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Nubank (NUBR33) tem lucro questionável, mas monetização da base ganha força – BDR sobe quase 20%

Fintech atinge a marca de 65,3 milhões de clientes, com receita média por usuário ativo maior que Inter

Foto: Shutterstock

Aos 45 minutos do segundo tempo da temporada de balanços do segundo trimestre deste ano, o Nubank (NUBR33) apresentou números sólidos. O balanço mostra uma aceleração na monetização da base de clientes, da inadimplência (embora dentro do esperado), mas ainda com uma “mancha” no lucro. 

O banco digital atingiu a marca de 65,3 milhões de clientes, sendo que um terço foi conquistado nos últimos 12 meses e 5,7 milhões entre abril e junho deste ano. Por volta das 12h30 desta terça-feira (16), os BDRs do Nubank disparavam 19,04%, para R$ 4,69.

A grande questão relacionada ao modelo de negócio da fintech tem relação com a geração de receita com esse mar de usuários.

Nesse sentido, a receita da companhia atingiu US$ 1,15 bilhão, alta de 229,7% se comparado ao mesmo período do ano passado. O crescimento do lucro bruto, por sua vez, foi de 109,1% na mesma base comparativa, para US$ 363,5 milhões.

Analogamente, as despesas operacionais cresceram significativamente. As despesas gerais e administrativas, como relacionadas ao pagamento de salários, cresceram 87,6% em 12 meses, para US$ 229,5 milhões, bem acima da inflação no período. 

As despesas com marketing mais do que dobraram, para US$ 36,2 milhões. A alavancagem operacional, porém, fez seu papel. 

As despesas operacionais saíram de US$ 180,6 milhões para US$ 388,1 milhões um ano, mas a participação total em relação à receita saiu de 51% para 34%. Ou seja, mesmo que as despesas tenham crescido, a receita — estimulada por essas despesas — mais do que compensaram.

O custo médio mensal de atendimento dos clientes se manteve estável no segundo trimestre, em US$ 0,8, mas a receita média mensal por cliente ativo (ARPAC) cresceu 95%, para US$ 7,8. 

Na cotação do dia 30 de junho, o montante é equivalente a R$ 41. No segundo trimestre deste ano, o Banco Inter (INBR31) teve um ARPAC de R$ 32, queda em relação ao primeiro trimestre e alta de 16% em um ano. 

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Os clientes ativos, aqueles que geraram receita nos últimos 30 dias, já são 80% (52 milhões). O carro-chefe do Nubank continua sendo o cartão de crédito, mas o crédito pessoal já abarca cerca de quatro milhões de clientes. E o Nubank não tem vergonha de cobrar juros como bancão. 

Segundo dados do Banco Central, entre julho e agosto o Nubank praticou uma taxa de juros de 87,47% ao ano no crédito pessoal não consignado, acima de Banco do Brasil (64,80%), Itaú (63%) e até do Inter (27,94%).

Nubank vê inadimplência subir como bancão

No caminho de se tornar cada vez mais bancão, o Nubank tem ajustado as pontas para não sofrer tanto com a concessão de crédito, que é o core business dos grandes players do setor. 

O grosso da carteira de crédito pode ser mensurada pelo portfólio total sujeito ao ganho de juros, e terminou o segundo trimestre em US$ 3,2 bilhões, avanço 220% desconsiderando o efeito cambial. 

A qualidade de crédito do Nubank é similar à do Bradesco (BBDC4), por exemplo. O índice de inadimplência total de 15 a 90 dias é de 3,7%, enquanto o banco tem uma taxa de 3,6%. 

Já na inadimplência acima de 90 dias a diferença é maior. A taxa do Nubank é de 4,1%, enquanto que o Bradesco tem um índice de 3,5%. Ambas as instituições têm diminuído a qualidade de crédito no mesmo patamar desde o segundo trimestre deste ano. 

Vale ressaltar, entretanto, que a fintech colocou em prática uma nova modalidade de baixa para alinhar o crédito pessoal com a expectativa de recuperação de acordo, seguindo o IFRS. A baixa de empréstimos pessoais caiu de 360 dias para 120, enquanto o cartão de crédito se manteve em 360 dias. Na metodologia antiga, o índice de inadimplência teria subido mais.

Vale ressaltar, porém, que o montante equivale a apenas uma fração da carteira de crédito do Bradesco, que tem um portfólio de R$ 855,4 bilhões. 

Como a inadimplência ficou dentro do esperado pela gestão da fintech, as despesas com provisões também não sofreram grandes solavancos. 

As despesas com provisão para perdas de crédito permaneceram estáveis em relação à carteira de crédito, em 3%. Mas, como a carteira cresceu, as despesas acabaram pesando no resultado.

No segundo trimestre, as despesas com provisão saltaram de US$ 82,66 milhões para US$ 338,49 milhões em um ano. 

Vale ficar de olho no saldo de provisões, que cresceu apenas 15,5% em 12 meses, para US$ 968 milhões. Dado o crescimento da carteira, a cobertura da companhia sobre a carteira de crédito diminuiu. 

O Nubank tem uma qualidade de crédito potencialmente pior do que os grandes bancos, já que está muito concentrada em cartão de crédito, portanto com poucas garantias, em uma massa de clientes ainda pouco capitalizados. 

Lucro questionável remete à discussões passadas

O lucro líquido da companhia é, novamente, alvo de discussão do mercado. De forma ajustada, o resultado líquido da fintech foi de US$ 17 milhões, em linha com os US$ 17,2 milhões do primeiro trimestre e alta de 65% em um ano. 

A fintech prioriza essa linha do balanço em função de dois efeitos, um não recorrente e outro contábil.

O primeiro diz respeito ao pagamento da remuneração em ações a executivos. Em seguida, também pesa sobre o resultado os efeitos de hedge contábil sobre o imposto de renda e contribuição social sem efeito caixa que se relacionam ao pagamento em ações.

Sem esses efeitos, ou seja, se a empresa não precisasse desembolsar os recursos dessa forma, o prejuízo seria de US$ 29,9 milhões, quase o dobro do reportado um ano atrás.

O mercado e a fintech voltam seus olhos para o resultado ajustado porque a remuneração em ações e efeitos contábeis relacionados a esse encargo não refletem o desempenho operacional e financeiro da companhia no período. O que é verdade.

Porém, o modelo de negócio do Nubank foi concebido neste formato, com o objetivo de reter talentos e remunerar acima do mercado. O que não deveria ser recorrente tem aparecido com recorrência nos números do banco. 

Em abril deste ano, após a divulgação dos formulários de referência pelas companhias listadas na Bolsa, chamou atenção o fato de que o Nubank prevê gastar R$ 804 milhões neste ano com a remuneração de sua diretoria – quase o dobro do Itaú (ITUB4). 

A execução do Nubank tem sido bem feita e a promessa de crescimento, entregue. Porém, o custo disso é um ROE (retorno sobre capital) ainda nulo em relação ao restante do mercado, dado o lucro ínfimo em relação aos pares.

O principal desafio do Nubank agora será lidar com o risco de crédito com o qual está se metendo – afinal, a procura parece ser, mesmo, se tornar rentável como um bancão.

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