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A guerra das maquininhas que não tem fim: Stone (STOC31) desaponta em custos, lucro tomba e ações despencam 33%

No segundo trimestre, a Stone mostrou prejuízo. Já no terceiro, o lucro tombou pela metade e trouxe dúvidas sobre custos e preços praticados

Foto: Divulgação

Quando a Cielo (CIEL3) nadava de braçada no mercado de maquininhas, até a metade da última década, poucos achavam que a rentabilidade da companhia cairia a ponto de fazer suas ações tombarem 92% desde então. Aconteceu, e um dos pivôs da transformação estrutural do segmento no Brasil foi a Stone (STOC31). 

Com o processo de queda da taxa de juros — fazendo com que o funding se tornasse mais acessível — a e abertura do mercado, a Stone apareceu com uma solução disruptiva e mais barata aos clientes.

O sucesso foi tamanho que fez a empresa abrir capital nos Estados Unidos, alcançando múltiplos exorbitantes. Mas a conjuntura mudou de rumo. 

A Selic em alta e a amplitude de players do mercado têm pressionado os custos da empresa, que mais uma vez decepcionou em seu balanço. 

No segundo trimestre, a companhia mostrou prejuízo em função de uma operação de crédito. Já no terceiro trimestre, o lucro líquido da Stone somou R$ 132,7 milhões, uma queda de 53,9% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado na última terça-feira (16). 

O receio com o desempenho da empresa, somado à percepção de que o valuation pode convergir para as médias do setor, derrubou as ações nesta quarta. 

As stocks, negociadas na Nasdaq, despencaram 33,43%, para US$ 20,75. Os BDRs (STOC31) acompanharam, tombando 33,43%, para R$ 114,50.

Somente na sessão de hoje, a companhia perdeu US$ 2,85 bilhões (R$ 15,76 bilhões) em valor de mercado. O que esse resultado do terceiro trimestre representa e o que esperar daqui para frente?

Desempenho das ações de Stone, PagSeguro e Cielo nos últimos 12 meses

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Setor agressivo não perdoa múltiplos altos

Nos últimos anos, o setor de maquininhas tem se mostrado um real mar de oportunidades, mas que afoga quem não está preparado para combater a concorrência acirrada de forma saudável.

Em suma, por conta da competição agressiva, é um segmento com margens pressionadas, o que prejudica o retorno sobre o capital investido.

Ao listar-se na Nasdaq, a Stone foi precificada como uma empresa de tecnologia. O valuation, com isso, foi favorável à tese da empresa — o que parece não ser condizente com a entrega em um cenário diferente, três anos depois.  

Dado o processo de redução da liquidez mundial, pressionada por uma política monetária menos acomodatícia, as ações de empresas com estas características sofreram nos últimos meses, e com a Stone não foi diferente.

Mesmo assim, o mercado não enxerga downside

De acordo com informações compiladas pela Refinitiv, disponíveis na plataforma do TradeMap, são 16 analistas que acompanham as stocks da empresa. As recomendações de compra somam 11, enquanto cinco indicam a manutenção dos papéis.  

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

A reação negativa ao resultado da Stone pesou sobre as cotações de todo o setor. As ações da Cielo caíram 3,46%; da Getnet (GETT11), tombaram 5,77%; enquanto a PagSeguro recuou 9,55% na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). 

Foto do trimestre

(EM MILHÕES) 3T21 3T20 VARIAÇÃO
RECEITA TOTAL R$ 1.469,6 R$ 934,3 +57,3%
DESPESAS ADMINISTRATIVAS R$ 358,8 R$ 106,2 +238,9%
DESPESAS FINANCEIRAS R$ 330,7 R$ 64,7 +411,3%
LUCRO R$ 132,7 R$ 287,9 -53,9%

Receita inflada por aquisição e dificuldade com preços

No terceiro trimestre deste ano, a receita líquida da Stone subiu 57,3%, para R$ 1,49 bilhão. O montante, porém, foi elevado pelos números da Linx, comprada no fim do ano passado. Esse foi o primeiro trimestre com os balanços consolidados — sem a Linx, a receita teria crescido 29% em 12 meses.

O lucro líquido, que caiu pela metade, não considera o aporte que a companhia fez no Inter (BIDI4). O banco mineiro realizou uma oferta subsequente de ações (follow-on), acompanhada pelo investimento da Stone no valor de até R$ 2,5 bilhões. 

No terceiro trimestre, com a queda das ações do Inter, a Stone perdeu R$ 1,3 bilhão em sua participação na financeira. A perda foi marcada a mercado. 

Mas o principal entrave do período, precificado nas ações no pregão de hoje, partiu das despesas financeiras, que somaram R$ 330,7 milhões (+411,3% na comparação anual). 

Na justificativa da empresa, os maiores problemas foram relacionados aos volumes mais elevados de pré-pagamento, aumento da taxa de juros, prejudicando a captação, e crescimento dos custos vinculados ao seu bond.

O forte ciclo de alta da taxa básica de juros da economia (Selic), que saiu de 2% para 7,75% — e que já vislumbra os dois dígitos –, aumentou o custo de funding da companhia. 

O mundo inteiro discute o aumento da taxa de juros. Nos Estados Unidos, por exemplo, a discussão sobre a elevação voltou à pauta antes do esperado, ao passo que os estímulos monetários serão enxugados nos próximos meses. Na prática, ficou mais caro crescer. 

De outro lado, o take rate, percentual de comissão sobre as transações realizadas pela Stone, se mostrou pressionado. No segmento de pequenas e médias empresas (PMEs), a taxa caiu de 1,79% no período entre abril e junho, para 1,67% no trimestre subsequente.

No caso das grandes empresas, as chamadas key accounts, a taxa da Stone se aproxima de zero, ao sair de 0,76% para 0,62% na relação trimestral.

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