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Menor desemprego em 8 anos mostra mercado de trabalho resistente, mas cenário deve mudar

Dados com ajuste dos efeitos típicos de cada período apontam já apontam efeitos dos juros altos

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

Em um ano de inesperado crescimento do setor de serviços, que avançou a um patamar acima do pré-pandemia, o mercado de trabalho fechou 2022 com a taxa de desemprego abaixo de 8% no trimestre encerrado em dezembro – mais especificamente, 7,9%, o menor patamar para um final de ano desde 2014, como mostraram dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo IBGE. 

O número representa a décima queda seguida da desocupação, mas dados dessazonalizados (ou seja, quando se retira os efeitos típicos de cada período do ano) mostram um cenário de quase estabilidade na comparação com o trimestre encerrado em novembro.

Para economistas, o cenário é de um mercado de trabalho ainda resistente, mas que já começa a sentir a taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado e a desaceleração da atividade econômica.   

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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que a queda da desocupação média brasileira, de 13,2% em 2021 para 9,3% no ano passado, foi puxada principalmente pela recuperação do setor de serviços no pós-pandemia. 

Ela aponta que, com ajuste sazonal, a taxa ficou em 8,4%, uma queda leve em relação a novembro, com 8,5%. “Esse resultado mostra que a taxa ajustada, que vinha caindo de forma mais significativa ao longo de 2022, provavelmente parou de recuar nos últimos meses, já que a taxa trimestral ficou em 8,5% em outubro, repetiu 8,5% em novembro e foi a 8,4% em dezembro”, analisa.

Esse cenário, para a economia, confirma a tese de que a perda de fôlego da economia já começou a impactar o mercado de trabalho. “Setores como comércio e indústria já acusaram essa desaceleração, e acreditamos que esse movimento chegará também ao de serviços.”

A queda da taxa em dezembro foi resultado de um recuo na PEA, indicador que mede quantas pessoas estão no mercado de trabalho (seja buscando emprego, seja empregadas), que recuou 0,5% no trimestre encerrado em dezembro, segundo cálculo da especialista. Como a ocupação caiu menos (0,4% em relação a novembro), a desocupação diminuiu.

“Se o mercado estivesse mais aquecido, as pessoas voltariam a procurar emprego com mais intensidade, elevando tanto a taxa de ocupação quanto a PEA, o que não vem acontecendo nos últimos meses”, nota Moreno.

Renda em alta

Nas contas de Rodolfo Margato, da XP Investimentos, os números dessazonalizados mostram um aumento da taxa de desemprego, de 8,3% em novembro para 8,5% em dezembro  – cada economista utiliza critérios diferentes para tirar o impacto sazonal dos dados.

A queda na população ocupada, segundo ele, registrou o terceiro recuo na comparação mensal. “Essa dinâmica reflete a desaceleração da atividade econômica doméstica ao longo do segundo semestre de 2022”, apontou em relatório. “Estimamos estagnação do PIB total no quarto trimestre ante o terceira trimestre (+0,1%)”, afirmou. 

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Os resultados oficiais do PIB (Produto Interno Bruto) para os últimos três meses de 2022 serão informados nesta quinta-feira (2). 

Margato pondera que, por outro lado, o rendimento médio real habitual (que tira o efeito da inflação) teve a oitava alta seguida. Mesmo assim, esse indicador ainda está 1% abaixo do registrado no pré-pandemia, no início de 2020. “Prevemos que o rendimento real do trabalho permanecerá em trajetória altista até o segundo trimestre de 2023.”

De olho na Selic

Para o especialista da XP, o emprego continuará a perder força nos próximos meses, ficando estagnado no primeiro semestre e caindo no segundo. “De acordo com as nossas projeções, a taxa de desemprego dessazonalizada atingirá 9% no final de 2023.”

É a mesma projeção de Moreno, do C6 Bank, que acredita em uma desocupação final de 9% em dezembro deste ano e de 9,5% em 2024. 

Para a consultoria britânica Pantheon Macro, os dados mostram que a recuperação do mercado de trabalho está perdendo fôlego, o que pode favorecer um corte na taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, na segunda parte do ano. 

“O cenário de curto prazo é negativo, e acreditamos que isso dará mais argumentos para um corte de juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) no segundo semestre, se o presidente da República para de criar ruídos fiscais.”

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