Impulsionado por combustíveis, móveis e eletrodomésticos, o volume de vendas do varejo surpreendeu o mercado ao avançar 1,1% em fevereiro, bem acima do 0,1% de alta esperado por analistas ouvidos pela Reuters.
O número se seguiu ao bom desempenho de janeiro, quando o indicador subiu 2,1%, no dado revisado da PMC (Pesquisa Mensal de Comércio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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A boa notícia tende a ser pontual, segundo economistas. A expectativa é que o consumo de bens passe a sofrer em duas frentes: a corrosão do poder de compra causada pela disparada da inflação e a escalada da taxa básica de juros, que limita também o avanço das vendas de bens de maior valor, que dependem de crédito.
“Contribuiu para essa surpresa altista do início do ano o Auxílio Brasil, que começou a ser pago neste ano. Temos visto isso ajudar a sustentar as vendas dos supermercados, por exemplo”, apontou Luciano Rostagno, estrategista chefe do Banco Mizuho. A categoria de super e hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo avançou 1,4% no mês retrasado.
Para o especialista, os dados de janeiro e fevereiro também embutem alguma recuperação do atribulado final de 2021, quando o comércio caiu com força. “Acredito que há um pouco de ajuste neste começo de ano. Mas não vai se manter, com a inflação e alta dos juros”.
Além disso, o salto no volume de vendas dos combustíveis (o dado corresponde às vendas do período descontada a inflação) não deve se repetir em março –a expansão ocorreu por causa da melhora da mobilidade com o avanço da vacinação e alguma antecipação de compras por perspectiva de reajuste de preços.
“Os dados em perspectiva ainda são ruins. A variação trimestral encerrada em fevereiro foi de queda de 0,53%, uma recuperação em relação ao trimestre anterior”, avaliou o economista-chefe da Necton, André Perfeito. “A economia segue lutando para sair da letargia, mas se tratando de dados de fevereiro, quando ainda não estavam claros todos os efeitos do conflito no Leste Europeu, sugerimos cautela com os dados”.
Alta generalizada
A PMC apontou alta em seis das oito atividades pesquisadas em fevereiro. O maior crescimento foi o do setor de livros, jornais, revistas e papelarias, que cresceu 42,8% com a volta às aulas presenciais – este não foi o maior impacto, devido à baixa representatividade nas vendas totais.
“O que segurava a atividade era o mercado de livros didáticos, que foi bastante afetado pela pandemia com o ensino online e a migração do material impresso para o meio digital”, explicou o gerente da pesquisa do IBGE, Cristiano Santos. “Ocorre que no início deste ano houve uma retomada relacionada, principalmente, com os grandes contratos de livros didáticos”.
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A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou que o bom desempenho na pesquisa foi generalizado. “O resultado reforça nossas projeções de crescimento de 1,5% do PIB [Produto Interno Bruto] de 2022, acima das previsões do mercado”, afirmou, ressaltando que as projeções são de que as vendas do varejo continuem andando de lado.