a agropecuária. “Mantemos a projeção de crescimento de 1% para o PIB de 2023. A forte expansão da agropecuária (ao redor de 8%) responde por grande parte desta expectativa”, diz o economista em relatório. 

 

 

 

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