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Compass (PASS3) assume Gaspetro e reforça tese do gigante IPO que falhou

O negócio foi fechado em julho de 2021, por R$ 2,03 bilhões

Foto: Shutterstock

Com votação apertada, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou sem restrições a compra da Gaspetro pela Compass (PASS3). A empresa integrante da holding Cosan (CSAN3) acrescenta mais um nome em sua proposta de consolidação do setor.

A autorização, que confirma o negócio anunciado em 2021 por R$ 2,03 bilhões para a compra da fatia de 51% da Petrobras (PETR4) na Gaspetro pela Compass, é mais um passo da autarquia federal e da estatal petroleira para a abertura do mercado de gás natural. 

Em março, a Compass anunciou que venderia alguns ativos da Gaspetro – algo que certamente foi levado em consideração pelo Cade, já que a companhia já possui alta relevância no setor.

Criada em 2020 pela Cosan, a Compass atua no setor de gás e energia. Ela é controladora da Comgás, maior distribuidora de gás no Brasil, cobrindo 2,1 milhões de clientes em 94 municípios de São Paulo. São cerca de 19 mil quilômetros de rede instalada.

De acordo com a controlada da Cosan, a alienação dos ativos aconteceria em até 11 empresas em que a Gaspetro possui participação minoritária, como Compagás e Ceg-Rio, que atuam em praças diferentes à paulista. 

Gaspetro: investindo para crescer

Na prática, a Gaspetro estava à venda desde 2019, quando a Petrobras assinou um TCC (Termo de Compromisso e Cessação) com o Cade para promover a concorrência no setor de gás natural no Brasil.

O intuito seria proteger as condições de competição no setor, incentivando a entrada de novos agentes no mercado, o que em última instância poderia ampliar o alcance à população, assim como diminuir os preços praticados.

O medo de concentração do mercado foi um dos pontos avaliados pela autarquia para que o negócio com a Compass não saísse do papel, afinal, poderia concentrar ainda mais o setor. 

Em março deste ano, um parecer do Cade aprovou a operação, mas sujeitando o negócio à conclusão do processo que analisava o TCC assinado há três anos. Ontem, o veredito foi positivo e, na visão do Cade, não há risco para a concorrência do setor.

A Gaspetro, em essência, é uma empresa de participações e não atua de forma operacional no mercado. Ela possui fatias societárias em 19 distribuidoras de gás natural em todo o Brasil.

No primeiro trimestre deste ano, a empresa registrou uma receita líquida de R$ 253,75 milhões, avanço de 98,4% em comparação ao mesmo período de 2021. Mesmo com o aumento do CPV (custo dos produtos vendidos), que mais do que dobrou no intervalo, a companhia conseguiu apresentar sólido resultado.

O resultado de participações em investimentos nas minoritárias trouxe um resultado de R$ 83,58 milhões. O lucro líquido da empresa foi de R$ 148,78 milhões, crescimento de 52,2% em 12 meses.

De acordo com o balanço divulgado pela Petrobras, a empresa ainda teve fluxo de caixa operacional negativo no período, na ordem de R$ 22,47 milhões. Isso significa que o negócio da Gaspetro consumiu recursos líquidos gerados pela operação.

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Isso se traduz no consumo de R$ 31,71 milhões do caixa da empresa no período, que encerrou março com R$ 40,50 milhões em disponibilidades. 

A empresa tem procurado investir para aumentar a operação de suas investidas. Entre janeiro e março, foram aplicados R$ 7,34 milhões na aquisição de ativos imobilizados e intangíveis. 

Mas, ao mesmo tempo, também recebeu R$ 56,93 milhões pela venda de ativos no período, o que demonstra certa velocidade no giro dos ativos.

Compass: o que esperar

O guidance (projeções corporativas) da Compass para este ano estima um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) entre R$ 3 bilhões e R$ 3,3 bilhões. Esse montante, contudo, não inclui os números da Gaspetro. 

A fins de mensuração, o Ebitda da Gaspetro em 2021 foi de R$ 567,14 milhões, cerca de 17% do topo esperado para o resultado da Compass neste ano. 

O montante total, porém, não vai ser inserido automaticamente no balanço da Compass já que haverá a venda dos ativos, e há pouca informação sobre esse processo até o momento.

Além disso, vale ressaltar que a Compass controlará 51% da Gaspetro, com o restante ficando nas mãos da Mitsui. A japonesa comprou 49% da empresa pagando R$ 1,93 bilhão à Petrobras, em 2015.

Porém, o que “sobrar” da Gaspetro para a Compass, com as sinergias operacionais e administrativas viáveis no negócio, pode impulsionar a atividade da controlada da Cosan – sobretudo porque é uma operação em crescimento. Entre 2021 e 2020, o Ebitda da Gaspetro cresceu 74,2%. 

Agora, a Compass fortalece ainda mais sua posição premium no setor de gás e energia. A empresa visa se transformar na maior plataforma privada de gerenciamento de gás do Brasil, e com essa tese procurou abrir capital na Bolsa, em 2020.

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A empresa não conseguiu encontrar demanda com base no preço que pedia, que levaria o IPO para a casa dos R$ 5 bilhões. Após o IPO, a empresa seria avaliada em R$ 25 bilhões na B3. 

A Cosan até aceitou abaixar o preço, colocando a companhia num intervalo entre R$ 16 bilhões e R$ 19 bilhões, mas ainda assim não encontrou interessados. 

Naquele ano, o Ebitda da empresa somou R$ 2,18 bilhões. Já em 2021, o resultado operacional da empresa atingiu R$ 2,53 bilhões. Anualizando o Ebitda do primeiro trimestre deste ano, a companhia atingiria a marca de R$ 2,81 bilhões ao fim de 2022.

O crescimento, por mais que não seja altamente acelerado, está sendo reportado pela empresa – assim como prometia na época do IPO. O preço, todavia, ainda parece estar salgado, levando em consideração os valores desejados em 2020 e o resultado atual.

De dimensões continentais, o Brasil demanda investimentos e empresas dispostas a desenvolver o mercado de gás e energia. A Compass é um veículo para que isso aconteça, e ora ou outra a chegada ao mercado de capitais acontecerá – nem que seja por vontade da Cosan em destravar valor por meio de sua fatia.

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