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Por que o Itaú (ITUB4) cortou as taxas de corretagens num momento de mudança no mercado?

Maior banco do Hemisfério Sul zerou, a partir desta quinta-feira (6), as taxas de uma série de produtos ligados a investimentos

Foto: Shutterstock

(Esta matéria foi alterada às 16h46 do dia 06/10/2022 para a alteração da nomenclatura, de agentes autônomos para especialistas em investimentos)

Como diria um personagem do filme Tropa de Elite, lançado em 2007, “o morro está muito tranquilo”. Estava. Após um bom tempo sem grandes novidades no mercado de investimentos brasileiro, especificamente voltado ao público de varejo, o Itaú (ITUB4) resolveu se mexer.

O maior banco do Hemisfério Sul zerou, a partir desta quinta-feira (6), as taxas de corretagens para uma série de produtos ligados a investimentos em suas plataformas, isto é, a Itaú Corretora ou aplicativo Íon.

A informação foi divulgada inicialmente pelo Broadcast, do jornal o Estado de S.Paulo, e revelada nas redes sociais pela instituição nesta manhã.

Os custos deixaram de ser cobrados em ações, ETFs (fundos de índice), BDRs (Brazilian Depositary Receipts) e opções para os clientes que utilizarem as plataformas. Até ontem, o banco cobrava R$ 4,90 por ordem (para day trade, o valor era de R$ 2,90).

Se os investimentos forem realizados por meio das mesas de operação ou telefone, as taxas continuarão a ser cobradas – o que mostra que o foco é exclusivamente a demanda vinda do varejo.

O movimento pode ser considerado agressivo se observado sob o viés de outros grandes players do setor. BTG Pactual (BPAC11) e XP Inc., mais voltados ao mercado de capitais, cobram corretagens.

No BTG, o custo de corretagem começa em R$ 4,50 por ordem, podendo custar R$ 0,25, a depender da quantidade de ordens. Na fintech fundada por Guilherme Benchimol, os custos operacionais são os mesmos que o Itaú cobrava. Ambas têm custo zero em negociação de fundos imobiliários.

Vale ressaltar que a XP também tem dentro de seu grupo as corretoras Clear e Rico, que não cobram corretagem há bastante tempo.

Fato é que se trata de um movimento inédito por parte do Itaú, e ocorre em um momento de possível mudança dos rumos do mercado brasileiro de capitais.

O ciclo de alta da taxa de juros, iniciado pelo BC (Banco Central) há quase dois anos e que tirou a atratividade dos ativos de risco no país, chegou ao fim e o mercado já prevê um corte de juros no ano que vem.

Em julho de 2016, a Bolsa brasileira registrava 564,52 mil investidores únicos, quando a Selic estava em 14,25%.

Até o fim de 2019 (antes da chegada da pandemia, quando o BC foi forçado a cortar ainda mais a taxa de juros), o número de investidores na Bolsa cresceu para 1,66 milhão.

De lá para cá, a Bolsa chegou a cerca de 5,5 milhões de contas abertas, mesmo com o processo de contração monetária no Brasil e no mundo.

Dito isso, a conclusão é a seguinte. O mercado de Bolsa no Brasil é inegavelmente mais desenvolvido do que há seis anos, quando as taxas de juros estavam em patamar similar aos 13,75% atuais, e a tendência de corte de juros inevitavelmente carrega mais investidores ao mercado de risco, já que o custo de oportunidade é baixo.

O Itaú, além de contra-atacar os grandes players que chamam atenção dos investidores de varejo, procura se antecipar a esse processo e angariar contas para suas plataformas. O desafio, a partir daí, será monetizar os potenciais novos investidores, visto que certa receita deixará de entrar.

Quanto o Itaú perde

Ao anunciar os cortes nas corretagens, o Itaú não deu grandes informações acerca de quanto abre mão em termos de receita.

As taxas cobradas nesses tipos de negociação na Bolsa entram na conta como prestação de serviços para o banco. Em assessoria econômico-financeira e corretagem, o Itaú dá mais importância às operações e aos volumes com assessorias de transações no mercado de capitais.

De toda forma, essa linha, que leva em conta as corretagens, foi de R$ 997 milhões no segundo trimestre deste ano, alta de 30,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Destacam-se os volumes originados em operações de renda fixa, além de fusões e aquisições.

Ainda que as corretagens para os investidores de varejo entrem aqui, o montante total equivale apenas a 8,1% do resultado de serviços e seguros (com base no intervalo entre julho e setembro deste ano), que atingiu R$ 12,26 bilhões.

O grosso da receita neste segmento vem de cartões de crédito e débito, principalmente em adquirência (na figura da Rede) e um pouco menos em emissão.

A perda de receita com as corretagens cobradas em ordens realizadas por investidores que não utilizam a mesa de negociações deve ser apenas uma pequena fração do que o Itaú terá de potencial ao agregar novos investidores a suas plataformas, com o oferecimento de novos produtos e serviços.

De acordo com a consultoria Sensor Tower, que acompanha informações das lojas de aplicativos, o Íon teve em agosto 1 milhão de downloads. O número é maior do que a Ágora, do concorrente Bradesco (BBDC4).

Dinâmica do mercado

O ano de 2022 começou agitado para o Itaú, que comprou a corretora Ideal logo nos primeiros dias de janeiro. A corretora, fundada em 2019, foi líder do mercado em volume de contratos de derivativos e atuava junto a grandes clientes institucionais.

Essa foi a primeira aquisição do CEO Milton Maluhy Filho, onde o Itaú enxergou uma oportunidade de diversificação dos negócios com um modelo mais flexível, podendo expandir sua oferta de produtos.

O Itaú pagou R$ 650 milhões por 50,1% da corretora. Em 2027, a instituição poderá assumir o restante da Ideal. Diferentemente da XP em 2017, quando o banco também tinha a preferência pela compra restante, a instituição já tratou de tomar o controle da adquirida.

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O Itaú também já zerou as corretagens de ETFs geridos pela sua própria Asset, lançou escritórios de especialistas em investimentos, que têm parte da remuneração atrelada ao desempenho das carteiras dos clientes, para fazer frente ao BTG e fechou a compra da Avenue, que tem levado investidores brasileiros aos Estados Unidos.

Com o reaquecimento esperado para o mercado de capitais, inclusive através da volta dos IPOs (oferta pública inicial de ações) a partir de 2023, o Itaú tem se colocado no meio da rota para interceptar essa nova fase de crescimento.

Quando a Bolsa caiu nas graças do público de varejo, entre 2018 e 2020, o banco ainda era arcaico em relação aos produtos, serviços e experiências destes clientes em específico, abrindo espaço para fintechs, bancos digitais e corretoras que se diferenciavam justamente pela corretagem zerada.

A dinâmica do mercado agora mostra os grandes mais bem posicionados e os incumbentes lutando por rentabilidade e monetização dos usuários.

O core business de um banco é captar recursos pagando pouco e emprestar esses recursos, ganhando na diferença. O Itaú, que elevou as previsões de resultado nesse quesito, não depende das corretagens que acaba de zerar – ao passo que os bancos de investimento e fintechs, ora lidam para continuar crescendo, ora lutam contra os riscos de calote.

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