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Recuperação dos serviços atrasa e pode demorar ainda mais com inflação e juros altos

Em surpresa negativa, setor recuou 0,2% em fevereiro, segundo dados do IBGE divulgados nesta terça

Foto: Shutterstock

A tese da maior parte dos analistas de mercado para o desempenho de serviços em fevereiro fazia todo sentido: a reabertura da economia no início deste ano, consequência do avanço da vacinação no país, iria permitir a recuperação do setor, em especial daqueles prestados às famílias, como alimentação, alojamento, cursos e salões de beleza.

Mas não foi isso o que aconteceu. A PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada nesta terça (12) pelo IBGE, mostrou queda mensal de 0,2% na receita real do setor em fevereiro (a projeção de especialistas ouvidos pela Reuters era de alta de 0,7%).

Os serviços prestados às famílias, os que mais sofreram com o avanço do coronavírus, foram a principal decepção. Após tombarem 1% em janeiro, reagiram muito pouco em fevereiro (alta de 0,1%), se mantendo num patamar 14% abaixo do pré-pandemia.

Já o segmento de informação e comunicação perdeu força pelo terceiro mês consecutivo, com a volta ao trabalho presencial reduzindo o consumo de serviços de telecomunicações e portais provedores de conteúdo e busca de internet.

“Com a queda no número de casos de Covid-19, a ideia era que houvesse uma recuperação mais forte nos serviços às famílias, mas isso acabou não ocorrendo”, apontou o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Recuperação em março

A expectativa é que pelo menos parte dessa retomada ainda represada aconteça em março.

“A Sondagem de Serviços da FGV [Fundação Getúlio Vargas] do mês passado mostrou que a confiança do segmento dos serviços prestados às famílias avançou 3,4% em março, encerrando uma série de quatro quedas consecutivas”, avaliou. “Houve uma melhora principalmente do índice da situação atual, reflexo da queda dos casos de coronavírus e reabertura econômica”.

É o mesmo movimento destacado pela economista Claudia Moreno, do C6 Bank, que esperava uma expansão de 0,4% na PMC.

“Um dos motivos que explica o fraco desempenho do setor foi o resultado dos serviços prestados às famílias, que ficaram praticamente estagnados depois de registrarem queda em janeiro”, avaliou Moreno. “Esse segmento tem um peso importante no PIB [Produto Interno Bruto] do setor, e foi o mais afetado pela pandemia”.

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Pedras no caminho

Apesar da expectativa de que a PMS de março mostre recuperação, tudo indica um primeiro trimestre ruim para serviços, na avaliação de Rostagno, do Mizuho.

“A perspectiva é de um crescimento baixo do setor, evidenciando que a recuperação cíclica da crise provocada pela pandemia está dando sinais de exaustão, está perdendo força”, afirmou o estrategista. “O setor deve começar a responder aos fundamentos econômicos, que não são muito bons. Inflação alta, que corrói o poder de compra, taxa de juros de dois dígitos e um cenário mundial envolto por muitas incertezas”.

Foram os mesmos desafios apontados pelo economista Alberto Ramos, chefe de pesquisa do Goldman Sachs para a América Latina, em relatório.

“Esperamos que parte dos segmentos ainda impactados pela Covid se recuperem mais nos próximos meses”, avaliou. “Entretanto, a inflação de dois dígitos, o aumento das taxas de juros, alto nível de endividamento das famílias, ruído político e incerteza política devem gerar ventos contrários à atividade no curto prazo”.

Para o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, os dados daqui para a frente ainda irão incorporar a alta de juros. “Ou seja, [o setor de serviços] tende a continuar relativamente fraco na margem. Mais um desafio à autoridade monetária, que terá que conciliar crescimento baixo com juros em alta”, comentou.

Locação de carros em alta

Do lado das altas, o destaque da PMS de fevereiro ficou por conta de transportes, que subiram 2% por causa do aumento dos serviços de transporte rodoviário e ferroviário de carga – o transporte aéreo, por outro lado, teve impacto negativo, com queda de 9,1%.

“Esse é o quarto mês seguido de crescimento [do segmento de transportes], com ganho acumulado de 8,2% nesse período. Em fevereiro, o setor foi impulsionado pelo transporte rodoviário e ferroviário de carga”, afirmou o gerente da PMS, Rodrigo Lobo.

Os serviços de locação de carros também se destacaram por causa da forte redução nos preços de aluguéis de veículos.

“Teve uma influência por conta da queda nos preços apurados nos aluguéis dos veículos, mensurada pelo IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que caiu 15,28% no período], que fez com que houvesse aumento no volume de serviços de locação de automóveis”, destacou o gerente do IBGE.

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