As ações da Cielo (CIEL3) lideram o Ibovespa nesta terça-feira (28), com alta de mais de 5%, saltando para cerca de R$ 2,30. Os papéis da líder do setor de maquininhas no Brasil acompanham o movimento de recuperação do varejo no Brasil.
Segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), as vendas do varejo no Natal deste ano cresceram 11,1% em comparação ao mesmo período de 2020.
A apuração ocorreu entre 19 e 25 de dezembro e mostraram que o varejo online foi o maior responsável pelo avanço, com alta de 38,6%, ao passo que as lojas físicas cresceram 8,8%, segundo a companhia.
Os dados vêm à tona após a última divulgação do ICVA, referente à Black Friday, que reportou um avanço de 6,9% em 12 meses, por mais que tenha representado um movimento negativo em relação a 2019.
Outros dados também têm um viés positivo. A Neotrust, empresa de inteligência de mercado, informou que houve um avanço de 7,5% no e-commerce no período natalino deste ano em relação a 2020, descontando a inflação do período. Acima das expectativas.
O movimento positivo das vendas de fim de ano também impulsionou as ações das varejistas no pregão de ontem, embora as perdas acumuladas em 2021 ainda sejam relevantes.
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Com isso, os motivos para o ânimo são diversos e representam um alento à empresa controlada por Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3).
No segundo trimestre deste ano, o uso de instrumentos de pagamento cresceu 11%, sendo que o pagamento com cartões representou 54% das transações sem dinheiro em espécie.
Além disso, as expectativas para a inflação deste ano começam a se acomodar. O Boletim Focus, divulgado ontem, mostra que os analistas esperam uma inflação de 10,02% em 2021, ante a projeção anterior de 10,04%. Para o ano que vem, contudo, a estimativa ainda segue acima da meta.
Não obstante, o mercado de trabalho começa a se aquecer. A taxa de desemprego recuou para 12,1% no trimestre encerrado em outubro, sexta baixa consecutiva e um patamar abaixo do esperado por especialistas.
Os desafios, porém, ainda são grandes em um setor cada vez mais complicado.
Segmento agressivo em eterno re-rating
Por muito tempo, a Cielo e a Rede (incorporada pelo Itaú em 2012) nadaram de braçada no mercado de maquininhas. Com rentabilidade alta, as empresas não viram a concorrência chegar.
Segundo dados das empresas, Cielo e Rede tinham cerca de 47% e 32% de market share do segmento em 2016. Essas fatias caíram para 30% e 24% ao fim de 2020.
A chegada de players como Stone, PagSeguro, Mercado Pago, Safra e diversos outros têm pressionado as ações de todas, sem exceção.
A Stone, por exemplo, tombou 33% na Nasdaq após a divulgação do resultado do terceiro trimestre deste ano, banhado a aumento de custos e queda do lucro em meio a problemas com a operação de crédito.
O re-rating do segmento continua em alta velocidade, e parece não estar perto do fim, com o mercado ajustando suas posições e perspectivas.
Mesmo com toda a volatilidade deste ano, a Stone ainda vale 4,5 vezes mais que a Cielo, mesmo tendo menos da metade da participação de mercado.
A Cielo nunca será a mesma
A visão do mercado, porém, é de que ainda há muito espaço para desenvolvimento. O setor de maquininhas é um real mar de oportunidades, mas que afoga quem não está preparado para enfrentar a concorrência.
Na prática, trata-se de um negócio com margens apertadas, de guerra de tarifas baixas e concessões, que prejudicam o retorno sobre capital investido.
Nem o terceiro trimestre mais positivo do que o esperado fez as ações da Cielo se recuperarem. No período entre julho e setembro deste ano, o lucro da empresa mais do que dobrou em 12 meses, para R$ 211,9 milhões. Ainda mais positivo, os gastos totais recuaram 3,9%.
No acumulado de 2021, os papéis da empresa ainda caem 45%. Nos últimos cinco anos, quase 90% de baixa. Os fantásticos indicadores registrados no início da última década ficarão nos livros de história.
Histórico de queda do Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) da Cielo

Dinheiro no bolso em afago
Os investidores da Cielo têm mais um motivo para enxergarem uma luz no fim do túnel.
Além da possível recuperação à espreita, a companhia informou na fim da última semana que pagará juros sobre capital próprio (JCP) na ordem de R$ 235,7 milhões.
Os JCPs serão pagos aos acionistas no dia 11 de fevereiro, com base na posição acionária ao fim do pregão da próxima quarta-feira (29). O valor líquido por ação é de R$ 0,0872, perfazendo um rendimento de 3,8% sobre a cotação atual.
Neste pregão, a corrida também vem à procura dos recursos da empresa, que nunca deixou de pagar dividendos. Após um período de queda, os pagamentos voltaram a crescer neste ano.
DY da Cielo se recuperou em 2021

Vale a pena investir na Cielo?
Os especialistas que acompanham a Cielo se dividem quanto à possibilidade de adquirir as ações da companhia neste momento.
Dados compilados pelo Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, apontam para 14 recomendações. Destas, apenas uma é de compra, enquanto 11 são de manutenção dos papéis e duas de venda.
No melhor dos casos, os analistas enxergam que as ações da Cielo valem R$ 5,80, o que significa que as ações poderiam subir mais de 150% do ponto atual. Na pior das visões, a ação da empresa vale apenas R$ 2.
A disparidade das recomendações acompanha a volatilidade dos papéis da Cielo em Bolsa, deixando os investidores com uma pulga atrás da orelha.